sexta-feira, 13 de março de 2009

frost/ nixon: o amadurecimento de um diretor

Quando terminou o filme, eu tinha apenas uma coisa em mente: arrependimento. Em minhas listas pré-Oscar, eu falava mal de Ron Howard e seu Frost/Nixon. Dizia que a Academia só iria colocá-lo em filme e direção simplesmente por gostar do diretor - o que parcialmente é verdade -, ignorando o fato de que seu projeto poderia ser bom ou muito bom - afinal, estamos falando de um diretor extremamente irregular. No momento dos créditos finais lembrei que foi ele quem havia conduzido toda a produção, foi aí que me dei conta do que acabei de ver: um dos melhores filmes do ano de 2008.

Não só um dos melhores filmes que foi lançado em 2008, mas também uma produção com uma luta tão ou mais empolgante que aquelas de Touro Indomável ou até mesmo as mostradas em O Lutador, porém aqui um pouco mais interessante: com palavras. E só de pensar que Ron Howard amadureceu tanto para Frost/Nixon é um sinal de que as coisas não estão tão fora de controle como achamos - quem sabe Obama não levantou sua auto-estima? Brincadeiras a parte, é aqui que ele se mostra completamente com controle de cada cena, dirige tão bem seus atores, nunca deixando alguém se exaltar demais, e todas as performances são dignas de elogios.

E os nossos assistentes dos oponentes: Oliver Platt brilha como um dos assistantes de Frost, principalmente nas cenas em que ele imagina as respostas do (ex) presidente Nixon, além é claro de já entrar em cena energético. Outro que merece aplausos é Kevin Bacon, por nunca se alarmar demais ou entrar de canto em alguma cena. Com seu personagem equilibrado, porém sério e por vezes até incômodo, ele surpreende pela seriedade. Enquanto isso, Sam Rockwell se envolve lentamente, crescendo junto a Frost e suas entrevistas. É um personagem eufórico, que vai se revelando muito mais importante do que parece.

Enfim, após os assistentes, está na hora de apresentar os nossos lutadores da noite, começando com o entrevistador David Frost. Interpretado pelo brilhante Michael Sheen - o Tony Blair de A Rainha -, David Frost é um homem solitário e divertido, mas que tem uma vontade enorme de voltar aos holofotes e acha que voltando aos Estados Unidos pode conseguir isso facilmente. Talvez este seja o principal motivo para guiá-lo através do Oceano Atlântico e tentar uma entrevista com o presidente Richar Nixon, que acaba de anunciar o seu afastamento do cargo. Presidente esse que é acusado do envolvimento em escândalos, além de continuar com a inútil guerra do Vietnã. Porém, Frank Langella vai além. Sua composição como o presidente é perfeita, o grande trunfo no filme de Howard. Um homem que sofre ainda com as marcas do passado, mas que nunca abandona seu orgulho, ainda divide o mesmo objetivo com seu adversário: ele quer voltar a brilhar, sob os holofotes. No entanto, cada detalhe, cada mania que Langella introduz em seu Nixon ele retoma no momento certo. Sua construção de personagem - e ainda bem que o roteiro de Peter Morgan dê espaço a isso - é perfeita, uma das melhores do ano passado, sem dúvidas. Se Langella demorou tanto tempo para ter um papel à sua altura, valeu a pena esperar.

Como também valeu a pena esperar por um filme de peso dirigido por Howard. Seu domínio sobre a câmera tem um timing perfeito, tal como a ótima montagem e a empolgante trilha-sonora. Sensível quando necessário e arrebatador durante boa parte da projeção, é assim que se resume Frost/Nixon, um dos melhores filmes do ano de 2008 nos Estados Unidos - e um dos melhores deste iníciozinho de 2009, aqui no Brasil.

P.S.: Será que esse foi um pedido de desculpas antecipado de Howard por Anjos e Demônios?

Frost/Nixon
Frost/Nixon, 2008
Direção: Ron Howard. Roteiro Adaptado: Peter Morgan. Elenco: Charlie Sheen, Frank Langella, Kevin Bacon, Oliver Platt, Rebecca Hall, Sam Rockwell, Matthew Macfadyen e Toby Jones.

3 comentários:

- cleber . disse...

Eu estou esperando demais, por Anjos & Demonios, e eu também achava que Howard ia escorregar de novo, mas não foram poucos, foram muitos que falaram que o Howard ia fazer um filme ralo, e olha ai - um dos melhores filmes do ano, e uma direção muito mais que competente!

Wallace Andrioli Guedes disse...

Ao lado de Milk, Frost/Nixon é o filme dessa safra do Oscar que mais quero assistir ... e, pelo que ando lendo, parece que são justamente os dois melhores.
Nunca achei o Ron Howard tão ruim, apenas acadêmico demais. Gosto de Uma Mente Brilhante e de O Código Da Vinci (ok, pode me apedrejar agora ... rsrsrssrs), do qual não gosto do livro. Mas é bom ver que, pelo jeito, ele tá crescendo, finalmente, como diretor.

Caio Coletti disse...

"Frost/Nixon". Só pelo trailer eu já imaginei um filme empolgante pelo roteiro, exatamente por essa luta de palavras que você tanto falou em sua crítica. Ron Howard sempre foi um diretor acadêmicos demais para ousar, e eacho que foi nesse ponto que ele acertou nessa nova realização. Não duvido que seja um dos melhores do ano, afinal a própria premissa ajuda, um episódio marcante na história americana como o Watergate. Frank Langella sempre foi um grande ator. Mas ainda espero por "Anjos & Demônios", pelo menos o mullet Tom Hanks tirou!

Abraços
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