quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Guerra ao Terror



Muito tem se discutido sobre o fato de as distribuidoras brasileiras terem lançado Guerra ao Terror diretamente em DVD, logo no início do ano. Foi uma decisão incoerente, uma vez que o filme era elogiado por críticos internacionalmente, sendo desde a época de seu lançamento cotado para premiações e, inclusive, ao Oscar. Estampado logo na capa do DVD nacional, haviam os nomes de Guy Pierce, Ralph Fiennes, Evangeline Lilly e David Morse - os quatro atores não devem somar nem 30 minutos de aparição, juntos. O medo do fracasso por parte das distribuidoras era tão grande, que meses após o seu lançamento, decidiram lançá-lo nos cinemas.

É uma pena que o longa não teve uma publicidade maior nesse ano aqui no Brasil. Talvez o filme definitivo sobre a Guerra do Terror, é uma obra, no mínimo, tensa e impactante. Desde os minutos iniciais, a diretora Kathryn Bigelow nos confere a tensão do clima de guerra, em uma experiência técnica que foge dos padrões, elevando as cenas em um patamar ainda maior do que o que nos acostumamos. A habilidade com que a diretora filma, utilizando o recurso arriscado da "câmera na mão", é pura técnica. São cortes longos, zooms fechados e bem construídos, sem nunca perder o foco no que realmente importa nesse filme: a complexidade de seus personagens.

Jeremy Renner interpreta a figura mais complexa do longa. Um homem arrogante, que ignora as ordens dos superiores, mas que com o decorrer da produção nos revela humanidade, algo que Renner constrói com dignidade e fidelidade à história. E se o sargento James de Renner não parece nem um preocupado em voltar a sua cidade, o Sanborn do ator Anthony Mackie só pensa nos dias que restam para a sua unidade partir do Iraque. Mackie não se destaca, mas ganha o carisma do espectador, que compreende a vontade daquele homem em retornar para casa, no medo de nunca ter um filho, deperder tudo na guerra.

E se James não gosta de ficar longe da ação o tempo todo, o mesmo não pode ser dito de Sanborn. É essa dualidade de personalidades que os personagens têm de enfrentar nas duas horas de filme. Não há diálogos totalmente inspirados (embora há algumas sacadas muito boas), dando lugarr a um estudo de personagens, da relação que eles têm com a guerra. De como eles acabam se influenciando por aquele meio, das paranóias de que um civil pode explodir a qualquer momento. Não há um certo ou o errado. Em nenhum momento os terroristas são vistos como os verdadeiros inimigos por ali. O único inimigo dos soldados é a guerra.

Guerra ao Terror
The Hurt Locker, 2009
Direção: Kathryn Bigelow. Roteiro: Mark Boal. Elenco: Jeremy Renner, Anthony Mackie, Brian Geraghty, Guy Pierce, Evangeline Lilly, Ralph Fiennes e David Morse.

4 comentários:

Wallace Andrioli Guedes disse...

HURT LOCKER é foda, é uma pequena obra-prima, é, como disse James Cameron, o PLATOON da Guerra do Iraque. E vai, merecidamente, ganhar o Oscar de melhor filme e direção. E os favoritos a melhor ator que tomem cuidado com o Renner, porque ele está excepcional, e pode surpreender...

Vinícius P. disse...

Esse filme de guerra funcionou especialmente bem para mim por mostrar aquilo que realmente importa, sem adicionar sentimentalismos bobos à trama. Sem dúvida um trabalho que merece algum reconhecimento, em especial pelo trabalho da Bigelow.

Roberto Simões disse...

Mais uma excelente nota. Tenho a dizer, Diego, que ainda não vi o filme. Mas o favoritismo que se levantou à sua volta suscitou em mim uma incontornável curiosidade.

Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema

Alyson Santos disse...

Já está na lista dos atrazados para conferir e realmente parece ser muito bom. Gosto do estilo e os elogios só comprovam o que eu já espero.

E Diego, seu blog foi escolhido pela para participar da Bancada da segunda edição do TOP30 do "Cine ao Cubo", graças ao seu acompanhamento constante no ano, além do discernimento da sua avaliação. Espero que acompanhe a divulgação, passe por lá para ver como funciona. Grato!

Grande Abraço!