sábado, 27 de setembro de 2008

Ser-Humano

"A natureza fez o homem feliz e bom, mas a sociedade deprava-o e torna-o miserável." (Jean Jacques Rousseau)

Partindo da frase acima, irei falar sobre dois filmes que de uma maneira diferente, abordam o tema a seguir. O primeiro, O Nevoeiro, trata a análise dum jeito irônico e pessimista - não que o próximo longa não seja. Enquanto Ensaio Sobre a Cegueira consegue dar mais profundidade ao tema, inovando também na linguagem cinematográfica. Em suma, os dois filmes tratam de maneiras chocantes o ser humano como ele realmente é, livre das máscaras e das aparências, mostrando como homens civilizados podem voltar ao primitivismo de um jeito assustador.

Nos primeiros minutos de O Nevoeiro, uma tempestade acaba quebrando uma janela da casa dos Drayton. A partir daquele momento, já sabemos que algo está para acontecer. No dia seguinte da tempestade, quando Drayton e seu filho vão até o super-mercado para comprar comida, surge um misterioso nevoeiro que cobre toda a cidade, misteriosamente. Dentro daquele estabelecimento, estão mais outras pessoas, que assim como eles pretendiam encher o estoque da comida. Depois, aqueles personagens acabam descobrindo estarem presos naquele lugar, já que lá fora, no mundo em que eles conheciam, acabam se enchendo de criaturas. A medida que a história prossegue, cada ato feito por qualquer um deles vai tendo um trágico resultado, e aquelas pessoas vão enlouquecendo e a vida em sociedade vai parecer um pouco mais complicado do que parece. De todo o desenvolvimento, surge a pergunta: de quem eles devem temer? Dos montros lá fora ou das próprias pessoas de dentro? O ápice dessa pergunta é quando todos começam a vangloriar a religiosa vivida intensamente por Marcia Gay Harden, que fez algumas "previsões" óbvias - confesso que algumas são assustadoras. Quando ninguém tem mais esperança, a classificam como o próprio oráculo, um profeta, alguém enviado pelo próprio Deus para guiá-los. Além do mais, os personagens clichês estão todos ali: o mocinho; a mulher corajosa; a velhinha do bem. o homem nojento; o garoto que se acha corajoso; enfim, todos ali, mas cada um tem um elemento que o diferencia do resto. Cada personagem se torna importante, cada coisa que eles fazem é fundamental. Resultando num final trágico e que provavelmente pode não agradar muita gente, O Nevoeiro é corajoso, irônico e um absurdo de thriller psicológico. Chegamos a ficar assustados com tamanha complexidade diregida.

Ensaio Sobre a Cegueira tem os elementos da vida em sociedade, porém toca ainda mais profundo na natureza humana. Quando uma estranha cegueira atinge alguns habitantes da cidade, estes são obrigados a ficarem isolados em um lugar abandonado. Aos poucos, as pessoas vão chegando e se ajeitando, assim a população do lugar cresce rapidamente. Apenas uma mulher misteriosamente não é afetada pelo vírus da cegueira, e fica junto de seu marido até o fim. Adaptado do livro de José Saramago, a produção brilha nas mãos de Fernando Meirelles. Contém vida. Para começar, aos poucos aquelas pessoas vão conhecendo homens cruéis, dentre um que se auto-entitula Rei da Ala 3 e começa a cobrar pela comida. A vida em sociedade acaba transformando aqueles cegos em criaturas doentias, malvadas. Porém, a obra extrapola isso e vai um pouco mais além nas próprias relações humanas. A cegueira é facilmente vista como uma metáfora de como as pessoas não vêem as outras. Ou então de que como é importante ter um líder com visão. Em uma das cenas, quando o Rei da Ala 3 faz exigências, um cego comenta com o da frente: "aquele homem só pode ser negro. Ele tem voz de negro". Um diálogo digno de aplausos, já que eu não duvidaria nada se ele não fosse dito na própria realidade. Mergulhado em um tom de branco e cenas incômodas, mas nem por isso belas, o fotografista César Charlone, o montador Daniel Rezendende e o diretor Fernando Meirelles- o mesmo trio responsável também por Cidade de Deus - dão uma bela imagem a Ensaio Sobre a Cegueira, fazendo um constrate assustador da nossa realidade. Para completar, vale destacar a importância que a obra tem de não situar a cidade, nunca sabemos onde ela acontece - exigência do próprio Saramago. Enquanto as falas são em inglês, os rádios falam português, e um misto de tantas raças e de um elenco livre de qualquer preconceito, quebrando as fronteiras e revelando a espécie humana como ela realmente é.

O Nevoeiro
The Mist, 2007
Direção e Roteiro Adaptado: Frank Darabont. Elenco: Thomas Jane, Marcia Gay Harden, Toby Jones e Laurie Holden.

Ensaio Sobre a Cegueira
Blindness, 2008
Direção: Fernando Meirelles. Roteiro Adaptado: Don McKellar Elenco: Juliane Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Danny Glover e Gael Garcia Bernal.


12 comentários:

Trilhas Sonoras do Cinema disse...

Seu blog é ótimo, vc sabe do q fala quando fala de cinema

por isso eu te faço uma proposta de colocar o link do meu blog no seu, enquanto eu coloco o do seu no meu

http://trilhasdocinema.blogspot.com/


Meu blog é sobre Trilhas Sonoras de Filmes, passe lá dar uma olhada

Anônimo disse...

Eu estou totalmente por fora do cinema, mas isso me instigou.
Acho legal as várias maneiras de se trataram do mesmo assunto.
Fernando Meirelles é um ótimo diretor e espero que ele tenha caprichado em "Ensaio..."

Leonardo disse...

Não assisti o nevoeiro.....
Ensaio... é um excelente filme...
Adorei o blog!

Abraços!

Sam Endicott disse...

Boas críticas!
Espero ver esses filmes o quanto antes.

Thyago Blog's disse...

Realmete... Boas críticas!
Também vou ver...

Wallace Andrioli Guedes disse...

Dois filmaços, muito diferentes entre si, mas ao mesmo tempo muito parecidos ... e um ótimo texto o seu !
O Nevoeiro e Ensaio sobre a Cegueira estão entre os melhores do ano até agora, sem dúvidas.

Anônimo disse...

Mas também vc queria o que não é mesmo? Stephen King de um lado e José Saramago do outro o que vc queria que saísse?

Tinha que virar filmaço mesmo. Ah não sei se vale uma sugestão mas se puder falar de V De Vingança eu iria gostar muito. É um dos meus filmes favoritos.

Leo Pinheiro disse...

Adorei 'Ensaio'. Foi um alívio não me decepcionar ao ver na telona o único livro que li do Saramago...

Não é uma colcha de retalhos, mas uma senhooora adaptação!

E melhor´, é do Brasil, il, il...

Do Canadá e Japão tb. rs

Leo Pinheiro disse...

P.S.: Já o Nervoeiro, eu ainda não vi...

Jess disse...

adorei a resenha dos filmes,está de parabéns!

Jackson disse...

Wow, parabéns pela crítica ao Blindness! É um excelente filme, que embora muito criticado, serve-se de uma excelente adaptação!

Anônimo disse...

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