sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Temas : Família I

Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto

É incrível a habilidade e a simplicidade com que Sidney Lumet conduz esse filme. Digo mais, é genial. A sua direção é tão precisa que acerta em tudo, desde a parte técnica bem cuidada até – principalmente – a qualidade artística. Andy (Phillip Seymour Hoffman) vê a sua carreira indo por água abaixo e o seu casamento está cada vez mais sem emoção e acaba se refugiando em drogas – heroína. Paralelamente, seu irmão Hank (Ethan Hawke) também sofre com problemas financeiros, devendo a pensão para a sua ex-mulher e sua filha. Andy então o convence de dar um golpe na joelharia de seus próprios pais. Mas um erro incalculável e o ajudante deles do crime acaba matando a mãe de Andy e Hank. O pai, inconformado com a atitude do bandido, decide investigar afundo esse caso, não suspeitando que seus próprios filhos foram os mandantes do crime – óbvio que sem intenção de matar a própria mãe. Para complicar, a esposa de Andy, Gina (Marisa Tomei) está tendo um caso com o cunhado, Hank.

A trama pode parecer uma história de novela mexicana, a primeira vista, mas Lumet aprofunda o filme de uma maneira fabulosa. O roteiro investe pesado em personagens, principalmente na relação deles. Phillip Seymour Hoffman se destaca no papel. É visível o seu descontentamento com sua família e, principalmente, o desespero que acaba o tomando conta aos momentos finais. Uma interpretação que, além de ter sido injustiçada no Oscar, é digna de aplausos. Ele se consolida cada vez mais como um dos melhores atores da atualidade, absoluto. Da mesma maneira, Ethan Hawke consegue expressar a dúvida e a infelicidade de seu personagem com a vida, e a tentativa de fuga nos braços de Gina. Não é o melhor papel de Hawke – que esteve sensível o bastante para fazer Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol belos filmes -, mas ele faz o que tem que fazer. Albert Finney, ao lado de Phillip Seymour Hoffman, é o grande destaque do filme. Na figura do trágico e inconformado pai, seu personagem corre atrás para saber quem matou a sua esposa, e ele nunca cai no melodrama. Sempre se contendo nas cenas que tem que expor suas lágrimas, chegando a perfeição na cena final – que poderia muito bem cair num melodrama. Fechando o elenco, Marisa Tomei é o ponto-chave da trama. Ela é a personagem que tende a equilibrar toda a raiva e a angústia dos personagens, não percebendo que ela mesma se sente infeliz com toda esse rede familiar. Destaque para a cena em que ela enfrenta o marido, mostrando toda a química com Hoffman. Química, aliás, presente em toda a produção. O elenco possui um timing e uma dinâmica invejável. Desde a cumplicidade dos irmãos até chegar ao ponto culminante da produção, a relação pai e filho, destacando, é claro a dupla Hoffman-Finney.

Trágico, comovente e incômodo. É essa a sensação de assistir a esta pequena obra-prima do ano, dirigido pelo sempre competente Sidney Lumet.



Before the Devil Knows You're Dead, EUA, 2007, dir.: Sidney Lumet. Com: Phi
llip Seymour Hoffman, Ethan Hawke, Marisa Tomei, Albert Finney e Rosemary Harris.

A Família Savage

Phillip Seymour Hoffman e Laura Linney estrelam esta produção que, além de ser muito simples, é comovente e muito simpática. Wendy e Jon Savage são dois irmãos que acabam descobrindo que seu pai está sofrendo de demência e a doença está cada vez mais grave. Os dois então voltam a conviver um com o outro na esperança de encontrar uma resolução para o problema do pai, apesar da sofrida infância que tiveram em relação ao pai. O tema não é dos mais originais, mas o como ele é explorado é que é o atrativo. Aqui nós temos, claro, os clichês do gênero, um irmão vai aprendendo a lidar com a vida juntamente com o outro, para o final os dois se entenderem. Mas é isso que fica formidável. Apesar do tema ser esse, o filme não segue a linha da maioria dos filmes e usa a mesma fórmula mas de outra maneira.

A relação entre ambos não podia ficar melhor se não tivessem dois dos melhores atores desta última geração no comando. Laura Linney é uma mulher em plena crise da meia idade, vive com o dinheiro do governo e tem um caso com um vizinho casado. Linney está maravilhosa no papel, sensível e muito amargurada, e não precisa apelar para nenhuma lágrima para demonstrar o quão chata é a sua vida, ela mostra-se mais uma vez uma atriz compenetrada, concentrada no que faz, e isso é o melhor atributo de um ator. Já Phillip Seymour Hoffman está excelente. Um homem triste, igualmente insatisfeito com a vida, principalmente quando a sua relação não rende e a sua namorada volta para o país de origem. Porém, o que diferencia Hoffman de outros atores é que ele tem mais que um olhar, ele consegue fazer que, por mais sério e forte que Jon possa perceber, que ele é humano. É um cara que também sente, um homem que também pode ficar triste. Sua atuação é impagável. A dinâmica que a dupla consegue contornar até mesmo o ritmo lento da projeção. Não é um dos melhores filmes do ano, porém é um filme que, com certeza, tem muito, mas muito a dizer com tão pouco.



The Savages, EUA, 2007, dir.: Tamara Jenkins. Com: Laura Linney, Phillip Seymour Hoffman e Philip Bosco.

Lições de Vida

Mãe controladora é um tema muito raro nos filmes. Geralmente o filme segue a risca os mesmos clichês. Com este Lições da Vida, não é tão diferente. Temos aqui o filho, que por causa de sua mãe controladora (Laura Linney, ótima) vive quieto, fechado com as pessoas, e é visto como um idiota pelas pessoas da sua cidade – ao menos, pela parte feminina. O pai, um padre – ou um pastor, enfim não sei direito – é silencioso, não se mete nas decisões da mãe, por mais que tente interferir. O garoto, interpretado por Ruper Grint, tem 17 anos e sabe escrever poesia, ele gosta. Sua mãe é obcecada pela religião – em uma sacada de mestre do roteiro que, sem a resolução, talvez enfraqueceria todo o filme – e obriga o garoto a fazer coisas que ele não quer, tirando a sua liberdade. Até que ele encontra a sua fuga nos ombros amigos de uma atriz aposentada e triste.

A partir daí, uma forte amizade vai surgir entre ambos. É muito legal o contraste jovem com velho, pois é legal fornecer a experiência para um que está a recém iniciando uma vida, mas já está bem ultrapassado esse tipo de relação, não? Bem clichê, para falar a verdade. O que salva o filme de ser um mero filmezinho são justamente as atuações e a química envolvendo Rupert Grint e Julie Walters. Os dois já têm um desenvolvimento da química desde a série Harry Potter. Para quem não lembra, ele é o Rony e ela é a mãe dele. Portanto, facilita o trabalho de ambos, e com certeza não enfraquece o resultado. Ele surge fechado, discreto, e aos poucos, começa tomando o ar da liberdade. Começa a transpirar a sua juventude que há muito estava perdida em sua mente, começa a sorrir. Sim, o momento em que ele sorri pela primeira vez é inesquecível – destaque para a cena em que ele está ensaiando uma peça de teatro com Walters. Ela, porém, já vem energética. Aquela energia toda, aquele modo de viver a vida é claramente uma espécie de máscara para a verdadeira Evie Walton (seu personagem no filme). Evie é uma mulher triste, com um trágico ocorrido em sua vida e dona de três relações amorosas frustradas, além de um futuro nada promissor. Portanto, um acaba encontrando no outro, com personalidades e maneiras de ver o mundo totalmente diferentes, uma amizade inesquecível, que nem mesmo a idade pode atrapalhar. E para ficar bem claro, o filme não trata de pedofilia ou coisas parecidas. É um filme inocente, bonitinho e, principalmente, bom de ver. Vale a pena dar uma conferida.


Driving Lessons, Inglaterra, 2006, dir.: Jeremy Brock. Com: Rupert Grint, Julie Walters e Laura Linney).

P,S: Vocês perceberam que dos três, um tem o Phillip Seymour Hoffman, o outro traz Laura Linney, e um os dois se encontram? Eu juro que foi sem querer a escolha.

6 comentários:

Anônimo disse...

Gostei mais do Primeiro - Antes que o diabo saiba que você está morto - vou ver se assisto...

Adorei teu blog muito bem editado....PARABÉNS!!!!

Erich Pontoldio disse...

Acho q vou gostar mais do primeiro filme ... pelo que me conheço.

Luiz Carlos disse...

Já assisti a Familia Savage e gostei bastante, achei sua analise bem justa, é mais ou menos o que eu achei do filme tambem
Pretendo assitir Antes que o diabo saiba que você está morto, já tinha ouvido bons elogios ao filme e agora fiquei com mais vontade ainda de assistir^^

Abraço

Paulão Fardadão Cheio de Bala disse...

Não vi nenhum, mas conheço o PSH. Ele sempre passa aqui em casa, tomar um café.

Leonardo disse...

desses eu só assisti a família savage e gostei muito...é um belo filme.
Muito bom o blog

Abraços!

(Didixy) Conquistadores disse...

Cara, não vi nenhum desses filmes. Preico ver, talvez o genero assim nçao me chame atenção, mas pelo que vc falou quero ver o primeiro.