sábado, 20 de junho de 2009

foi apenas um sonho: a maturidade

É fácil saber o motivo pelo qual a Academia e mais quase todos esnobaram este filme. Além de a temática ser praticamente a mesma que o Beleza Americana, projeto vencedor do diretor, apresenta diálogos realistas, fortes e incômodos o tempo todo, batendo na tecla da infelicidade conjugal, que praticamente é explorado pelo cinemão norte-americano todo o tempo. Dito isso, deve-se ainda contar com a publicidade do reencontro entre Jack e Rose Dawson.. ou melhor, Leonardo DiCaprio e Kate Winslet. Ao contrário de todos, eu achei uma produção que atinge o nível de maturidade dos envolvidos, tanto atores quanto o próprio diretor.

Desde a cena inicial em que os Wheeler dançam pela primeira vez, fica claro o objetivo de Sam Mendes. Ao passo em que ali um relacionamento começa a se desenvolver, há também o início da sua própria destruição pessoal. Derperdiçar os sonhos, carreiras, em prol da união familiar. É essa tecla que o longa pretende bater nas suas quase duas horas de projeção. Claro que Sam Mendes nem sempre acerta, tanto que o roteiro apresenta personagens em algumas sub-tramas dispensáveis, mas nem por isso desperdiçadas. Sempre há algo por trás.

Não há como negar que o forte do filme realmente seja as atuações. Separadamente, Winslet entrega-nos uma performance marcante, de uma mulher insegura e pobre de espírito, onde seus sonhos já se foram há muito tempo. Muito supeior do que sua atuação em O Leitor, aqui a atriz construi uma April singular, se aproximando muito de sua atuação em Pecados Íntimos. DiCaprio, um ator que vem crescendo cada vez mais, tem uma performance igualmente grandiosa por aqui. Juntos, a química que vimos em Titanic se torna mais forte. As discussões, feitas com fortes diálogos, passam a ser o ponto alto do longa. E todos os medos, as duvidas, tudo se assemelha com a realidade dos casais de hoje em dia.

Talvez por isso a participação de Michael Shannon seja tão incômoda. Ao interpretar um homem com sérios distúrbios mentais - por assim dizer -, Shannon faz com que o seu John Givings em três cenas surja como uma espécie de consciência, revelando-se o único personagem dali que vive na realidade. Seu personagem perturba, choca e surpreende a todo o momento. Como este homem que mal conhece o casal os entende tão bem, enlouquece cada vez mais um Frank tentando colocar os pés na realidade. E se o personagem de Shannon não existisse, Foi Apenas um Sonho talvez não tivesse o sentido. Era preciso de alguém como John Givings ali.

O filme não apenas representa o nível de maturidade que a direção de Sam Mendes chegou, como também o crescimento de Winslet e DiCaprio. Desde a estréia dos dois em Titanic, cada um seguiu seu caminho lentamente, se destacando e marcando produções tão diversificadas entre si. Quando chegou a hora, ambos culminaram em um perturbador e impactante filme sobre relações. Talvez eles se encontrem daqui a alguns anos, ainda melhores que da última vez. E quando isto chegar, tenho certeza que eu vou comprar o ingresso pra assistir.

Foi Apenas um Sonho
Revolutionary Road, 2008
Direção: Sam Mendes. Roteiro Adaptado: Justin Haythe. Elenco: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Kathy Bates, Michael Shannon, David Harbour, Richard Easton, Kathryn Hahn, Dylan Baker, Jay O. Sanders e Zoe Kazan.

4 comentários:

Tiago Ramos disse...

É o meu filme preferido do ano. Um soco no estômago e o melhor desempenho de Michael Shannon, Kate Winslet e Leonardo DiCaprio.

Gustavo disse...

Como fã de BELEZA AMERICANA, saber de um filme do diretor que seja ainda mais maduro é grandemente atraente. Filmes poderosos assim é que mais ficam na memória. Mal posso esperar para ver.

Wallace Andrioli Guedes disse...

É um filme maravilhoso mesmo. E um dos maiores, se não o maior, injustiçado desse último Oscar. Aliás, a não indicação de Winslet por esse filme foi uma grande besteira da Academia, assim como o esquecimento de DiCaprio: ambos estão esplendorosos!
Acho que, na filmografia do Sam Mendes, só perde para Beleza Americana mesmo...

Anderson Siqueira disse...

SORO: trilha sonora; produção; fotografia; figurino; atuações.

VENENO: direção; roteiro.

NOTA (0 a 5): 2,5
**