domingo, 31 de agosto de 2008

zodíaco

David Fincher é um dos diretores mais competentes dessa nova geração. Fato já comprovado em filmes como Clube da Luta e Seven. Porém, é em Zodíaco que o diretor demonstra a sua habilidade de compor uma das histórias mais intrigantes já produzidas sobre serial killer. Fato comprovado desde a abertura, com os créditos iniciais fantásticos, a cena de abertura chocante e as músicas certas nos momentos certos. Ele não é um filme comum do gênero. Ele é muito mais. Fincher aqui não se preocupa em tentar desvendar a mente do assassino, nem colocar histórias trágicas por trás para servir como um pano de fundo. O objetivo é mostrar como o assassino acaba afetando a vida de uma galeria de personagens, cuja rotina e futuro acabam por depender do aparecimento do misterioso homem que aterroriza os Estados Unidos no final da década de 60.

Para começo de conversa, Zodíaco é baseado em fatos reais. Os personagens do filme são reais, os acontecimentos mostrados, por mais chocantes que sejam, realmente aconteceram. No final da década de 60, um homem começa a enviar cartas para os jornais, alegando ter cometido crimes e envia códigos para decifrarem. Paul Avery (Robert Downey Jr.) trabalha na parte policial de um importante jornal em São Francisco, e decide investigar um pouco mais sobre esse tal homem. Paralelamente, Robert Graysmith (Jake Gyllenhaal) é um cartunista no mesmo jornal. Apaixonado por enigmas e em decifrar códigos, ele resolve investigar por conta própria toda a cronologia do Zodíaco e começa a se interessar pelo caso. Quando um taxista morre , o inspetor David Toschi (Mark Ruffalo) entra em cena para investigar. Aos poucos, tudo acaba levando a crer que é Zodíaco o assassino do taxista e o homem que começa a aterrorizar São Francisco e as cidades vizinhas – ele ameaça matar crianças.

Interessado nas composições dos personagens envolvidos, Fincher consegue sem nunca mostrar quem é o assassino, toda uma psicologia em volta dele admirável. Apenas por pelas palavras nas cartas, por alguns diálogos no telefone, ficamos sabendo o quão psicologicamente afetado é Zodíaco. Não precisa de mais nada para Fincher nos convencer de que suas atitudes são levadas a um próprio conflito emocional e psicológico e chega num ponto em que ele é o que menos nos interessa. Só queremos saber se vão ou não descobrir quem é este cara, é só o que precisamos saber sobre o assassino.

Até porque a galeria dos personagens é tão interessante quanto o vilão. Para começar, Robert Graysmith, que acaba escrevendo o livro do qual o filme é baseado, é um personagem correto, tímido e com poucos amigos. Ele está começando no jornal, não é extrovertido a ponto de sair com os colegas em um bar ou conversar com eles. E Gyllenhaal acaba cumprindo a função com competência. Ele é Graysmith. Seus olhares, seu jeito bobo de olhar para os colegas de trabalho e até um pouco ingênuo, mas aos poucos sua atuação e seu personagem começam a crescer no filme em uma sintonia perfeita.


Enquanto isso, Mark Ruffalo novamente se destaca. Sempre um ator muito talentoso, Ruffalo apareceu de mansinho com comédias bobinhas, foi crescendo e começou a ganhar nome e papéis importantes. Seu David Torschi – com direito a um cabelo da época – é o equilíbrio entre Graysmith e Paul Avery. É o ponto máximo entre os dois. Se, de um lado temos o correto Graysmith e do outro, o incorreto Avery, seu papel é desempenhas a função de balança, equilibrando ambos. Seu personagem é fundamental para o destino dos três e o destino de um acaba sempre interferindo no destino do outro.

É admirável também a química de seu personagem com Robert Downey Jr. Interpretando Paul Avery com perfeição, Downey Jr. foge do tipo estereotipado do homem que acaba decaindo e fica bêbado e drogado. Ele brilha a cada cena em que aparece, começando um pouco extravagante e arrogante, mas aos poucos se transformando em um homem igual a todos, de superior a comum. A sua maneira de expressar o desdém com essa ou tal situação, ou suas saídas impertinentes com o dedo levantado para o chefe, apesar disso tudo, é um homem com um talento inegável para escrever - e é irônico constatar que foram as suas palavras que assinaram a sua decadência

O resto dos personagens dão um show a parte. Anthony Edwards, interpretando o parceiro de David, traz paz ao colega e segurança; Chloë Sevigne é o refúgio seguro de Graysmith; e Phillip Baker Hall traz mistério a cada cena que surge, sempre que achamos que é um bom profissional, depois acabamos desconfiando de suas habilidades.

Se não bastasse a galeria dos excelentes personagens e atores, Fincher ainda conta com um roteiro maravilhosamente bem escrito por James Vanderbilt. Sempre que descobrimos mais coisas sobre Zodíaco e temos quase certeza de que ele é realmente a tal pessoa, aparece sempre uma nova coisa que o salvar algo que incrimina outro. O ciclo é tão contínuo que acabamos nos acostumando com isso, e talvez este seja o maior truque do roteiro. Acaba prendendo o telespectador e cada vez mais as coisas ficam mais complicadas de se resolver. Ainda dá tempo para mostrar o quão confusa foi a investigação de Zodíaco. Muitas das pistas que eram fundamentais para a resolução ficaram em uma ou outra cidade, e nenhuma delas divulgou para outra, e assim vai indo. Por exemplo, o crime de Vallejo foi muito pouco divulgado ao detetive de São Francsico, e em troca ele teve que divulgar outras informações. Tal falha de comunicação essa que desencadeou mais e mais crimes e uma falha imensa.

Fechando o filme com chave de ouro, que pode ou não agradar muita gente, Zodíaco é um exemplo de linguagem cinematográfica. E Fincher é, ao lado de Paul Thomas Anderson e a alguns outros, um dos melhores diretores de Cinema dessa nova geração.

Zodíaco
Zodiac, 2007
Direção: David Fincher. Roteiro Adaptado: James Vanderbilt. Elenco: Jake Gyllenhaal, Mark Ruffalo, Anthony Edwards, Robert Downey Jr., Chloë Sevigny, Brian Cox e Dermont Mulroney.

P.S: Ganhei o DVD do filme e tive que assistir novamente, e tenho que dizer que foi muito bom ver o filme novamente. Então, resolvi escrever sobre ele.

Revisado em 03/12/2008.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Temas : Família I

Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto

É incrível a habilidade e a simplicidade com que Sidney Lumet conduz esse filme. Digo mais, é genial. A sua direção é tão precisa que acerta em tudo, desde a parte técnica bem cuidada até – principalmente – a qualidade artística. Andy (Phillip Seymour Hoffman) vê a sua carreira indo por água abaixo e o seu casamento está cada vez mais sem emoção e acaba se refugiando em drogas – heroína. Paralelamente, seu irmão Hank (Ethan Hawke) também sofre com problemas financeiros, devendo a pensão para a sua ex-mulher e sua filha. Andy então o convence de dar um golpe na joelharia de seus próprios pais. Mas um erro incalculável e o ajudante deles do crime acaba matando a mãe de Andy e Hank. O pai, inconformado com a atitude do bandido, decide investigar afundo esse caso, não suspeitando que seus próprios filhos foram os mandantes do crime – óbvio que sem intenção de matar a própria mãe. Para complicar, a esposa de Andy, Gina (Marisa Tomei) está tendo um caso com o cunhado, Hank.

A trama pode parecer uma história de novela mexicana, a primeira vista, mas Lumet aprofunda o filme de uma maneira fabulosa. O roteiro investe pesado em personagens, principalmente na relação deles. Phillip Seymour Hoffman se destaca no papel. É visível o seu descontentamento com sua família e, principalmente, o desespero que acaba o tomando conta aos momentos finais. Uma interpretação que, além de ter sido injustiçada no Oscar, é digna de aplausos. Ele se consolida cada vez mais como um dos melhores atores da atualidade, absoluto. Da mesma maneira, Ethan Hawke consegue expressar a dúvida e a infelicidade de seu personagem com a vida, e a tentativa de fuga nos braços de Gina. Não é o melhor papel de Hawke – que esteve sensível o bastante para fazer Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol belos filmes -, mas ele faz o que tem que fazer. Albert Finney, ao lado de Phillip Seymour Hoffman, é o grande destaque do filme. Na figura do trágico e inconformado pai, seu personagem corre atrás para saber quem matou a sua esposa, e ele nunca cai no melodrama. Sempre se contendo nas cenas que tem que expor suas lágrimas, chegando a perfeição na cena final – que poderia muito bem cair num melodrama. Fechando o elenco, Marisa Tomei é o ponto-chave da trama. Ela é a personagem que tende a equilibrar toda a raiva e a angústia dos personagens, não percebendo que ela mesma se sente infeliz com toda esse rede familiar. Destaque para a cena em que ela enfrenta o marido, mostrando toda a química com Hoffman. Química, aliás, presente em toda a produção. O elenco possui um timing e uma dinâmica invejável. Desde a cumplicidade dos irmãos até chegar ao ponto culminante da produção, a relação pai e filho, destacando, é claro a dupla Hoffman-Finney.

Trágico, comovente e incômodo. É essa a sensação de assistir a esta pequena obra-prima do ano, dirigido pelo sempre competente Sidney Lumet.



Before the Devil Knows You're Dead, EUA, 2007, dir.: Sidney Lumet. Com: Phi
llip Seymour Hoffman, Ethan Hawke, Marisa Tomei, Albert Finney e Rosemary Harris.

A Família Savage

Phillip Seymour Hoffman e Laura Linney estrelam esta produção que, além de ser muito simples, é comovente e muito simpática. Wendy e Jon Savage são dois irmãos que acabam descobrindo que seu pai está sofrendo de demência e a doença está cada vez mais grave. Os dois então voltam a conviver um com o outro na esperança de encontrar uma resolução para o problema do pai, apesar da sofrida infância que tiveram em relação ao pai. O tema não é dos mais originais, mas o como ele é explorado é que é o atrativo. Aqui nós temos, claro, os clichês do gênero, um irmão vai aprendendo a lidar com a vida juntamente com o outro, para o final os dois se entenderem. Mas é isso que fica formidável. Apesar do tema ser esse, o filme não segue a linha da maioria dos filmes e usa a mesma fórmula mas de outra maneira.

A relação entre ambos não podia ficar melhor se não tivessem dois dos melhores atores desta última geração no comando. Laura Linney é uma mulher em plena crise da meia idade, vive com o dinheiro do governo e tem um caso com um vizinho casado. Linney está maravilhosa no papel, sensível e muito amargurada, e não precisa apelar para nenhuma lágrima para demonstrar o quão chata é a sua vida, ela mostra-se mais uma vez uma atriz compenetrada, concentrada no que faz, e isso é o melhor atributo de um ator. Já Phillip Seymour Hoffman está excelente. Um homem triste, igualmente insatisfeito com a vida, principalmente quando a sua relação não rende e a sua namorada volta para o país de origem. Porém, o que diferencia Hoffman de outros atores é que ele tem mais que um olhar, ele consegue fazer que, por mais sério e forte que Jon possa perceber, que ele é humano. É um cara que também sente, um homem que também pode ficar triste. Sua atuação é impagável. A dinâmica que a dupla consegue contornar até mesmo o ritmo lento da projeção. Não é um dos melhores filmes do ano, porém é um filme que, com certeza, tem muito, mas muito a dizer com tão pouco.



The Savages, EUA, 2007, dir.: Tamara Jenkins. Com: Laura Linney, Phillip Seymour Hoffman e Philip Bosco.

Lições de Vida

Mãe controladora é um tema muito raro nos filmes. Geralmente o filme segue a risca os mesmos clichês. Com este Lições da Vida, não é tão diferente. Temos aqui o filho, que por causa de sua mãe controladora (Laura Linney, ótima) vive quieto, fechado com as pessoas, e é visto como um idiota pelas pessoas da sua cidade – ao menos, pela parte feminina. O pai, um padre – ou um pastor, enfim não sei direito – é silencioso, não se mete nas decisões da mãe, por mais que tente interferir. O garoto, interpretado por Ruper Grint, tem 17 anos e sabe escrever poesia, ele gosta. Sua mãe é obcecada pela religião – em uma sacada de mestre do roteiro que, sem a resolução, talvez enfraqueceria todo o filme – e obriga o garoto a fazer coisas que ele não quer, tirando a sua liberdade. Até que ele encontra a sua fuga nos ombros amigos de uma atriz aposentada e triste.

A partir daí, uma forte amizade vai surgir entre ambos. É muito legal o contraste jovem com velho, pois é legal fornecer a experiência para um que está a recém iniciando uma vida, mas já está bem ultrapassado esse tipo de relação, não? Bem clichê, para falar a verdade. O que salva o filme de ser um mero filmezinho são justamente as atuações e a química envolvendo Rupert Grint e Julie Walters. Os dois já têm um desenvolvimento da química desde a série Harry Potter. Para quem não lembra, ele é o Rony e ela é a mãe dele. Portanto, facilita o trabalho de ambos, e com certeza não enfraquece o resultado. Ele surge fechado, discreto, e aos poucos, começa tomando o ar da liberdade. Começa a transpirar a sua juventude que há muito estava perdida em sua mente, começa a sorrir. Sim, o momento em que ele sorri pela primeira vez é inesquecível – destaque para a cena em que ele está ensaiando uma peça de teatro com Walters. Ela, porém, já vem energética. Aquela energia toda, aquele modo de viver a vida é claramente uma espécie de máscara para a verdadeira Evie Walton (seu personagem no filme). Evie é uma mulher triste, com um trágico ocorrido em sua vida e dona de três relações amorosas frustradas, além de um futuro nada promissor. Portanto, um acaba encontrando no outro, com personalidades e maneiras de ver o mundo totalmente diferentes, uma amizade inesquecível, que nem mesmo a idade pode atrapalhar. E para ficar bem claro, o filme não trata de pedofilia ou coisas parecidas. É um filme inocente, bonitinho e, principalmente, bom de ver. Vale a pena dar uma conferida.


Driving Lessons, Inglaterra, 2006, dir.: Jeremy Brock. Com: Rupert Grint, Julie Walters e Laura Linney).

P,S: Vocês perceberam que dos três, um tem o Phillip Seymour Hoffman, o outro traz Laura Linney, e um os dois se encontram? Eu juro que foi sem querer a escolha.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Filmes vistos ou revistos recentemente

Adeus, Lenin!


Foi a segunda vez que assisti a este filme. E pela segunda vez, um sentimento bom me tomou. Um sentimento de felicidade. Eu estava vendo um dos filmes que, para mim, é um dos melhores dessa década de 2000. Um filme que, para mim, é praticamente completo. A fotografia é simples, mas cumpre o que o filme necessita, sem exageros nem mais aprofundamento. A direção de Wolfganger Becker é completa. Tanto com os atores, quanto na técnica e, principalmente, nos momentos dramáticos. É nesses em que ele nunca deixa cair seu filme no melodrama, sempre se contendo, talvez este seja o maior mérito dessa produção, afinal, com todo o material, é muito fácil deixar um longa como esse sair de controle e ir para as choradeiras. Ajudando ainda o diretor – que também ajudou a escrever o roteiro – temos o ótimo elenco. Daniel Brühl, em seu melhor papel, tem um desempenho adorável nesse filme. No início, não podemos saber muita coisa dele, só que ele entra em uma marcha de protesto e, naquele caso, é preso. Porém, vê a sua mãe cair no solo alemão e nada pode fazer. Depois, ele vira um cara batalhador, já que os mundos – capitalista e socialista – acabam se unindo, desde a queda do Muro de Berlim. Mesmo quando reprova as atitudes da irmã, a química entre os dois não afunda. Muito pelo contrário, tanto Brühl quanto Maria Simon têm consciência do relacionamento fraterno e, mesmo que os dois discutam ás vezes, eles parecem justamente como irmãos mesmo – e não aqueles relacionamentos dos filmes. Os dois nunca parecem brigar, brigar, brigar e nas últimas cenas, descobrir que um ama o outro. O filme foge desse tema rotineiro. Becker está certo de que o relacionamento dos dois é fundamental, ainda mais para o que vem em seguida, que é a hospedagem da mãe deles na casa. Quando ela volta do coma, os personagens de Brühl e Maria têm que esconder tudo que for capitalista da casa deles, e re-imaginar a Alemanha socialista.

O filme possui um enorme peso dramático. E mesmo assim, Becker conseguiu contornar tudo, principalmente as cenas finais, para nos contar uma bela e até mesmo divertida fábula de família, da união e dos sacrifícios, dos erros e do perdão e, principalmente, dos atos, que mais simples que sejam, podem significar muito.



Goodbye, Lenin!, Alemanha, 2003, dir.: Wolfaganger Becker. Com: Daniel Brühl, Katrina Sab, Maria Simon, Chulpan Khamatova e Florian Lukas.

O Diário de uma Babá

O filme estreou esse ano nos cinemas. Não li sobre ele na época. Nem ninguém me indicou. Ele passou tão apago nos cinemas brasileiros, e até dá pra entender o porque. Quem viu, com certeza não vai indicar. Não teria muito falatório. É só mais um filmezinho bem ruim que tenta resgatar as dinâmicas entre babá e crianças, tentando ser um A Noviça Rebelde, Mary Poppins ou Uma Babá Quase Perfeita. Contratando elenco de peso, como Scarlett Johansson, Laura Linney e Paul Giamatti – eu não vou classificar Alicia Keys nem Chris Evans como elenco de peso, ta -, o filme tenta desesperadamente dizer: “vejam, é emocionante o modo como a personagem e o gurizinho estão se relacionando”. Ou melhor; “olhem, o pai do gurizinho não presta, ele é um monstro”. Até podia mencionar: “sim, aquele cara é o bonitão que toda garota sonha, e ele não vai desistir da babá. Ele a ama!”. Sério. Mas eu tenho que admitir que sim, há algumas cenas que safam o filme de ser um desastre. São aquelas em que o garotinho Nicholas Art está presente. Como as primeiras tentativas de comunicação com a babá, e todo o carisma que o garotinho demonstra. Se não fosse por ele, realmente, o filme estaria perdido.



The Nanny Diaries, EUA, 2007, dir.: Shari Springer Berman e Robert Pulcini. Com: Scarlett Johansson, Laura Linney, Donna Murphy, Alicia Keys, Chris Evans, Nicholas Art e Paul Giamatti.

Sou Feia, Mas Tô na Moda

Poe um lado, eu fico feliz de ter visto este documentário. Eu gosto de quando o Brasil investe em Cinema, e cada filme que vejo, por mais falho que seja, é interessante por estar vindo de um país que o Cinema nunca foi o forte. E isso é excelente.

Por um outro, fico bastante descontente com o documentário. Ele é bem irregular, mas ainda assim conta com personagens que, sim, são interessantes. Só que, alguns simplesmente aparecem e falam e falam, mas não tem absolutamente nada a dizer e o filme tem apenas uma hora de duração. O roteiro e a direção, ambos de Denise Garcia, é incompleto. Falta muita coisa. E a fotografia é ruim. São zooms que não precisam e tentativa de planos que ficam feios quando vistos na tela. O que salva o filme mesmo são as pessoas que vemos na tela. Dj Marlboro é um dos que se destacam, tal como o Mc Catra. Para quem quiser conferir um pouco mais sobre o funk, é uma boa pedida. Mas como exemplar cinematográfico, dá pra escapar.



Brasil, 2005, dir.: Denise Garcia.

P.S: Sobre o adiamento de Harry Potter e o Enigma do Príncipe, achei ruim a decisão da Warner. A explicação foi para tapar o buraco na programação de julho de 2009, já que não há nenhum grande lançamento para o período. Não gostei pelo fato de que já estava tudo programado, estava todo mundo contente, aí acontece uma coisa dessas. Bem que eu estava achando estranho a fraca campanha de divulgação do filme. Fora o trailer teaser, o que mais a gente viu? Algumas poucas fotos que vazaram na internet e o que mais? Bom, ao menos o espaço vai ser mais curto entre o sexto filme e o sétimo.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

A Felicidade Não se Compra

Por que será que existimos? Será que pra nós, estar vivo é ser feliz? Será que isso basta? Perseguimos a nossa tão sonhada felicidade ou ajudar para que outros a achem?

Recentemente, eu vi mais uma vez A Felicidade Não se Compra. É um filme tão, mas tão belo que é impossível de não mencionar todas as qualidades que ele possui. Para começar, Frank Capra é um diretor que sabe contar as mais diversas histórias, também procura se preocupar com a estética e com o elenco, dirigindo assim, filmes que são verdadeiros exemplos da linguagem cinematográfica.

Nesta grande questão entre perseguir os sonhos ou ajudar os outros, Frank Capra acaba não tocando na espinha dorsal da sociedade, mas em colocar situações tão cotidianas e personagens tão caricatos que consegue render uma combinação perfeita. George Bailey, o mocinho, o bonzinho da história. Aquele que, quando garoto, entrou na água gelada para salvar o irmão, e como conseqüência ficou surdo do lado esquerdo; o homem que, quando garoto, levou umas boas bofetadas do chefe, porém acabou salvando tanto a vida dele quanto a vida de uma outra mulher; o homem que preferiu ficar na cidade e ajudar as pessoas da cidade, ao invés de cursar a faculdade que tanto sonhara; o homem que construiu um conjunto de casas para ajudar as pessoas que tinham necessidades, ao invés de usar o dinheiro para sair da cidade e perseguir seus sonhos. Tem também o vilão, Henry Potter. Aquele que não se importa com as pessoas e que só quer o dinheiro de todos; aquele que ignorou a morte do pai de George e queria comprar o banco a todo o custo; o odiado de Bedford Falls.

Além dos outros personagens, é claro, como o amigo taxista, a esposa certinha e apaixonada, a mãe que quer casar o filho, o irmão caçula. Podia ser uma obra comum, se não entrasse um personagem, o Anjo Clarence. Esta obra, baseada na estória de Philip Van Doren Stern, poderia funcionar tão mal com personagens que, a primeira vista, são tão estereotipados. Mas pelo contrário, funciona maravilhosamente bem. Talvez porque, no final, só uma coisa importa, como o título original diz, é uma vida maravilhosa.

Você já imaginou como seriam as nossas vidas se não tivéssemos nascidos? Seria melhor ou pior? Talvez George Bailey tenha achado a sua luz no fim do túnel, a esperança de que ele tanto procurava. E quanto a nós, continuamos a procurar por uma razão, um sentido em nossa existência.


It's a Wonderful Life, EUA, 1946, dir.: Frank Capra. Com: James Stewart, Donna Reed, Lionel Barrymore, Thomas Mitchell e Henry Travers.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Filmes

Segue abaixo comentários de três filmes. Um filme está na medida e os outros dois, ainda faltam pra chegar a média. Mas enfim, segue aí a dica - ou não - de três filmes:

O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy

Quando este filme chegou aos cinemas, muito pouco foi dito sobre ele. Aliás, não li muito sobre ele em lugar nenhum. No site Rotten Tomatoes – aquele que centenas de críticos analisam os filmes e, caso o filme for bom, ganha um tomatinho vermelho – e o filme estava numa margem abaixo da média. Quando tive a oportunidade de assistir, foi uma deliciosa experiência. É uma ótima comédia, com protagonistas que conseguem carregar o filme nas costas numa boa e ainda participações de comediantes que só acrescentam a essa produção - destaque para as participações de Jack Black, Luke Wilson e Vince Vaughn. Will Ferrell, que na época ainda estava começando a mostrar a sua cara como protagonista no Cinema, interpreta Ron Burgundy de uma maneira divertida e nada amistosa. Afinal, o seu machismo é divertido; as suas tiradas são divertidas; e suas expressões são divertidas. E, para completar, ainda consegue uma química com sua equipe e com o seu par, Christina Applegate, que exibe o mesmo carisma do protagonista, mas ela aqui sabe suas limitações e o que deve fazer como Veronica Corningstone. Paul Rudd – o que sempre aparece nos filmes como coadjuvante – exibe o mesmo carisma e talento de sempre; David Koechner é o cara mais sem noção da equipe; e, por último, o cara que sempre acaba roubando as cenas, Steve Carell. O seu Brick é diversão na certa. É impossível não rir das coisas que ele acaba falando principalmente na sua apresentação. O Âncora não é a melhor comédia desses últimos anos, mas é sim uma das mais divertidas desses últimos anos. Pelo menos eu gostei.


Anchorman:The Legend of Ron Burgundy, EUA, 2004, dir.: Adam McKay. Com: Will Ferrell, Christina Applegate, Paul Rudd, Steve Carell, David Koechner, Luke Wilson, Vince Vaughn, Danny Trejo, Seth Rogen, Tim Robbins, Jack Black e Ben Stiller.

Ó Pai, Ó

Ó Pai, Ó, é assustadoramente triste. Isso não tem como negar, mostrar a vivência miserável daquela parte da Bahia, aqueles personagens e todo o drama na qual eles se encontram, é mais um fator triste deste nosso país. São personagens que encontram a alegria no carnaval. É o momento em que todo o povo se junta e começa a dançar, a rir e a se divertir. Porém, não dá pra tirar da cabeça o que o povo acaba passando. É um povo que, por pior o modo como eles passam, eles são felizes. Ó Pai, Ó acaba se tornando um drama triste e violento. Baseado em uma peça de teatro, Ó Pai, Ó acaba cometendo todos os deslizes de produções de Cinema baseadas em peças. O roteiro não parece ter sido desenvolvido para a linguagem cinematográfica e a direção está mais global do que para filme. No entanto, o elenco consegue contornar por ser bom, muito bom, aliás. Lázaro Ramos, Dira Paes - a melhor atriz do Cinema brasileiro atualmente - e Wagner Moura, três dos melhores atores brasileiros conseguem se dar bem na produção. O resto também é bastante eficiente. Um dos maiores problemas de Ó Pai, Ó é justamente apresentar personagens de mais, e acabar se esquecendo deles no meio da projeção – problema que ocorre na maioria das produções que tem personagens demais. A cena do carnaval é decepcionante, ao mostrar os famosos músicos e tudo o mais. Porém, os momentos decisivos do filme, ao som das músicas, são emocionantes. E a maneira como ele acaba, com o catador de latinhas, é brilhante.

Brasil, 2007, dir.: Monique Gardenberg. Com: Lázaro Ramos, Stênio Garcia, Wagner Moura, Luciana Souza, Dira Paes, Érico Brás e Emanuelle Araújo.

O Grito 2

Eu não gostei de O Grito, não é por que ele é terror, mas é porque eu não gostei mesmo. Achei um roteiro fraco, as atuações sem expressões, e mais um caça-níqueis barato. Ao assistir esta seqüência de O Grito, me deparei com um dos filmes mais idiotas de terror desses últimos anos. E olha que exemplo de filmes de terror desse nível, existem vários. Eu entendo a história. Dos dois. Eu realmente poderia diferenciar se este filme é bom ou ruim. É sério. Se eu gostasse, eu falaria que eu gostasse. Mas é medonho. Do início ao fim, as cenas de sustinho não convencem, os personagens são muito mal desenvolvidos, além das atuações nada convincentes. A participação de Sarah Michelle Gellar é chocha. Observem também a tentativa da fotografia como o elemento dos sustos - algo que funciona bem nos tons de O Chamado ou no excelente Suspiria -, sempre tentando esconder os rostos dos "fantasmas", assim dizendo. Fora que a cena inicial, na casa, é decepcionante. Seria o momento em que realmente algo iria acontecer de aterrorizante, mas acaba sendo uma cena simplista demais. A direção de Takashi Shimizu não consegue assustar, em nenhuma cena. Muito pelo contrário, daqueles que são ávidos a dar umas boas risadas em filmes de terror, aqui tem várias para se achar graça. Enfim, O Grito 2 não vale nem como uma experiência divertida de ver. É mais como uma perda de tempo.


The Grudge 2, EUA, 2006, dir.: Takashi Shimizu. Com: Sarah Michelle Gellar e Jennifer Beals.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O Kubrick é do mundo!

O cenário é Nova Iorque. O dia é 26 de julho. Nos Estados Unidos, no meio de tanta gente nascia um bebê que daria para o mundo uma experiência cinematogáfica única. No dia 7 de março de 1999, em Londres, Stanley Kubrick faleceu. Foi um dia triste para o Cinema. No dia 26 de julho de 2008, Kubrick faria 80 anos.

Porém, suas obras nunca foram esquecidas. Na época em que foi lançada, 2001: Uma Odisséia no Espaço, acabou chamando a atenção dos jovens rebeldes da época - anos 60. Nos dias de hoje, um jovem comum, que é inspirado por blockbusters de todos os tipos, comédias adolescentes bobas e filmes de terror com mulhere semi-nuas, iriam achar 2001 chato, dormiriam no filme inteiro, e ao final provavelmente iam falar que o filme não faz sentido algum - confesso que a cena final é mesmo difícil de entender, e cada um tem sua teoria e tudo o mais. E o engraçado é que 2001 é um filme que possui uma das mais belas fotografias de todos os tempos e que é complexo, muito complexo, mas genial. Kubrick mostra um domínio de linguagem único nessa verdadeira obra-prima do Cinema. Notem a cena em que há dois membros da equipe conversando (acima), em um plano que acaba se restringindo aos dois, um de cada lado. No fundo, podemos ver a presença do computador, que acaba passando a imagem de que ele está lendo os lábios dos personagens, mas nunca conseguimos saber se está ou não. Porém, a genialidade da cena, com o computador atrás, ameaçando a todos, enquanto os dois conversam em uma sala aparentemente fechada, é formidável. Ou aquela cena dos macacos, que acaba ficando na amgiuidade, seria passado ou futuro? Ou os dois?


Mas gênio que é gênio não ficaria só em um filme. Ele ainda faria um dos maiores filmes da década de 70, e que coincidentemente inspirou o visual do blog. Laranja Mecânica, de 1971, mostra um grupo de jovens anarquistas estuprando, torturando, matando mendigos e roubando, fazendo de tudo, porém ele acaba sofrendo uma lavagem cerebral que o impede de fazer coisas ruins. O papel da vida de Malcolm McDowell e o filme de um século. Laranja Mecânica ainda possua ia narração irônica em off, na qual o protagonista pedia para nós termos pena de todas as atrocidades que faziam com ele.

Kubrick também deu uma passa pelo épico em Spartacus, o erotismo em Lolita, e em 1964 sua comédia Dr. Fantástico (ou Como eu Aprendi a Amar a Bomba) é que merece um destaque na filmografia do diretor. Além de ter a habilidade de criar planos extremamente bonitos - como em 2001 - o diretor mostra um talento nato também para as comédias. Neste aqui, ele se mostra um ábil diretor de atores, evitando aquelas gags e nos mostrando a comédia da maneira como ela tem que ser mostrada: genial. Seguindo a linha de filmes de guerra, Dr. Fantástico consegue criar um clima de risadas e ao mesmo tempo, de irônias, com a Guerra Fria, duma maneira que Chaplin conseguiu criar em O Grande Ditador e como Monty Python criava em seu programa. Porque somente um gênio para arrancar piadas inteligentes e críticas construtivas a uma guerra no meio de tanto sofrimento.

E por falar em guerra, Kubrick também não podia deixar de fazer um filme de soldados. Dando um salto temporal para o ano de 1987, o penúltimo filme do diretor não deixa a desejar em nada. Nascido para Matar é um dos filmes que constrói os personagens, as relações de amizades, as conseqüências das guerra, tudo em seu devido lugar, com maestria. Mas, principalmente, este filme representa, sobretudo, a dualidade do homem. O duelo que o homem tem com si mesmo. O bem contra o mal. E os créditos finais, com a canção "Paint It Black", é muito bom.


Nos anos 80 mesmo, Kubrick passeou com o terror em O Iluminado. E é impossível não citar a cena em que o garotinho - interpretado com precisão por Danny Lloyd - está andando de triciclo no corredor, ao som ambiente, sem trilha nem nada. Aterorizante. Ou como não citar a atuação de Jack Nicholson, a transformação irreverente que ele deu ao personagem e toda aquela fotografia da perseguição no labirinto. Kubrick mais umka vez mostrava-se um diretor versátil e mais uma vez deu um passo a mais como gênio implacável.

No ano de sua morte, em 1999, foi lançado o último filme do diretor: De Olhos Bem Fechados. Desta vez, ele quis mostrar um pouco mais sobre o casamento, e sobre um drama psicólogico. Após este filme, Kubrick filmaria A.I: Inteligência Artificial, e com certeza daria um tratamento Kubrickiano para o filme, seria muito interessante vê-lo em sua versão.

Talvez o Cinema nunca se recupere da morte de Kubrick. Assim como nunca vamos nos recuperar da morte de Chaplin, de Bergman, de Gláuber Rocha. Enfim, é um ciclo que temos que aguentar. Assim como estes Mestres se vão e deixam para nós as suas obras, seus nomes vão ficar em nossas memóridas para sempre.

P.S: Post meio atrasado sobre o aniversário de Stanley Kubrick, me senti na obrigação de tirar o atraso e falar sobre esse mestre.

domingo, 3 de agosto de 2008

Dois filmes

O Agente da Estação

É um daqueles filmes bem bonitinhos, simpáticos e que não custa nada assistir, sabe? A história é sobre um anão, Finbar McBirde (interpretado pelo talentoso Peter Dinklage) que tem muito trauma por ser anão, e por isso tenta fugir o máximo que consegue da atenção das pessoas. Certo dia, seu único amigo morre repentinamente e deixa para ele uma casa de herança em uma cidadezinha. Lá, ele é quase atropelado por Olivia (Patricia Clarkson, ótima), uma mulher solitária, cujamorte de seu filho acabou a afetando emocionalmente, e ainda vive uma relação complicadíssima com seu ex-marido. Perto de Fin, mora Joe (Bobby Cannavale), um solitário e falante rapaz que quer ser amigo das pessoas a todo o custo.

Completando o quadro dos personagens, surge uma garotinha que acha que Fin é uma criança à primeira vista e uma jovem bibliotecária interpretada por Michelle Williams, que está grávida de um valentão da cidadezinha. Todas essas figuras acabam cruzando com Finbar, e cada um vai acabar se ajudando da maneira com que cada um consegue. Ao desenrolar da produção - bem enxuta -, vai surgindo entre os três, além de uma química impagável, um forte laço de amizade, que nem as diferenças pode romper.



The Station Agent, EUA, 2003, dir.: Thomas McCarthy. Com: Peter Dinklage, Patricia Clarkson, Bobby Cannavale e Michelle Williams.

Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock'n Roll

Eu já havia lido uma ou duas tirinhas de Wood & Stock e havia achado legal. No entanto, não sou fã de Angeli, também não conheço o histórico de seu trabalho, nem por isso também julgo suas tirinhas - afinal, conheço pouco para julgar. Porém, a versão cinematográfica é ruim, muito ruim.

Para começo de conversa, este blá blá todo de cinema alternativo e tudo o mais não justifica o filme. Por exemplo, o roteiro é muito, mas muito mal escrito. Claro que temos que entender que a geração explícita no filme é aquela geração dos anos em que fumar, beber, rock'n roll eram os símbolos da rebeldia, uma geração de Woodstock e entendo o que o filme esteja tentando mostrar. Mas a maneira como foi desenrolada a idéia é muito ruim. Para começar, a apresentação dos personagens é horrivel. Afinal, tem muita gente que não conhece os personagens criados pelo Angeli, e muita gente acabou assistindo o filme sem saber nada - eu, por exemplo. A única personagem que acaba sendo desenvolvida no filme é a Bordosa (que tem a péssima voz de dublagem de Rita Lee), e a produção demora um filme inteiro para apenas se esforçar para tirar um riso ou outro da roqueira. E a história dela e tudo o mais acaba sendo deslocada dos demais personagens - os que dão título ao filme, principalmente. Paralelamente, há ainda a história do garoto que rejeita ser filhos de hippies - com uma resolução boba; tem a banda de Wood e Stock, com uma históriaque, além de ser totalmente clichês desses temas de hippies e rebeldia e tudo o mais, é cansativa e sem graça; e tem também a história da mãe que, sinceramente, quem se importa com ela? Fora que a sua volta é ridícula.

Para quem gosta dos anos 60, enfim, dessa rebeldia, dessa loucura toda, o filme é um prato cheio. Para quem admira o ano, como eu, gosta do tema, porém também gosta de um bom filme, não indico. Alto risco de se decepcionar.


Brasil, 2006, dir.: Otto Guerra. Com as vozes de: Zé Victor Castiel, Sepé Tiajaru, Rita Lee e Tom Zé.

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