sexta-feira, 6 de março de 2009

quem quer ser um milionário?: muito barulho por nada

Quem Quer Ser um Milionário? tem uma grande vantagem: ele é otimista. Dito isso, era óbvio que venceria o Oscar deste ano. A Academia não acabou premiando pela qualidade da história, e sim pelo momento em que vivemos. O Obama acabou de ser eleito, estamos no meio de uma crise econômica, o que realmente a gente precisa? Otimismo. Não iria vencer um projeto de um ex-presidente que levou os Estados Unidos para uma guerra sem ideologia (Frost/Nixon); nem um político homossexual (Milk); nem mesmo filmes sobre Holocausto, não queremos mais falar disso (O Leitor); ou premiar apenas uma fábula repleta de fantasia (Benjamin Button), quando o que queremos é mesmo um pouco de otimismo? É sim a grande produção otimista do ano que se passou. Juntar Hollywood com Bollywood foi talvez o maior acerto. Aproximar cada vez mais dos Estados Unidos o resto do mundo.

Porém, mais do que isso, Quem Quer Ser um Milionário? é um filme bonitinho e defácil aceitação. Dirigido também por um diretor mais conhecido por seus trabalhos versáteis (de Transpoitting a Sunshine, passando por Extermínio, Caiu do Céu e A Praia). Danny Boyle é um diretor quase sempre competente, já pisou na bola (A Praia), mas também já acertou a mão em cheio (Extermínio). Mas em Quem Quer Ser um Milionário? o diretor não inova, não tira grandes atuações, nem faz imensos esforços pra fugir do convencional. No final, tudo o que vemos é simplesmente um filme como qualquer outro.

O pacote é muito menor. Uma história indiana que começa na infância, quando um garoto perde a sua amada garotinha e agora ele faz de tudo para reencontrá-la, até mesmo enfrentar seu irmão e ainda tentar responder uma série de perguntas num programa, é ma trama difícil de não cair nos clichês. A tentação é grande. Aqui, apesar de alguns diálogos que parecem ter saído de uma novela do Manoel Carlos ("Vamos viver de que?", pergunta a doce protagonista. "De amor", responde o esperto Jamal, já adulto). Porém, o que funciona mesmo é que o filme é muito bem amarado. E esse é o principal ponto positivo do longa.

A montagem é ágil, conecta bastante as cenas sem deixar cair no labirinto de idas e vindas que o filme apresenta - algo que não funciona tanto em O Leitor. Mesmo que seja forçada demais a idéia de ligar cada pergunta do programa com algum momento de sua vida, a montagem dá um jeito em conectar todas as cenas importantes sem ser forçado. A fotografia é inspirada. Boyle soube conduzir direitinho todos os movimentos de câmera - alguns inspirados pelo efeito Cidade de Deus.

Porém, nada disso conserta a produção de comum. Sem grandes inovações, nem nada que se destaque - fora o garotinho que interpreta Jamal pequeno, o melhor ator do filme. É uma boa produção, é legal ver Hollywood e Bollywood juntas, mas não passa disso.

Quem Quer Ser um Milionário?
Slumdog Millionaire, 2008
Direção: Danny Boyle. Roteiro Adaptado: Simon Beaufoy. Elenco: Dev Patel, Ayush Makesh Khedekar, Tanay Chheda, Freida Pinto, Rubiana Ali, Tanvi Ganesh Lonkar, Madhur Mittal, Azharuddin Mohammed Ismail, Ashitosh Lobo Gajiwala, Chirag Parmar, Janet de Vigne, Anil Kapoor e Saurabh Shukla.

3 comentários:

Wallace Andrioli Guedes disse...

Cara, apesar de reconhecer as limitações do filme, eu adoro Slumdog Millionaire ...
E discordo de vc quando diz que um filme como O Leitor não venceria o Oscar, por tratar do Holocausto, mesmo num momento de crise como esse. Esse é o tipo do tema que a Academia sempre abraça, e a indicação do filme do Daldry é um ótimo exemplo disso, quando foram deixados de fora filmes muito melhores como Foi Apenas um Sonho, O Lutador e O Cavaleiro das Trevas.

Rafael Carvalho disse...

Talvez essa junção das duas indústrias tenha dado certo justo para fazer o filme agradar a meio mundo de gente e ganhar aquela cacetada de Oscars, mas não me agrada nem um pouco. Acho a história artificial, resa, que evoca esse sentimento otimista a partir de personagens que comeram o pão amassado pelo diabo, mas parecem não se importar com isso. No fim, tudo é festa. Boyle já fez muita coisa melhor. Postei agora há pouco uma resenha do filme lá no blog. Abraço!!!

Caio Coletti disse...

Cara, ainda não vi esse filme (cinema atrasado em Itatiba, fazer o que?), mas li bem sua crítica e acho que você foi conciso como sempre. Não posso dar minha opinião, mas, sem contestar ou glorificar o filme: será que um pouco de otimismo não é bom para um cinema tão repleto de cinismo da Hollywood de hoje? É uma pergunta que eu não ouso responder.

Abraços
http://filme-pipoca.blogspot.com/