sábado, 13 de fevereiro de 2010

a fita branca


(Atenção: Se você ainda não viu A Fita Branca e se importa em ler diálogos do filme, pule diretamente para o terceiro parágrafo).
 

Em determinado momento do filme, após uma esnobada do homem, a mulher, espantada, pergunta "o que eu fiz para você?", e é surpreendida pela resposta:

"Meu Deus, você não me fez nada! Você é feia, suja, flácida e tem mau hálito. Isso basta? O lenço tem que ser esterelizado. Não fique sentada aí olhando como a morte à espreita. O mundo não vai acabar. Nem para você, nem para mim. Não posso continuar, é só isso. Eu realmente tentei pensar em outra mulher enquanto fazia sexo com você. Uma que cheirasse bem, que fosse jovem, menos decrépita que você, mas minhas imaginação não conseguiu essa fantasia. No fim é você de novo, e sinto como se fosse vomitar e tenho vergonha de mim mesmo. De que adianta isso?"

O diálogo acima é só um pouco do texto de A Fita Branca, novo filme de Michael Haneke. Ácido e por vezes cruel, o roteiro, escrito pelo próprio diretor, constrói aos poucos personagens que acabam virando um plano fundo para uma análise do comportamento humano, algo que Haneke já enfatizou em longas como Caché e Violência Gratuita. Porém, mesmo que no primeiro ele tenha se saído extremamente bem, o último (tanto o original quanto a refilmagem) não consegue encontrar um tom certo para explicar as atitudes dos sujeitos - é nas explicações que o filme peca -, ele jamais havia acertado tanto quanto em seu novo longa-metragem.

Acompanhado por uma fotografia preto-e-branco belíssima (o branco é realçado de uma forma bastante eficaz), A Fita Branca é a obra-prima de um diretor. Haneke nunca foi tão feliz ao comandar a sua câmera, ao conduzir um elenco e, principalmente, ao criar uma história tão incerta quanto a posição do narrador ante os eventos que ele contará para o espectador.

Profundo, apresentando um conflito de gerações, da própria humanidade e dos nervos pré-guerra, A Fita Branca é um filme perturbador do início ao fim. Quando chegou os créditos finais, eu tive a sensação de que eu precisaria vê-lo novamente, só assim para refletir o que eu havia visto em pouco mais de duas horas na tela.

E eu nem comentei sobre a tal fita do título - é impossível escrever sobre esta obra-prima em apenas um texto.

A Fita Branca
Das weisse Band - Eine deutsche Kindergeschichte, 2009
Direção e Roteiro Original: Michael Haneke. Elenco: Christian Friedel, Leonie Benesch, Ulrich Tulkur, Ursina Lardi, Fion Mutert, Michael Kranz, Burghart Klaubner, Steffi Kühnert, Maria Victoria Dragus, Leonard Proxauf, Levin Henning, Johanna Busse, Thibaut Sérié, Josef Bierbichler, Gabriela Maria Schmeide, Janina Fautz, Enno Trebs, Theo Trebs, Birgit Minichmayr, Sebastian Hülk, Kai-Peter Malina, Kristina Kneppek, Stephanie Amarell, Aaron Denkel, Hanus Polak Jr. e com a voz de Ernst Jacobi.

2 comentários:

Anônimo disse...

A cada crítica que leio fico com mais vontade de ver este filme. Me parece ser excelente e pretendo vê-lo o mais cedo possível!

http://cinemaemdvd.blogspot.com/

Rafael Carvalho disse...

Vi ontem e fiquei fascinado. O filme tem a grande qualidade de ser potente sem ser explosivo. Nada é explícito ou óbvio, é o que mais me encanta no projeto. Sou um grande fã do Haneke.