quarta-feira, 16 de setembro de 2009

che: o argentino

O projeto de filmar a vida de um dos maiores revolucionários da América Latina tinha tudo para dar certo: o tema é, ao mesmo tempo que didático, interessante, o diretor é o eficiente Steven Sohdeberg, todos os recursos estavam nas mãos dos produtores e o protagonista seria Benício Del Toro, um ator versátil e talentoso. Ao assistir a primeira parte de Che, eu formei várias perguntas para eu mesmo tentar responder: "foi isso?" e "o que deu errado?".

A príncipio, Del Toro está ótimo como Che, sóbrio e dedicado ao papel que lhe foi dado. Mas se vermos agora por um ângulo comparativo, dos últimos cinco vencedores do Oscar, quatro interpretaram alguém que realmente existiu (Jamie Foxx, Phillip Seymour Hoffmann, Forest Whitaker e Sean Penn). Portanto, dado não só apenas ao histórico do Oscar, mas sim de todo o cinema, geralmente os atores que ficam a cargo de interpretar alguém que realmente existiu faz bem feito. Pesquisa, vai atrás, procura as manias, torna-se o mais semelhante possível fisicamente, faz um estudo perfeito. Então não era de se esperar menos de Del Toro, que do início ao fim nos entrega uma excelente performance, mas não se destaca, como por exemplo, Sean Penn fez em Milk ou Jamie Foxx no Ray.

A direção de Steven Soderbergh é eficiente, ainda que não seja ótima e em momento algum se aproxime da excelência. Nota-se que o diretor teve bastante dificuldade em segurar todos os atores, os momentos de ação e tudo o mais. Mas ele também não foi ajudado pelo roteiro. Aquelas cenas, transitando entre o Che virando o guerrilheiro que todos conhecemos e suas entrevistas não parecem combinar. Além de não dar tempo nem de nos importarmos com o restante dos personagens - e sinceramente, eu nem me importei muito com o Che. A impressão que dá é que não sabemos por quem eles estão lutando, parece que não há motivação maior e o espectador também não consegue se motivar nem mesmo se aliar a luta dos guerrilheiros cubanos - sim, obviamente quem tem um conhecimento prévio de História sabe o por quê da luta. Ainda assim, creio que se o roteirista Peter Buchman tivesse optado por algo mais convencional, o resultado pudesse ter saído melhor

Tirando isso, a qualidade técnica é ótima. O som é perfeito, desde sua mixagem até os efeitos cristalinos das armas, aumentando a tensão do filme por si próprio - principalmente nas cenas finais. Mas é uma pena que Soderbergh não tenha feito algo memorável, apesar da boa ideia e de tudo o que tinha na mão.

Che: O Argentino
Che: Part One, 2008
Direção: Steven Sohderbergh. Roteiro Adaptado: Peter Buchman. Elenco: Benício Del Toro, Demián Bichir, Rodrigo Santoro, Santiago Cabrera, Kahlil Mendez, Julia Ormond, Jorge Perugorria e Catalina Sandino Moreno.

3 comentários:

Tiago Ramos disse...

Ainda não tive tempo para ver, infelizmente. Mas tenho curiosidade.

Roberto Simões disse...

Eu sou mais um que não viu qualquer uma das partes do díptico. O próprio Soderbergh já disse publicamente que se arrepende de ter feito estes filmes. Acho isso vergonhoso, não?

Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD – A Estrada do Cinema

Gustavo disse...

Mmo que Soderbergh tenha boa técnica, não me parece uma proposta cinematográfica interessante. Passo.