quarta-feira, 19 de agosto de 2009

sessão retrô: clube da luta

(Atenção: É bom ler o texto apenas se tiver visto o filme, pois há detalhes demais da trama e é revelado, inclusive a suspresa do longa. Por isso, se ainda não conferiu o filme e não quer estragar a surpresa, pule este post e continue anvegando pelo blog. Depois não diga que eu não avisei, certo?)

Os anos 8o foi especial para o mundo pop: tinha aquela música inesquecível de Cindy Lauper em Goonies, tinha filmes que ajudavam a marcar uma adolescência, tinha John Hughes e suas ótimas comédias, tinha Anos Incríveis, tinha Michael Jackson, em 1985 teve o primeiro Rock in Rio aqui no Brasil. Na América Latina, a chamada década perdida. Os anos 90 começaram a todo o vapor, com o fim da Guerra Fria e a vitória do capitalismo. Aí esse vitorioso capitalismo deu espaço para o uso do cada vez mais útil computador pessoal, que deu espaço para o mercado das tecnologias, que por sua vez estava ficando cada vez mais mundial, chegando finalmente a globalização.

A década de 90 era com certeza a década que estava preparando o caminho para o que estamos vendo hoje. Em 1999, o último ano do século XX, foi o ápice de tudo. Os anos 2000 seriam outros, nada mais do que foi ia ser o mesmo: as gerações, os hábitos, tudo ia mudar. Justamente neste último o mundo conheceu uma das figuras mais marcantes de um dos últimos sobreviventes dos anos 90: Tyler Durden. E com ele veio o enigmático filme Clube da Luta.

Para explicar o personagem foi preciso fazer toda essa introdução. Se você está lendo o texto, é porque provavelmente já viu o filme (ou ignorou os avisos e veio ler assim mesmo, mas a seguir eu vou revelar a surpresa do filme. Vai continuar assim mesmo? O.k.). Trabalhando atrás de uma mesa em um grande escritório, Jack se vê infeliz, quase morto. Sua vida se resume a acordar, ir ao trabalho, voltar e tentar dormir. Sua rotina acaba matando-o e ele acaba indo em sessões de terapia em grupo de pessoas doentes, como câncer e outras doenças. Essa é a única maneira de Jack se sentir vivo. Ter alguma emoção em sua vida. Não é por acaso que ele acaba criando o personagem Tyler Durden. Fruto de sua mente perturbada, Durden representa toda uma geração que ainda resiste contra essa ideia toda. E não é por menos que o seu "projeto caos" tem como o objetivo de derrubar todas as corporações.

Mas aí é que percebemos aonde David Fincher quer chegar com o seu filme: será que Tyler Durden é tão irreal assim? Ora, todos temos um pouco de Tyler Durden em nós, a nossa vontade de viver algo real, de sentir emoções, de se sentir vivos. E Brad Pitt encarna, no que seja talvez o seu melhor papel do cinema, um Tyler Durden admirável. Ao passo em que seus atos começam a fugir cada vez mais do controle, ele se mostra confiante e calmo, sabendo o que faz. Já a personagem de Helena Bonham Carter é uma pequena ponte de Jack para o mundo real. Uma mulher solitária, que frequenta os mesmos lugares que Jack para se sentir viva também, alguém esquecida pelo próprio mundo.

A ideia do clube da luta, que dá título ao filme, é brilhante. Repleto de sacadas fantásticas. Espancar uns aos outros apenas para sentir uma pancada, apenas para sentir a emoção? O mundo é capaz de nos deixar tão loucos assim? E o que é mais louco? Tyler Durden é louco? Eu sou louco? Esse texto é louco? Você é louco? Se Jack mal conseguia compreender que criava um personagem em sua mente, imagina nós. Afinal, Tyler Durden existe. Está dentro da mente de cada um de nós.

Se você está perdido no texto, então basta apreciar Clube da Luta, especialmente a última cena, quando os prédios estão sendo derrubados ao som de "Where is my mind", do Pixies. E lembrem-se de que, quando vocês forem no clube da luta, há duas regras básicas: 1 - não falar sobre o clube da luta e; 2 - não falar sobre o clube da luta. E então, o que estamos esperando? Peguem suas armas, suas granadas e vamos gerar o caos e a anarquia!

(Neste texto eu não estou falando para destruirmos todas as corporações da sua cidade natal, nem incitando a anarquia. Mas eu realmente entro pra algum clube do luta, se alguém fizer um.)

Clube da Luta
Fight Club, 1999
Direção: David Fincher. Roteiro Adaptado: Jim Uhls. Elenco: Edward Norton, Brad Pitt, Helena Bonham Carter, Meat Loaf, Jared Leto, Zach Grenier e Richmond Arquette.

*Post feito para Gabriel Lima.

A Sessão Retrô vai passar a analisar algumas pérolas que marcaram gerações. Toda a semana. São filmes que marcaram infâncias, influenciaram uma geração ou que tem uma enorme importância para o cinema. Anteriormente:

Os Goonies
Os Saltimbancos Trapalhões

7 comentários:

Roberto Simões disse...

A genialidade reside não só nas excelentes interpretações e prestações da equipa técnica. A genialidade reside no argumento de Jim Uhls: a metáfora impera e a mensagem é muito forte. É crítica, pura crítica ao consumismo, à falta de ideais, ao domínio do lobby capitalista. É freudiano, pós-moderno, de uma enorme profundidade psicológica. É radical, serve-se da anarquia e violência como recurso de estilo. Humor muito negro, muito satírico. Completamente provocador e sem complexos. A ironia impera. É o caos contra uma ordem corrupta e desumana: uma falsa ordem, a ordem dos mais ricos.

David Fincher está genial, a originalidade brota-lhe em cada fotograma. Clube de Combate é uma obra-prima e a melhor obra da sua carreira. Um dos melhores filmes de que haverá memória.

Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD – A Estrada do Cinema

Tiago Ramos disse...

Comprei uma edição especial em DVD recentemente para rever!

Gustavo H.R. disse...

Agora entendo: quando vi o filme aos 12 anos, seu conteúdo crítico sobrevoou sobre minha cabeça, e o que restou foi uma fita de humor negro desgradável. Preciso rever, com urgência!

O Cara da Locadora disse...

Realmente é um grande filme, arrebatador, ácido, crítico... E que atuações...

Wallace Andrioli Guedes disse...

Clássico da década de 1990! E um dos melhores do Fincher. Preciso rever...

Dewonny disse...

Sem dúvida um dos filmes mais marcantes da década de 90, gostei muito, ótima lembrança!
Excelente post, até aqui, vi os 3 filmes q vc postou!
Abs! Diego!

Rafael Carvalho disse...

Não diria que Clube da Luta tem para mim gosto de sessão retrô, mas enfim, é mesmo um filmaço que sinaliza o final de uma era, ou melhor, o início de uma nova forma de vida. Não só Brad Pitt está sensacional (ajudado e muito por um excelente personagem), há de se vangloriar o trabalho de Edward Norton, totalmente perfeito no papel. Filmaço!