domingo, 13 de julho de 2008

sangue negro: quando a ambição se torna um padrão de vida


"Mas a ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela”. A frase é de Nicolau Maquiavel, e a razão para que eu resolvesse iniciar este texto com ela é que ela consegue captar toda a essência do mais recente e premiado longa de Paul Thomas Anderson, Sangue Negro.

De cara, o título original já nos diz sobre o que estaremos prestes a assistir, There Will Be Blood, ou no português, algo como vai haver sangue. Haverá sangue. Mas afinal, de quem? Ou, quanto sangue é preciso para uma pessoa atinja o objetivo? E, aliás, seria este é o sangue inocente ou sangue culpado? São muitas perguntas, mas não há nenhuma resposta. E Paul Thomas Anderson também não se preocupa em respondê-las, já que o objetivo com que ele conduz seus filmes é conseguir mostrar um estudo diferenciado sobre o ser humano. Seus defeitos e suas qualidades, suas escolhas e as negações, suas causas e as conseqüências. Nesta produção, a ambição se torna o carro-chefe de tudo que acontece em suas mais de duas horas de projeção.

O filme começa com Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis), em silenciosos quinze minutos, tentando achar alguma fonte de petróleo. Quando surge a figura de seu filho, logo vem aquela paternidade e vemos que é um homem que se preocupa com a criança – que, aos poucos, vai se tornando uma caricatura sua. Paralelamente a isso, ele recebe uma visita de um homem que diz saber onde há bastante petróleo. Daniel acha a fonte que precisava, e aos poucos vai mudando os moradores a sua volta, a começar com o pastor Eli (Paul Dano), que pede dinheiro para construir a sua Igreja, da Terceira Revelação. Aos poucos, vamos acompanhando as histórias destes dois homens, que movidos a ambição, acabam se tornando de pessoas normais a criaturas insuportáveis.

Se os dois acabam se transformando, não é só por causa do roteiro e da direção, mas mérito dos próprios atores. Daniel Day-Lewis, que nunca falhou em ser um ator eficiente, traz em Sangue Negro a sua atuação de maior destaque. Basta ver os trejeitos, e as expressões com que interpreta Daniel, nunca deixa também cair em uma caricatura, e interpreta ao mesmo tempo o vilão da história e apenas mais um homem amargurado com a vida que leva, já que a sua ambição de querer sempre mais acaba o afastando das pessoas que realmente importam a ele.

Enquanto Paul Dano, o garoto do sensível Pequena Miss Sunshine, pode até não ser corpulento nem ter uma voz mais grave, mas rende uma maravilhosa caracterização para seu personagem. Entregando-se de corpo e alma ao pastor Eli, Dano nunca falha ao compor o personagem com distinção e saber quando usar o exagero em cada cena, até porque ele interpreta cenas em que tem que tirar demônios das pessoas, e, no entanto consegue atingir o ápice de sua carreira em apenas uma cena: a do batismo. Os dois conseguem marcar cada momento em que entram em cena - a última cena é, sem dúvidas, uma das mais bem acabadas dos últimos anos.

Contando com a maravilhosa trilha de Jonny Greenwood, que consegue uma transição perfeita entre a melancolia e a simplicidade do longa de Paul Thomas Anderson, o filme é embalado com perfeição durante todo o tempo. É o filme mais caprichado do diretor. Onde ele conduz com mais perfeição as partes técnicas e artísticas, ultrapassa todos os limites e nos consegue guiar além de uma história comum. Porque, os personagens querendo ou não, vai haver sangue.

Sangue Negro
There Will Be Blood, 2007
Direção e Roteiro Adaptado: Paul Thomas Anderson. Elenco: Daniel Day-Lewis, Paul Dano, Kevin J. O'Connor e Barry Del Sherman.

4 comentários:

LETÍCIA CASTRO disse...

Um filme denso e forte, com certeza, tem que estar com vontade de assisti-lo.
Beijos!
Letícia.

Anônimo disse...

Me parece ser um otimo filme..
Vou ver .. me despertou a curiosidade..

Abç..

Camila disse...

Nossa, esse filme sangue negro parece ser muito bom, acho que eu ia gostar se assistisse, porque ele fala sobre o comportamento humano, suas atitudes e isso, particularmente, é muito importante para mim. Conhecer, analisar...
Belo blog o seu, visita o meu tbm xD

Abraços

http://devaneioconstante.blogspot.com/

Wallace Andrioli Guedes disse...

Sangue Negro é O FILME DO ANO ! Assustador, arrebatador, perfeito. P.T. Anderson e Day-Lewis juntos dão vida a uma das mais impactantes histórias que o cinema já contou.