segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Filmes vistos ou revistos recentemente


Uma semana fraquíssima (que começa sempre na noite do domingo anterior e se estende ao domingo à tarde). A maioria que chegou nos cinemas, como Educação, Um Homem SérioO Mensageiro, Um Olhar do Paraíso e o musical Nine eram inéditos para mim. Ainda de inéditos assisti ao excelente Invasores de Corpos, versão do livro de Jack Finney adapatada por Kaufman (que já foi adaptada outras três vezes para os cinemas); O Desinformante!, de Soderbergh.; e o bom Bravura Indômita. No mais, revi Monstros vs. Alienígenas, divertida animação da DreamWorks, o clássico da sessão da tarde Karatê Kid II e o fraquinho Rambo II;

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domingo, 21 de fevereiro de 2010

Um Homem Sério

Um Homem Sério é um típico filme dos irmãos Coen: cínico, sórdido, sério e divertido. Mesmo em projetos mais sérios, como o forte Onde os Fracos Não Têm Vez guarda consigo uma ironia tão grande quanto, por exemplo, a espionagem de Queime Depois de Ler ou o rapto do bebê de Arizona Nunca Mais - outros dois ótimos exemplares da filmografia dos diretores/ roteiristas. O novo longa deles, Um Homem Sério, segue a mesma linha da filmografia dos irmãos, mas com uma grande vantagem sobre os filmes anteriores: técnica.

A parte técnica do filme é fabulosa, os planos geniais (os movimentos de câmera do Bar Mitzhva ou quando Larry está no telhado, em determinado momento) mostram-se icônicos, os melhores dos irmãos Coen. A fotografia, com as cores ora coloridas, ora um pouco mais escuras do que estamos acostumado, culmina em uma cena final surpreendente, que encerra o filme perfeitamente - basta destacar também o design de som, mais uma vez muito funcional.

A atuação de Michael Stuhlbarg só ajuda. Depressivo e religioso, o homem começa a questionar a sua fé quando problemas começam a vir sem parar: a esposa pede divórcio e já está com outro homem, filhos problemáticos, parente perseguido pela polícia, uma briga com um aluno e, ainda, está para ser demitido do seu trabalho. O que é comum em diversas produções ganha um contorno muito maior com o roteiro eslaborado pelos Coen, em um texto maduro e ousado.

É óbvio que muitos não vão gostar de Um Homem Sério (particularmente, da cena final), o que é uma pena. O filme é tão profundo e reflexivo, que os detalhes são tão sutis quanto o discurso dado por um dos pastores a respeito de um dente. É uma obra sobre a decepção, sobre a amargura, da maneira mais divertida que os irmãos Coen podem oferecer ao espectador.

Um Homem Sério
A Serious Man, 2009
Direção e Roteiro Original: Joel e Ethan Coen. Elenco: Michael Stuhlbarg, Richard Kind, Fred Melamed, Sari Lennick, Aaron Wolf, Jessica McManus, Peter Breitmayer, Brent Braunschweig, David Kang, Jon Kaminski Jr., Ari Hoptman, George Wyner, Michael Tezla, Simon Helberg, Adam Arkin, Fyvush Finkel, Ronal Schultz, Michael Lerner, Allen Lewis Rickman, Yelena Schmulenson e Jane Hammill.


sábado, 20 de fevereiro de 2010

Um Olhar do Paraíso

Peter Jackson, mesmo em seus projetos menores, sempre foi um eficiente contador de histórias. Em Almas Gêmeas, filme que lançou Kate Winslet ao mundo, ele utilizou os efeitos visuais em prol da história e transformou aquela obra em uma pérola da década de 90. Em Um Olhar do Paraíso ele tem o mesmo objetivo para cumprir: unir história a efeitos visuais em uma narrativa fantasiosa e realista ao mesmo tempo.

É uma pena, entretanto, que o diretor cometa o erro mais grosseiro de sua filmografia até hoje: Um Olhar do Paraíso é bagunçado, tanto na sua estrutura narrativa quanto nos efeitos visuais. A história de Susie Salmon (Saoirse Ronan), uma garota de 13 anos assassinada pelo seu próprio vizinho (interpretado por Stanley Tucci), é contada por ela mesmo no paraíso. Ela nos conta como foi a sua terrível morte (revelada logo no início), até os momentos me que sua família ficou confusa sem sua presença e de como eles conseguiram, dificilmente, seguir em frente. 

A primeira meia hora de filme é praticamente impecável, prometendo muito, contando com uma boa fotografia, boas atuações e um suspense digno de Peter Jackson. Mas quando Susie começa a descobrir o seu paraíso, o longa enfraquece com a divisão narrativa. Jackson parece perder o controle da história, da linha temporal do filme e, principalmente, do que está querendo contar.

Entra em cena personagens como a avó, interpretada terrivelmente por Susan Sarandon, a amiga de Susie no paraíso (Nikki SooHoo), o poeta e a vidente que são esquecidos durante grande parte da projeção (eles surgem e desaparecem do nada). Sem mencionar a insistência de Jackson em introduzir um flashback desnecessário e irritante durante boa parte do filme. Além de ter um roteiro mal desenvolvido, culminando em um péssimo final - nem vou entrar no mérito de ser extremamente moralista -, que acaba combinando com as duas horas bagunçadas de Um Olhar do Paraíso.

Stanley Tucci inicia de uma maneira extremamente assustadora, mas depois parece decair junto com o filme e termina apenas correto. Saoirse Ronan está bem, como sempre; e Mark Walhberg, um ator que geralmente não gosto, ofusca Rachel Weisz (que está perdida) agindo como o pai amargurado e triste, e ele o faz muito bem.

É triste constatar que a experiência de Jackson não serviu para Um Olhar do Paraíso, que se tivesse sido bem trabalhado, quem sabe não poderia ter saído um dos melhores filmes do ano? Por enquanto, temos que nos contentar com a péssima versão dirigida pelo mesmo homem que fez dos filmes de O Senhor dos Anéis clássicos instantâneos.

Um Olhar do Paraíso
The Lovely Bones, 2009
Direção: Peter Jackson. Roteiro Adaptado: Fran Walsha, Phillipa Boyens e Peter Jackson. Elenco: Saoirse Ronan, Mark Wahlberg, Rachel Weisz, Stanley Tucci, Susan Sarandon, Jake Abel, Michael Imperioli, Reece Ritchie, Rose Mclver, Nikki SooHoo, Amanda Michalka, Thomas McCarthy, Carolyn Dando, Anna George e Christian Thomas Ashdale.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Educação


O roteiro de Educação é escrito por Nick Hornby, autor de livros que inspiraram filmes como Um Grande Garoto, Alta Fidelidade e Amor em Jogo. Os livros são bem escritos, misturando no tom certo comédia e drama, sem exageros. É de se esperar que ao se aventurar no cinema como roteirista ele nos entregue um projeto curioso, certo? Infelizmente não. 

Educação tem um roteiro manjado, sem grandes inspirações e com um final previsível - e até decepcionante.  É quase impossível assistir ao filme e não pensar "eu já vi isso no cinema antes". Se o longa não é um desastre por completo é pelas atuações, quase todas muito boas - principalmente a garota Carey Mulligan. A história da garota inteligente (Mulligan) que começa a ir pelo mau caminho quando conhece David (Peter Sarsgaard), abandona os estudos e o garoto que a ama, é tão desinteressante que nada de novo é jogado na tela. Só o que já esperávamos.

O que me chamou a atenção é o desenvolvimento dos personagens secundários ao longo do filme, seja dos pais dela (interpretados por um apenas correto Alfred Molina e uma insossa Cara Seymour) seja dos amigos de David (interpretados por um bom Dominic Cooper e uma linda Rosamund Pike). Os personagens de apoio soam falsos, não se juntando à trama de maneira orgânica, é como se eles tivessem o seu papel e apenas isso, eles não têm vida. Isso sem mencionar a personagem de Emma Thompson, deslocada da narrativa - serviu apenas para que Mulligan pudesse dar seu discurso, e só, algo que a garota poderia falar com qualquer outra pessoa, mas vá lá.

O que salva mesmo são as atuações da dupla protagonista. Carey Mulligan chega energética, conferindo uma dose de charme e inocência de uma personagem que, aos poucos, vai aprendendo a amadurecer da maneira mais difícil. Sua indicação ao Oscar me parece exagerada, mas ao menos não errada, já que a garota realmente encontra a sua personagem logo no início da projeção. E quanto a Peter Sarsgaard, um ótimo ator que não escolhe filmes mais ambiciosos, tem a oportunidade de colocar um pouco de complexidade ao seu personagem, ao mesmo tempo que nunca perde a chance de ser um galanteador. Vale destacar também o ótimo figurino e a reconstrução de época - ainda que não seja nada que chame muito a atenção.

Terminando com cenas bobas e previsíveis, Educação não é um bom filme, mas não chega a ser um desastre  e é uma pena que o roteiro de um escritor tão eficiente quanto Horby dê voltas e mais voltas, acabando sempre no lugar comum. No fim das contas, não há justificativas para ele ser lembrado como um dos melhores do ano.

Educação
An Education, 2009
Direção: Lone Scherling. Roteiro Adaptado: Nick Honby. Elenco: Carey Mulligan, Peter Sarsgaard, Alfred Molina, Cara Seymour, Dominic Cooper, Rosamund Pike, Olivia Williams, Matthew Beard, Amanda Fairbank-Hynes, Ellie Kendrick, Sally Hawkins e Emma Thompson.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

filmes vistos ou revistos na semana


(de cima para baixo: A Princesa Mononoke, Paris, Texas, Blade Runner, Caminhos Perigosos e Uma Cilada Para Roger Rabbit)

A seguir alguns comentários dos filmes que vi pela semana. São comentários pequenos, de duas ou três linhas. Nenhum substitui uma resenha mais completa. Este post também serviu para eu ver que ou eu estou mais bonzinho, dando 5 estrelas pra mais filmes, ou realmente os filmes que eu vi  (ou revi) merecem a nota. Acho que eu fico com a segunda opção. Veremos como eu vou agir nas próximas semanas.

A maioria dos filmes comentados eu vi pela primeira vez. De inédito: os que estrearam nos cinemas (com exceção de A Fita Branca), O Domínio do Olhar, Quarto 666, Mundo Proibido, A Loja Mágica de Brinquedos e o fantástico A Princesa Mononoke (sério candidato para a minha animação favorita de todos os tempos, posto que pertence atualmente à Túmulo dos Vagalumes).

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sábado, 13 de fevereiro de 2010

a fita branca


(Atenção: Se você ainda não viu A Fita Branca e se importa em ler diálogos do filme, pule diretamente para o terceiro parágrafo).
 

Em determinado momento do filme, após uma esnobada do homem, a mulher, espantada, pergunta "o que eu fiz para você?", e é surpreendida pela resposta:

"Meu Deus, você não me fez nada! Você é feia, suja, flácida e tem mau hálito. Isso basta? O lenço tem que ser esterelizado. Não fique sentada aí olhando como a morte à espreita. O mundo não vai acabar. Nem para você, nem para mim. Não posso continuar, é só isso. Eu realmente tentei pensar em outra mulher enquanto fazia sexo com você. Uma que cheirasse bem, que fosse jovem, menos decrépita que você, mas minhas imaginação não conseguiu essa fantasia. No fim é você de novo, e sinto como se fosse vomitar e tenho vergonha de mim mesmo. De que adianta isso?"

O diálogo acima é só um pouco do texto de A Fita Branca, novo filme de Michael Haneke. Ácido e por vezes cruel, o roteiro, escrito pelo próprio diretor, constrói aos poucos personagens que acabam virando um plano fundo para uma análise do comportamento humano, algo que Haneke já enfatizou em longas como Caché e Violência Gratuita. Porém, mesmo que no primeiro ele tenha se saído extremamente bem, o último (tanto o original quanto a refilmagem) não consegue encontrar um tom certo para explicar as atitudes dos sujeitos - é nas explicações que o filme peca -, ele jamais havia acertado tanto quanto em seu novo longa-metragem.

Acompanhado por uma fotografia preto-e-branco belíssima (o branco é realçado de uma forma bastante eficaz), A Fita Branca é a obra-prima de um diretor. Haneke nunca foi tão feliz ao comandar a sua câmera, ao conduzir um elenco e, principalmente, ao criar uma história tão incerta quanto a posição do narrador ante os eventos que ele contará para o espectador.

Profundo, apresentando um conflito de gerações, da própria humanidade e dos nervos pré-guerra, A Fita Branca é um filme perturbador do início ao fim. Quando chegou os créditos finais, eu tive a sensação de que eu precisaria vê-lo novamente, só assim para refletir o que eu havia visto em pouco mais de duas horas na tela.

E eu nem comentei sobre a tal fita do título - é impossível escrever sobre esta obra-prima em apenas um texto.

A Fita Branca
Das weisse Band - Eine deutsche Kindergeschichte, 2009
Direção e Roteiro Original: Michael Haneke. Elenco: Christian Friedel, Leonie Benesch, Ulrich Tulkur, Ursina Lardi, Fion Mutert, Michael Kranz, Burghart Klaubner, Steffi Kühnert, Maria Victoria Dragus, Leonard Proxauf, Levin Henning, Johanna Busse, Thibaut Sérié, Josef Bierbichler, Gabriela Maria Schmeide, Janina Fautz, Enno Trebs, Theo Trebs, Birgit Minichmayr, Sebastian Hülk, Kai-Peter Malina, Kristina Kneppek, Stephanie Amarell, Aaron Denkel, Hanus Polak Jr. e com a voz de Ernst Jacobi.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

preciosa - uma história de esperança


Quando Preciosa tem início, somos apresentados a protagonista, cujo nome é o mesmo que dá título ao filme. É quando conhecemos o lugar onde ela mora, os abusos que sofre pelos seus pais e a sua solidão na escola. Pois bem, Claireece "Precious" Jones tem dezessete anos e é obesa, negra, pobre e está grávida pela segunda vez do próprio pai, características essas dignas de preconceito e vista por desconfiança pela maioria das pessoas - motivo de chacota para a garota até mesmo pela mãe.

O roteiro falha em quebrar a narrativa constantemente para dar lugar aos devaneios de Precious, que por mais que nos ajude a estabelecer uma aproximação com a personagem, parece mais atrapalhar. Não é apenas um desmérito do roteiro, mas também da direção de Lee Daniels, que se mostra muito mais um ótimo diretor de elenco do que do filme como um todo, refletindo no resultado final.

Com um roteiro e uma narrativa apenas convencionais, sobra para os atores segurarem a produção e eles o fazem muito bem. A novata Gabourey Sidibe - é seu primeiro longa-metragem - encarna Precious de uma maneira absurdamente bem construída, expressando o drama da protagonista sem parecer piegas - é muito fácil um personagem mendigar a piedade do espectador, tornando-se artificial. Da mesma maneira, vale mencionar o ótimo desempenho de Paula Patton como a professora da garota e  boa aparição de Mariah Carey. Nem mesmo Lenny Krevitz atrapalha.

Porém, o drama emociona mesmo, torna-se pesado quando Mo'Nique, que interpreta a mãe da Precious, entra em cena, em uma atuação monstruosa. Todas as palavras que saem de sua boca são ditas com tanta intensidade, com uma tristeza, mas ao mesmo tempo com uma fúria que é difícil não temer quando a mãe ofende a filha, chamando-a de "baleia" ou acusando-a de gostar de ser abusada pelo próprio pai. E ainda assim, após todas as palavras ditas, todas as suas ações, ela consegue ainda fazer com que o espectador se emocione com a personagem em sua última aparição no filme. Trabalho de uma atriz que sabia o que estava fazendo.

A história de Preciosa não é muito diferente da maioria das jovens que moram em lugares sem oportunidades. O fato é que um longa baseado no assunto poderia soar muito bem como panfletário, denúncia, uma tentativa de polêmica, mas o longa de Lee Daniels contorna isso fácil, fácil. Pode não ser um dos melhores filmes do ano, mas é um trabalho, no mínimo, de respeito.

Preciosa
Precious: Based on the Novel Push by Sapphire, 2009
Direção: Lee Daniels. Roteiro Adaptado: Geoffrey Fletcher. Elenco: Gabourey Sidibe, Mo'Nique,  Paula Patton, Mariah Carey, Sherry Sheperd, Lenny Kravitz, Stephanie Andujar, Chyna Layne, Amina Robinson, Angelic Zambrana, Aunt Dot, Grace Hightower e Barret Helms.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

mother - a busca pela verdade

Mother é um dos maiores exemplos de como utilizar todos os recursos cabíveis pelo roteiro (como reviravoltas, pistas, drama familiar) sem se mostrar artificial ou tediante em um instante sequer. Além do mais, o diretor Bong  Joon-ho demonstra mais uma vez a sua genialidade ao conduzir a história - algo que ele já havia feito em duas obras-primas Memórias de um Assassino e O Hospedeiro.

Ao ser acusado de assassinar uma moça local, Do-joon (Won Bin) é preso como o principal suspeito do caso e assina uma confissão. Porém, Do-joon é um adulto deficiente mental e não compreende pelo o que está sendo preso - ao passo em que ele não lembra o que aconteceu na noite do assassinato. Convencida de que seu filho não é o assassino que as pessoas estão desenhando, a mãe do título (Kim Hye-ja) começa a investigar o crime por vontade própria.

A trama toda é tão bem contruída que é impossível não notar os artifícios que a mãe utiliza para encontrar a solução do crime, questionando até mesmo os seus meios para salvar o filho. O roteiro amarra todas as tramas de uma maneira habilidosa, nunca esquecendo os fatos que ele joga na tela (como um morador de rua ou um personagem menos importante que é peça-chave no filme). Importante também mencionar que a investigação é só um plano de fundo para uma importante relação da mãe e do filho, com mais mágoas e sofrimento do que se imagina.

Hye-ja tem uma belíssima interpretação no filme, mostrando a mãe com coragem e derminação, mas sempre com aqueles olhos de mãe, um sentimento que transborda a cada cena que ela aparece. Ela agrada ao espectador logo de início, e com o decorrer do longa, não importa os meios que a personagem utliza para chegar a um resultado, ainda nos identificamos com ela e não questionamos as suas ações nem suas escolhas. Acreditamos nela.

O mesmo pode-se dizer de Won Bin como o filho. Com o olhar sempre triste, vazio, ele cria um personagem tão complexo, que nunca sabemos o que esperar. Pode ser uma explosão de fúria, ele lembrar de algo da noite ou até mesmo brigar com a mãe. É importante ressaltar que estas são características importantíssimas para o seu personagem (e principalmente no filme, já que todo os detalhes são importantes aqui). Won Bin poderia tornar Do-hoon um personagem caricato (um Forrest Gump), mas decidiu ir além; construir um homem triste, sem perspectiva na vida e, ainda, confuso com a sua própria existência.

Mother é um exercício narrativo inconfundível - e é uma pena que a Academia tenha ignorado mais uma vez um trabalho maravilhoso de Bong Joon-ho. Obrigatório para quem gosta de cinema - a ainda mais para quem, assim como eu, admira cada vez mais o cinema asiático.

Mother - A Busca Pela Verdade
Madeo, 2009
Direção: Bong Joon-ho. Roteiro Original: Bong-joon Ho e Park Eun-kyo. Elenco: Bin Won, Kim Hye-ja e Ku Jin.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

guerra ao terror


Muito tem se discutido sobre o fato de as distribuidoras brasileiras terem lançado Guerra ao Terror diretamente em DVD, logo no início de 2009. Foi uma decisão incoerente, uma vez que o filme era elogiado por críticos internacionalmente, sendo desde a época de seu lançamento cotado para premiações e, inclusive, ao Oscar. Estampado logo na capa do DVD nacional, haviam os nomes de Guy Pierce, Ralph Fiennes, Evangeline Lilly e David Morse - os quatro atores não devem somar nem 30 minutos de aparição, juntos. O medo do fracasso por parte das distribuidoras era tão grande, que meses após o seu lançamento, decidiram lançá-lo nos cinemas.

É uma pena que o longa não teve uma publicidade maior nesse ano aqui no Brasil. Talvez o filme definitivo sobre a Guerra do Terror, é uma obra, no mínimo, tensa e impactante. Desde os minutos iniciais, a diretora Kathryn Bigelow nos confere a tensão do clima de guerra, em uma experiência técnica que foge dos padrões, elevando as cenas em um patamar ainda maior do que o que nos acostumamos. A habilidade com que a diretora filma, utilizando o recurso arriscado da "câmera na mão", é pura técnica. São cortes longos, zooms fechados e bem construídos, sem nunca perder o foco no que realmente importa nesse filme: a complexidade de seus personagens.

Jeremy Renner interpreta a figura mais complexa do longa. Um homem arrogante, que ignora as ordens dos superiores, mas que com o decorrer da produção nos revela humanidade, algo que Renner constrói com dignidade e fidelidade à história. E se o sargento James de Renner não parece nem um preocupado em voltar a sua cidade, o Sanborn do ator Anthony Mackie só pensa nos dias que restam para a sua unidade partir do Iraque. Mackie não se destaca, mas ganha o carisma do espectador, que compreende a vontade daquele homem em retornar para casa, no medo de nunca ter um filho, deperder tudo na guerra.

E se James não gosta de ficar longe da ação o tempo todo, o mesmo não pode ser dito de Sanborn. É essa dualidade de personalidades que os personagens têm de enfrentar nas duas horas de filme. Não há diálogos totalmente inspirados (embora há algumas sacadas muito boas), dando lugar a um estudo de personagens, da relação que eles têm com a guerra. De como eles acabam se influenciando por aquele meio, das paranóias de que um civil pode explodir a qualquer momento. Não há um certo ou o errado. Em nenhum momento os terroristas são vistos como os verdadeiros inimigos por ali. O único inimigo dos soldados é a guerra.

Guerra ao Terror
The Hurt Locker, 2009
Direção: Kathryn Bigelow. Roteiro: Mark Boal. Elenco: Jeremy Renner, Anthony Mackie, Brian Geraghty, Guy Pierce, Evangeline Lilly, Ralph Fiennes e David Morse.

* Texto publicado originalmente em 23/12/2009.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Oscar 2010: a corrida


A lista dos indicados ao Oscar foi divulgada hoje. Com boas doses de surpresa, o Oscar deste ano promete ser diferente em tudo, já que os indicados à melhor filme cocncorrerão com mais longas que o normal. A mudança de cinco indicatos na categoria principal para dez possibilitou que filmes como Up ou Um Sonho Possível ganhassem fôlego para ganhar em mais categorias, como Sandra Bullock na categoria de melhor atriz e o filme da pixar em animação.

Em sua grande maioria, as maiores surpresas foram: Gyllenhall na categoria de melhor atriz coadjuvante, por Coração Louco e a ausência nessa de alguma das atrizes de Bastardos Inglórios (Krueger ou Laurent); Il Divo, esquecido por todos, entrar em maquiagem; Guerra ao Terror como trilha sonora; e The Secret of Kells como animação, no lugar de Ponyo ou Tá Chovendo Hambúrguer.

Nas categorias técnicas, os candidatos, em sua grande maioria, são bastante eficientes. Nas categorias de som, por exemplo, as seleções foram bastante felizes. Já nas atuações, ganhou a obviedade. Embora eu não goste de ver a atuação de Bullock ser superestimada, também não acho que Damon merecia a vaga de coadjuvante, nem as coadjuvantes de Amor Sem Escalas.

Confira abaixo a lista dos indicados, com a avaliação de cada um dos candidatos conferidos. A lista será repetida nas vésperas da premiação, com os meus palpites para cada vencedor - e as avaliações para novos filmes vistos.

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