domingo, 30 de agosto de 2009

amantes

O cinema de James Gray fica cada vez mais interessante a cada filme. Seu último longa, Os Donos da Noite, é um dos melhores filmes policiais dos últims anos, conseguindo fazer uma releitura interessante daqueles policiais das décadas de 70 e 80. Naquele projeto, o diretor reuniu um elenco bastante versátil, mas a melhor atuação era, de longe, do ator Joaquin Phoenix. E, curiosamente, também é o maior trunfo deste Amantes. Terceiro longa em que o diretor e o ator fazem parceria - o primeiro longa foi em 2000, com Caminho Sem Volta-, Amantes é composto por imagens bonitas, com uma fotografia marcante, mas o filme é, principalmente, muito forte.

O roteiro consegue criar situações que, quando poderiam tornar-se as mais clichês possíveis, logo encontra uma maneira de contornar tudo e nos aproximar cada vez mais dos personagens, principalmente do protagonista, Leonard. Com uma performance invejável, Joaquin Phoenix faz um excelente trabalho ao construir seu personagem, respeitando seu histórico e aproximando o espectador cada vez mais de seu Leonard. Mas Amantes tem algo disso. Nos aproximamos do filme, lidamos com todos os nossos medos, nossas inseguranças no que diz respeito a relações e ao autodescobrimento.

Amantes é sólido, um estudo de personagem devastador. James Gray constrói um filme grande, que melhora em a cada imagem na tela. O diretor mostra cada vez mais o por quê dos seus trabalhos sempre despertarem algum tipo de curiosidade, há sempre algo novo por trás, e se não estiver, basta olhar por trás das entrelinhas. Tente fazer isso com Amantes, talvez você descubra algo.

Amantes
Two Lovers, 2008
Direção: James Gray. Roteiro Original: Ric Menello e James Gray. Elenco: Joaquin Phoenix, Gwineth Paltrow, Vinessa Shaw, Moni Moshonov, Isabella Rossellini, John Ortiz, Bob Ari, Julie Budd, Elias Koteas e Shiran Nicholson.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

sessão retrô: música

A década de 1960 foi uma década forte no que diz respeito aos movimentos culturais. Foram os anos de Woodstock, o famoso "sexo, drogas e rock'n roll". Ang Lee está lançando a sua comédia, Taking Woodstock, que chega por aqui em 18 de setembro ainda este ano, sobre o festival. Decidi fazer auma sessão retrô sobre alguns filmes sobre música. Na primeira parte, alguns filmes sobre os anos 60 - e de preferência, que tenha alguma relação com a cultura da época.

Não Estou Lá, de Todd Haynes (2007)


Eu pensei em colocar este aqui quando eu falasse nas biografias, mas não consegui. Além de ser a biografia de um dos maiores nomes da década, o cantor Bob Dylan, também consegue ser um retrato quase documental sobre a mentalidade dos jovens na época - prova disso é quando a Dylan interpretada por Cate Blanchett apresenta um rocksinho em uma feira, ao invés de suas canções-protesto, e é vaiada. O filme fala sobre 6 fases da vida de Dylan, cada uma conta com um ator diferente. Todos ótimos. Desde o garoto Marcus Carl Franklin até o Dylan de Richard Gere, passando por Ben Whishaw, Heath Ledger, Christian Bale e Cate Blanchett. Todos perfeitos. O único problema é você gostar ou não da montagem, que contou com uma ousadia brilhante de Todd Haynes, é como se ele fizesse aqui um estilo meio undergroud - experimentasse algo novo. É uma cine-biografia completamente diferente das que estamos acostumados a ver: seis atores interpretam Bob Dylan em seis fases diferentes, nenhum chama-se Bob. As histórias são independentes entre si, algumas coloridas e algumas preto-e-branco, algumas não tem uma resolução completa, dando espaço para outras. E mesmo assim, é brilhante. E, claro, conta com as músicas de Bob Dylan em sua melhor fase.

Os Reis do Iê Iê Iê, de Richard Lester (1964)


A estreia dos Beatles nos cinemas não foi uma excelência, mas foi divertida. Imagine em 1964 assistir John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison na tela grande. A Beatlemania no seu auge, todos correndo ao cinema, ingressos e salas esgotadas. Que os Beatles são uma clara influência para a música, isso não é novidade. Em uma década em que todos falavam de revoltas - Rolling Stones falavam: "vamos pintar tudo de preto' - quatro caras de Liverpool cantavam sobre amor e cotidiano. Em Os Reis do Iê Iê Iê acompanhamos um dia na vida dos Beatles. Um dia acompanhando a arrogância divertida de Lennon, a simpatia de Paul, a feiura de George e a curiosidade de Ringo, e o resultado sai positivo. Só é uma pena que em determinados momentos o filme precisa urgentemente fazer uma espécie de propaganda para os Beatles, sendo que eles não precisavam disso. Mas a figura do velhinho interpretado por Wilfrid Brambell salva a maior parte do filme.

Sem Destino, de Dennis Hopper (1969)


Sem Destino, o famoso filme Easy Rider, é o filme que sintetiza toda a rebeldia dos anos 60. Um dos maiores íones da contra-cultura da década, o longa de 1969, mostra toda a intolerância da sociedade norte-americana da época, além de ajudar a construir a imagem do motoqueiro que tanto já vimos em filmes: o cara com o casaco de couro, ao som de "Born to be Wild". Mas o filme vai além: movimentos hippies espalhados em todo o canto, uma trilha composta por Jimi Hendrix, Steppenwof e The Byrds, entre outros nomes. É puro "sexo, drogas e rock'n roll" durante toda a projeção. Além disso, tem o primeiro papel que Jack Nicholson foi indicado ao Oscar, a sua primeira grande atuação. Dennis Hopper dirige e estrela, ao lado de Peter Fonda, este filme que anos mais tarde traria consigo o título de cult.

Próximas atrações: Ray, The Doors, Tommy, Quase Famosos, This is Spinal Tag e até Escola de Rock, entre outros.

A Sessão Retrô vai passar a analisar algumas pérolas que marcaram gerações. Toda a semana. São filmes que marcaram infâncias, influenciaram uma geração ou que tem uma enorme importância para o cinema. Anteriormente:

Os Goonies
Os Saltimbancos Trapalhões
Clube da Luta

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

se beber, não case!

Comédia vem sendo um gênero cada vez mais discutível. Quando se trata de comédia vindo de Hollywood, o gênero já virou sinônimo de "bobagem" pela maioria das pessoas, e as chamadas "comédias inteligentes" estão vindo cada vez com menos representantes, dando espaço a aqueles filmes adolescentes apelativos - imitando American Pie até hoje -, ou para os filmes produzidos por Appatow - que tem bons representantes no gênero. Todd Phillips é, assim como a maioria dos diretores do gênero em Hollywood, um diretor com muitos erros e alguns acertos. Seu último filme para o cinema, Escola de Idiotas, é, com o perdão do trocadilho, idiota demais. Em contrapartida, ele já havia nos dado sinal de timing cômico com o mediano Starsky & Hutch ou com o bom Dias Incríveis.

Por isso é admirável ver a sua evolução no gênero com este Se Beber, Não Case!. Escrito a quatro mãos por Jon Lucas e Scott Moore, o longa tem início já com uma cena de Phil explicando para a noiva de Doug que o perderam na despedida do solteiro, falando que o casamento não vai acontecer. Depois somos apresentados aos personagens e a viagem dos quatro para Las Vegas. Logo em seguida de um drink, não sabemos o que os quatro fizeram naquela noite, só sabemos que três deles estão acordando com uma ressaca, sem nem lembrar o que os deixou daquele jeito.

O roteiro dá várias pistas e, aos poucos, acabamos descobrindo, por exemplo, o por quê de um bebê encontrado no armário ou o por quê do dentista não ter mais o dente. E enquanto isso vai acontecendo, somos bombardeados com situações constrangedoras, personagens ainda mais loucos que os amigos e atuações afinadas de todo o elenco. Para começar com o destaque, Zach Galifianakis, interpreta o seu Alan como um cara solitário, sem muitos amigos e esta viagem acaba se tornando praticamente a melhor coisa para ele. Mas Galifianakis tem o timing cômico preciso e vai mais além: as cenas em que ele apenas abre a boca, já são motivo para levar o espectador a risadas - notável também que o ator não tem vergonha de mostrar o seu porte físico para nada.

E enquanto isso, Ed Helms tem a difícil tarefa de incoporar o certinho da turma. Mas Helms é tão bom ator de omédia que isso não interfere em nada. Muito pelo contrário, a sua história é uma das mais fascinantes do longa, principalmente o que ele acabou fazendo na noite em Las Vegas e, sua reação ao saber é ótima. Em seguida temos Bradley Cooper como a espécie de líder do grupo - se é que o grupo tem um líder. Seu Phil é um cara que não gosta de sua vida, por isso a viagem a Vegas é perfeita para o personagem: sem mulher, sem filhos, sem alunos, só ele. E Cooper pode não ter o perfeito timing cômico como os seus colegas de elenco, mas chega bem perto e não chega a atrapalhar em nada. E tem uma linda e divertida Heather Graham, que só vinha escolhendo porcaria, finalmente tem a chance de voltar em uma comédia de verdade - e sua personagem é ótima.

A química que os três constróem ao longo do filme é perfeita. Não podia ser melhor. A premissa dos três amigos lembra um pouco o Dias Incríveis, mas aqui Phillips leva as trapalhadas do grupo para um patamar totalmente diferente. O diretor evolui e com ele, as piadas também, mais pelo trio protagonista, que é surpeendentemente bem desenvolvido pelo roteiro. Ao lado de Eu Te Amo, Cara, uma das comédias do ano.

Se Beber, Não Case!
The Hangover, 2009
Direção: Todd Phillips. Roteiro Original: Jon Lucas e Scott Moore. Elenco: Bradley Cooper, Ed Helms, Zach Galifianakis, Justin Bartha, Heather Graham, Sasha Barrese, Ken Jeong, Jeffrey Tambor, Rachael Harris, Rob Riggle, Cleo King, Bryan Callen, Matt Walsh, Mike Epps, Dan Finnerty, Jernard Burks, Ian Anthony Dale, Michael Li, Sondra Currie, Gillian Vigman, Nathalie Fay e Mike Tyson.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

sessão retrô: clube da luta

(Atenção: É bom ler o texto apenas se tiver visto o filme, pois há detalhes demais da trama e é revelado, inclusive a suspresa do longa. Por isso, se ainda não conferiu o filme e não quer estragar a surpresa, pule este post e continue anvegando pelo blog. Depois não diga que eu não avisei, certo?)

Os anos 8o foi especial para o mundo pop: tinha aquela música inesquecível de Cindy Lauper em Goonies, tinha filmes que ajudavam a marcar uma adolescência, tinha John Hughes e suas ótimas comédias, tinha Anos Incríveis, tinha Michael Jackson, em 1985 teve o primeiro Rock in Rio aqui no Brasil. Na América Latina, a chamada década perdida. Os anos 90 começaram a todo o vapor, com o fim da Guerra Fria e a vitória do capitalismo. Aí esse vitorioso capitalismo deu espaço para o uso do cada vez mais útil computador pessoal, que deu espaço para o mercado das tecnologias, que por sua vez estava ficando cada vez mais mundial, chegando finalmente a globalização.

A década de 90 era com certeza a década que estava preparando o caminho para o que estamos vendo hoje. Em 1999, o último ano do século XX, foi o ápice de tudo. Os anos 2000 seriam outros, nada mais do que foi ia ser o mesmo: as gerações, os hábitos, tudo ia mudar. Justamente neste último o mundo conheceu uma das figuras mais marcantes de um dos últimos sobreviventes dos anos 90: Tyler Durden. E com ele veio o enigmático filme Clube da Luta.

Para explicar o personagem foi preciso fazer toda essa introdução. Se você está lendo o texto, é porque provavelmente já viu o filme (ou ignorou os avisos e veio ler assim mesmo, mas a seguir eu vou revelar a surpresa do filme. Vai continuar assim mesmo? O.k.). Trabalhando atrás de uma mesa em um grande escritório, Jack se vê infeliz, quase morto. Sua vida se resume a acordar, ir ao trabalho, voltar e tentar dormir. Sua rotina acaba matando-o e ele acaba indo em sessões de terapia em grupo de pessoas doentes, como câncer e outras doenças. Essa é a única maneira de Jack se sentir vivo. Ter alguma emoção em sua vida. Não é por acaso que ele acaba criando o personagem Tyler Durden. Fruto de sua mente perturbada, Durden representa toda uma geração que ainda resiste contra essa ideia toda. E não é por menos que o seu "projeto caos" tem como o objetivo de derrubar todas as corporações.

Mas aí é que percebemos aonde David Fincher quer chegar com o seu filme: será que Tyler Durden é tão irreal assim? Ora, todos temos um pouco de Tyler Durden em nós, a nossa vontade de viver algo real, de sentir emoções, de se sentir vivos. E Brad Pitt encarna, no que seja talvez o seu melhor papel do cinema, um Tyler Durden admirável. Ao passo em que seus atos começam a fugir cada vez mais do controle, ele se mostra confiante e calmo, sabendo o que faz. Já a personagem de Helena Bonham Carter é uma pequena ponte de Jack para o mundo real. Uma mulher solitária, que frequenta os mesmos lugares que Jack para se sentir viva também, alguém esquecida pelo próprio mundo.

A ideia do clube da luta, que dá título ao filme, é brilhante. Repleto de sacadas fantásticas. Espancar uns aos outros apenas para sentir uma pancada, apenas para sentir a emoção? O mundo é capaz de nos deixar tão loucos assim? E o que é mais louco? Tyler Durden é louco? Eu sou louco? Esse texto é louco? Você é louco? Se Jack mal conseguia compreender que criava um personagem em sua mente, imagina nós. Afinal, Tyler Durden existe. Está dentro da mente de cada um de nós.

Se você está perdido no texto, então basta apreciar Clube da Luta, especialmente a última cena, quando os prédios estão sendo derrubados ao som de "Where is my mind", do Pixies. E lembrem-se de que, quando vocês forem no clube da luta, há duas regras básicas: 1 - não falar sobre o clube da luta e; 2 - não falar sobre o clube da luta. E então, o que estamos esperando? Peguem suas armas, suas granadas e vamos gerar o caos e a anarquia!

(Neste texto eu não estou falando para destruirmos todas as corporações da sua cidade natal, nem incitando a anarquia. Mas eu realmente entro pra algum clube do luta, se alguém fizer um.)

Clube da Luta
Fight Club, 1999
Direção: David Fincher. Roteiro Adaptado: Jim Uhls. Elenco: Edward Norton, Brad Pitt, Helena Bonham Carter, Meat Loaf, Jared Leto, Zach Grenier e Richmond Arquette.

*Post feito para Gabriel Lima.

A Sessão Retrô vai passar a analisar algumas pérolas que marcaram gerações. Toda a semana. São filmes que marcaram infâncias, influenciaram uma geração ou que tem uma enorme importância para o cinema. Anteriormente:

Os Goonies
Os Saltimbancos Trapalhões

terça-feira, 18 de agosto de 2009

arrasta-me para o inferno

Na mesma sessão em que eu estava assistindo Arrasta-me Para o Inferno o pessoal dava gargalhadas com o filme, afirmando o tempo todo que o longa era de comédia, e não de terror. Pensei por um instante nos comentários e compreeendo o por quê do público em geral não o classificar como terror. Para esse público acostumado com o terror adolescente em que uma garota semi-nua corre de um assassino ou um epírito vingativo, o chamado horror clássico não chama a atenção. Justamente por adivinharmos tudo o que vem em seguida.

Por exemplo: a jovem Allison Lohman (ah!, Alisson Lohman) está em sua casa fazendo sua comida. Quando de repente, barulhos inquietantes começam a perturbá-la. O diretor Sam Raimi tinha dois caminhos aí: o primeiro era fazer Lohman (ah!...) se aproximar da porta no silêncio incômodo, esperar alguns segundos e mostrar rapidamente a face de aguém na janela; ou simplesmente criar algo mais criativo. Mas Raimi escolhe a primeira opção, e vai além: ele chega a mostrar os vultos do tal espírito perseguindo a personagem.

Um caminho que poderia levar o diretor a cair no mais clichê possível, mas aí é que está a força e a diferença de Arrasta-me Para o Inferno. Sam Raimi não está interessando em criar um terror realmente tenso e assustador, é apenas um filme que acaba trazendo o melhor do horror nas telas novamente. E homenagens tem de sobra: desde os planos até as maiores gosmas saindo da boca de Allison Lohman (ah!...). Por isso, Raimi não se cansa em exagerar na maioria das cenas em que o espírito age contra a Christine (ah, Allison Lohman!...) ou mesmo na simplicidade que a história é contada - o único defeito, ao meu ver, é um pouco do exagero dos efeitos visuais em algumas cenas.

Não há um terror absurdo ou incômodo, mas há algo de novo em Arrasta-me Para o Inferno. Sempre jogando com as nossas expectativas, o novo filme de Sam Raimi é um acerto, do início ao fim. Desde os ótimos planos bem sacados até as homenagens daquele horror já esquecido, mas que ainda marca muito. E com a presença da linda Allison Lohman no papel principal então, só melhora.

Arrasta-me Para o Inferno
Drag Me To Hell, 2009
Direção: Sam Raimi. Roteiro Original: Sam Raimi e Ivan Raimi. Elenco: Allison Lohman, Justin Long, David Paymer, Lorna Raver, Dileep Rao, Adriana Barraza, Reggie Lee, Chelcie Ross, Molly Cheek e Kevin Foster.

sábado, 15 de agosto de 2009

festival de gramado 2009: xuxa ataca novamente

O Festival de Gramado é talvez o festival mais respeitado no Brasil no que diz respeito ao cinema, não só pelo enorme público que o acompanha, mas também pela cobertura que a mídia oferece, ano em ano. Espaço em televisão, nos jornais e até mesmo em revistas, o festival reúne celebridades de todo o país e dá espaço também para filmes da América Latina na confortável cidade de Gramado, aqui no estado do Rio Grande do Sul.

No entanto, todos se surpreenderam com a notícia de que Xuxa seria homenageada. O motivo? Por ter levado mais de 30 milhões de pessoas ao cinema graças aos seus filmes e por motivar cada vez mais as crianças a apreciarem o cinema. Poderia ser algo que chamasse a atenção, se não fosse pelo simples fato de que ela não merecia esse prêmio. Óbvio que ela marcou infância e tem sua importância para as crianças até hoje, mas confundir seu trabalho na televisão ou em seus DVD's com a qualidade de seus longas é estupidez.

E dito e feito: Xuxa foi extremamente arrogante em seu discurso, principalmente ao falar a frase do Zagallo: "Eles tiveram que me engolir". Além do cachê de R$ 60.000,00 que ela recebeu por simplesmente aparecer uma hora e meia, dar um discurso inútil e ir embora. Ela falou de preconceitos por ser do interior, por ter morado no subúrbio do Rio de Janeiro, eu não vejo qual o preconceito que ela passou, mas deve ter sido, no mínimo, traumatizante, não? E a pior parte é que ela não entende é que não é só pela pessoa dela que a maioria das pessoas não gosta, é simplesmente por ela protagonizar episódios, no mínimo, icônicos.

O filme Amor, Estranho Amor teve que ser censurado pelo fato de ela aparecer seduzindo um jovem garoto. Ou seja: a obra do diretor Walter Hugo Khouri é como se não existisse mais na história do Brasil. Vale lembrar que o filme teve atores como Vera Fisher e Tarcísio Meira no elenco, e que Xuxa Meneghel era uma espécie de coadjuvante na produção.

O que me remete a algo que Xuxa disse em seu discurso: "Eu não me arrependo de nada". Será mesmo? Então por que ela tem tanta vrgonha de seu filme? Deve ser porque mancha no seu título de Rainha dos Baixinhos. Só não vamos confundir as coisas como alguns jornais e revistas fizeram, de chamá-la de Rainha do Cinema. O melhor mesmo foi o ator gaúcho Zé Victor Castiel subindo ao palco logo depois da auto-exibição de Xuxa e chamando a atenção do público: "Vamos voltar ao cinema". Pelo jeito, não somos só nós que percebemos o quanto foi estúpida a ideia de homenageá-la.

De olho:

Se antes A Teta Assustada, de Claudia Llosa já me chamava o mínimo de atenção, agora ainda mais, venceu os prêmios de melhor filme estrangeiro, melhor direção, melhor atriz para Magaly Solier e também venceu o prêmio de melhor filme estrangeiro do júri composto por estudantes de cinema. A Teta Assustada estreia no dia 28 de agosto aqui no Brasil. No circuito nacional, venceu o longa Corumbiara, que não me atraiu muito. Ele venceu ainda o prêmio de direção para Vincent Carelli, que divide o título com Paulo Nascimento por Em Teu Nome. Também levou os prêmios de melhor filme do júri popular e do júri composto por estudantes de cinema, arrancando também o Kikito de melhor montagem para Mari Côrrea. Já na Mostra Gaúcha, venceu De Volta ao Quarto 666, de Gustavo Spolidoro. Este me chamou atenção já pelo Ainda Orangotangos, agora finalmente voltou a atiçar a minha curiosidade. Espero que entre no circuito em breve.

A lista completa dos vencedores pode ser acessada aqui, no site oficial do Festival.

Bom, então é isso por hoje. Um post especial para Gramado e suas esquisitices.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

inimigos públicos

Inimigos Públicos podia muito bem virar um filme no maior estilo gato-e-rato, daqueles cansativos. Onde o gângster corre de um incasável policial durante toda a projeção. Sim, podia, pois Michael Mann não se contenta com esse jogo de gato-e-rato e resolve filmar com classe seu projeto, criando imagens belíssimas, ótimas cenas e uma história de amor que move todo o longa.

Ao passo em que o roteiro peca por não dar espaço o suficiente para Christian bale desenvolver seu personagem (inexpressivo, na hora da entrevista parece mais com um robô do que qualquer outra coisa), a história consegue firmar um relacionamento fortíssimo entre o gângster Johnny Dillinger e Billie. Mas o mérito é dos atores, Johnny Depp e Marion Cotillard, respectivamente. Depp, sóbrio, sem os exageros que seus personagens costumam pedir, constrói seu personagem de maneira adequada. Não é um matador sem coração, e apenas um romântico tentando dar a sua garota tudo o que ela realmente quer, porém seu único erro é justamente o não pensar no amanhã. E mesmo com isso, sua garota ainda o segue com uma crescente dedicação e aí vem o ponto alto do filme: Marion Cotillard. A atriz tem pouco espaço na tela, mas o utiliza sempre da melhor maneira possível, da cena em que os dois se conhecem até a do espancamento (uma das melhores do longa), Cotillard brilha em todos. Apesar de sua fragilidade emocional, Billie vai crescendo aos poucos com Dillinger e a segurança dela vai aumentando, mesmo ciente de todos os riscos.

É notável a relação entre Depp-Cotillard. Tal como a direção de Michael Mann, sempre ágil e coerente com o cenário que ele acaba transformando Inimigos Públicos. Há pelo menos três cenas memoráveis: a segunda fuga da prisão, o tiroteio noturno no bosque e o interrogatório de Billie. Naquele momento, Marion Cotillard dá um pequeno show de interpretação, tal como os ótimos enquadramentos usados por Mann. Inimigos Públicos não é um grande filme, mas não sai da memória tão cedo.

Inimigos Públicos
Public Enemies, 2009
Direção: Michael Mann. Roteiro Adaptado: Ronan Bennett, Michael Mann.e Ann Biderman. Elenco: Johnny Depp, Christian Bale, Marion Cotillard, David Wenham, Christian Stolte, Jason Clarke, Stephen Dorff, Channing Tatum, Rory Cochrane, Branka Katic, Emilie de Ravin, Leelee Sobieski, Stephen Lang, Giovanni Ribisi, Billy Crudup, Bill Camp, John Ortiz, Stephen Graham e Lili Taylor.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

o fabuloso destino de amélie poulain

Amélie Poulain é um personagem. Um personagem que poderia muito bem representar eu, você, aquele teu vizinho ou vizinha, a mãe, o pai, ou qualquer outra pessoa. Ela é os nossos olhos, observadora. Observando uma cidade e imaginando outra na cabeça, mas sempre avistando as pessoas. Como as pessoas são óbvias, não? Amélie Poulain é a chamada fuga da realidade, em que ela se apoia em uma Paris fantasiosa. Uma Paris que poderia ser muito bem a cidade em que moramos.

A personagem que dá título ao filme é extremamente convencional, mas com uma criatividade admirável, pois seus pensamentos vão longe, longe... Como se uma justificativa para um atraso fosse alvo dos pensamentos mais fantásticos. Mas O Fabuloso Destino de Amélie Poulain talvez seja exatamente sobre isso: a natureza humana, refletida por várias formas e pessoas, variações que percebemos em nosso cotidiano. E o filme talvez não fosse dar tão certo se não tivesse a protagonista na medida certa. Audrey Tautou no seu melhor papel, incorpora uma Amélie Poulain como uma garota normal, mas que possui apenas um excesso de imaginação. Uma garota solitária, que acaba fugindo de sua realidade e acaba criando uma outra Paris, uma fantasia que define a cidade em que sempre viveu da maneira mais sonhadora possível. Chegamos então ao ponto em que define todo o filme: Amélie Poulain, apesar de ser aparentemente solitária e tudo o mais, é adorável o suficiente para nunca cansarmos dela e de seu jeito.

E seja pelas cores alegres ou pela bela trilha composta por Yann Tiersen, ou pela maravilhosa fotografia de Bruno Delbonell, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain é um daqueles filmes que a atriz protagonista, Audrey Tautou, é o centro das atenções. Exatamente como Amélie Poulain gosta, talvez por isso tenha dado tão certo.

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
La Fabuleux Destin d'Amélie Poulain, 2001
Direção: Jean-Pierre Jeunet. Roteiro Original: Jean-Pierre Jeunet e Guillaurme Laurant. Elenco: Audrey Tautou, Mathieu Kassovitz, Rufus, Yolande Moreau, Artus de Penguem, Urbain Cancelier, Maurice Bénichou, Dominique Perron, Michel Robin, Isabelle Nanty e James Debbouze.

*Post feito para Taís Lago.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

sessão retrô: os saltimbancos trapalhões

Eu estava vendo os comentários dos filmes no blog e percebi que comentei apenas quatro produções nacionais em todo o tempo que tenho o Cinemania. Sendo desses, apenas um que eu achei realmente bom (o documentário Estamira). Então, decidi ampliar um pouco os longas brasileiro na sessão retrô, uma ótima oportunidade para falar de um longa que marcou a infância de muita gente dos anos 80 e dos anos 90 - e se a sessão da tarde ainda passasse, quem sabe dos anos 2000 também? Estou falando dos Saltimbancos Trapalhões, o melhor filme dos Trapalhões, a trupe comandada por Renato Aragão.

Fiquei surpreso ao me dar conta que o filme não envelheceu. Os temas que a produção bate a tecla são recorrentes nos tempos atuais, tanto que é admirável perceber que a mente das pessoas não mudaram nada dos anos 80 até o dia de hoje - e a cena em que os Trapalhões vão pedir um pouco de dinheiro ao Barão é divertídissima. São temas sociais como a exploração do trabalhador, a ingenuidade de alguns e a quando o dinheiro move as pessoas a tal ponto em que as pessoas não são nada do que meros burros de carga. Um tema óbvio, mas que para um filme de comédia soa um tanto irônico. Afinal, divertir-se a custa de tudo isso, sem torná-lo um drama qualquer ou algo do gênero é mais uma marca dos Trapalhões.

Um outro ponto a se observar é a diferença entre o elenco: Didi encarna o protagonista, sempre que pode tenta roubar um pouco mais a cena, mas não chega a trapalhar; Dedé é o mais prejudicado em questão de tempo, já que Mussum e Zacarias fazem a dupla mais divertida dos Trapalhões e nesse filme não é diferente - são os dois que têm as melhores piadas e que fazem tanto as gags físicas fazerem efeito. Como o elenco secundário quase não é muito importante nos filmes dos Trapalhões, apenas Lucinha Lins se destaca como uma mocinha diferente e não se importa em participar das palhaçadas que o grupo arranja. Os outros atores estão bem, mesmo caricatos - e não há muito o que exigir do elenco, já que o que realmente importa são mesmos os quatro saltimbancos.

Mas há outro elemento que faz o filme muito mais do que ele aparenta: sua música. Compostas por Chico Buarque - que também escreve a peça que o filme é baseado -, Sérgio Bardotti e Luiz Bacalov, as seqüências musicais são bem conduzidas por J.B. Tanko - com destaque para Hollywood, na voz de Lucinha Lins. Seja como for, os Trapalhões sempre divertiram o público brasileiro, seja na televisão ou no cinema. E mesmo que as famosas gags físicas não tem mais graça, o humor inocente de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias cativam e, com o carisma de seus personagens, não precisam apelar. Só isso já é de bom tamanho para dar vida longa aos filmes desses quatro.

Os Saltimbancos Trapalhões
Idem, 1981
Direção: J.B. Tanko. Roteiro Adaptado: J.B. Tanko e Gilvan Pereira. Elenco: Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum, Zacarias, Lucinha Lins, Eduardo Conde, Mário Cardoso, Mila Moreira, Paulo Fortes e Ivan Lins.

A Sessão Retrô vai passar a analisar algumas pérolas que marcaram gerações. Toda a semana. São filmes que marcaram infâncias, influenciaram uma geração ou que tem uma enorme importância para o cinema. Anteriormente:

Os Goonies

sábado, 1 de agosto de 2009

três filmes atrasados

Dragonball: Evolution, de James Wong
Dragon Ball é um dos mais queridos animes da televisão dos últimos tempos. As tramas, tão oriundas da cultura japonesa, são difíceis de se adaptar ao cinema, principalmente realizados a partir da cultura ocidental. Vou até mais além: o anime não tem motivos para ir às telas grandes. Além de criar uma releitura deplorável para o seriado de Goku e cia., o filme inventa uma fase no maior estilo Smallville para contar a juventude do guerreiro alienígena. Trucidar a história de Dragon Ball é apenas o começo para esse amontoado de besteiras que somos obrigados a ver por 88 minutos seguidos. O roteiro é péssimo, muito parecido com aqueles filmes que não possuem orçamento nem atores conhecidos - o que não é o caso deste aqui -, e além do mais é visível a pressa que os produtores tinham em realizar o longa em virtude da greve dos roteiristas. Justin Chatwin, sempre ruimzinho, é inexpressivo e mal consegue entender o próprio filme em que está atuando. Emmy Rossum precisando de alguns trocados e o personagem Yamcha é um que podia ter ficado de fora que não iria fazer falta - assim como todos os outros coadjuvantes. Quanto a Chow Yun-Fat, como ator veterano que é, realmente sabe o que está fazendo no meio de tanta confusão e se diverte ao máximo. Mas seria bom que da próxima vez, o roteirista Ben Ramsey não só assistisse o seriado e escrevesse algo com nexo. E o pior é que nem dá aquele sentimento nostálgico...

O Equilibrista, de James Marsh
O quanto se mede a paixão de um homem? As enormes barreiras, que antes parecem tão intransponíveis, parecem pequenas aos olhos de Phillipe Petit, um francês equilbrista que sonha em andar por uma corda bamba no alto das duas torres gêmeas. Realizar um documentário sobre um homem que sonh em se equilibrar entre as duas torres do World Trade Center pode ser mais um enche linguiça, à primeira vista. Mas somente durante o processo, percebemos o quanto aquilo era importante para ele, não era para se mostrar perante Nova York e sim realizar um sonho, algo que o faria feliz para o resto de sua vida. Considerado o maior golpe artístico dos últimos tempos, Phillipe Petit - simpático, o francês - não está apenas revelando os detalhes de como eles conseguiram erguer o cabo ou como ele se sentiu bem fazendo aquilo, está mostrando o valor de trabalho e sacrifício para fazer o que sempre quis. O ser-humano vive em uma corda bamba todos os dias, só resta saber se vamos arriscar a ultrapassá-la ou aumentar cada vez mais as enormes barreiras de nossas vidas. Um dos filmes mais bonitos do ano.


Eu Te Amo, Cara, de John Hamburg
Essa nova safra de comédias de Apatow me chama atenção. Sua produtora conseguiu realizar algumas das mais divertidas comédias de besterol dos últimos anos (O Âncora, Superbad, Ressaca de Amor) mas também consegue reunir um elenco sempre afiado. Enquanto alguns não dão muito certo na comédia, outros fazem por merecer e recebem o papel de protagonista. Este é Paul Rudd, sempre presente nas comédias de Apatow como coadjuvante, tem a chance de encarar a comédia finalmente como o protagonista e ganha um reforço de peso. E é admirável que este filme consegue se aproximar facilmente de uma comédia produzida por Apatow, mas aqui tudo é um pouco mais superior - como a dosada das referências à cultura pop. Em vez do elenco de apoio de sempre, aqui tem os ótimos Rashida Jones (das séries de TV The Office e Parks and Recreation), Jon Favreau (diretor de Homem de Ferro e ator de Swingers, Um Duende em Nova York...), J.K. Simmons (Queime Depois de Ler), Andy Samberg (de Hot Road e Saturday Night Live), Jaime Pressly (da série de TV My Name is Earl) e, claro, Jason Segel. Segel, enriquecido pela performance em Ressaca de Amor, aqui administra com inteligência um papel que poderia cair facilmente na mediocridade. Mas não. Segel cria, com uma naturalidade espôntanea, um personagem carismático e divertido, e ao lado de Paul Rudd, cria as melhores cenas do filme. Eu Te Amo, Cara não é uma comédia perfeita, mas é divertida o suficiente para levantar o nosso humor. E não é esse o objetivo de uma comédia, afinal?