domingo, 22 de novembro de 2009

scorsese revisitado: gangues de nova york


Assisti a Gangues de Nova York pela primeira vez em 2002, ainda no cinema. O resultado foi insatisfatório. Mas eu tinha apenas 12 anos, eu não sabia nem quem era Martin Scorsese, mas o filme havia me deixado traumatizado. Recentemente, em uma impulsividade enorme, acabei comprando uma cópia para assistir novamente. Na realidade, fui na loja com o objetivo de comprar Taxi Driver, que estava em promoção. Esgotado. Mas eu iria sair com um Scorsese e lá estava Gangues de Nova York em promoção. Levei-o (junto com O Massacre da Serra Elétrica original).A experiência de assistir ao filme, após sete anos, foi outra.

O início já impressiona pela reconstrução da cidade de Nova York, mas vai além. A batalha, comandada com louvor por Scorsese, já faz questão de nos apresentar aos principais personagens do longa, sem enrolação: desde o garoto Amsterdam Vallon ao açougueiro interpretado por Daniel Day-Lewis, passando por John C. Reilly (que não fala nada neste início) e ao mercenário vivido por Brendan Gleeson. A batalha das gangues, esta cena inicial, tinha tudo para dar errado, com as insistentes câmeras lentas utilizadas, mas foi tudo tão bem feitinho que o realismo dado à cena foi perfeito.

A direção de arte é espetacular. Toda a reconstrução de Nova York, desde os ótimos figurinos e aos locais, todos tratados com um detalhismo singular - bastante comum em produções de Scorsese, como em A Época da Inocência ou O Aviador. O diretor é hábil em aproveitar as locações, em criar planos belíssimos e momentos marcantes. Acompanhado de uma bela trilha-sonora, Scorsese ainda consegue transformar uma simples história em algo maior, mais magnífico.

Mas ele ganhou ajuda. Daniel Day-Lewys rouba cada cena em que aparece, construindo o seu açougueiro em uma figura imponente, ora contida, ora explosiva - claro que o ator também tem uma facilidade muito grande em construir os seus personagens, explorando muito bem sua complexidade. Leonardo DiCaprio inicia aqui a parceria com o diretor, começando a dar indícios de seu talento - que pôde ser comprovado em O Aviador, anos mais tarde. E quanto ao resto do elenco, pode-se dizer que Cameron Diaz está em seu melhor papel, John C. Reilly sempre bem e Jim Broadbent chega com muita energia. Liam Neeson tem pouco tempo na tela, mas transforma seu pastor em um herói e quanto a Brendon Gleeson faz o que pode com o seu personagem, mas o resultado sai positivo.

Enfim, Gangues de Nova York me revelou o Scorsese que eu não havia visto em 2002. Naquele tempo eu não havia levado em consideração que com os pequenos detalhes, Scorsese eleva seu filme a um novo patamar. Controverso e difícil de lidar - dá para entender o motivo de quase ninguém gostar dele -, o filme já está na minha lista dos favoritos da década. E como tudo o que é bom, merece ter ainda uma segunda revisão, para eu poder dirigir este maravilhoso épico dirigido por um dos diretores mais competentes do Cinema.

Gangues de Nova York
Gangs of New York, 2002
Direção: Martin Scorsese. Roteiro Adaptado: Jay Cocks, Steven Zaillian e Keneth Lonergan. Elenco: Leonardo DiCaprio, Daniel Day-Lewys, Cameron Diaz, Jim Broadbent, John C. Reilly, Henry Thomas, Brendon Gleeson, Roger Aston-Griffiths, Liam Carney, Stephen Graham, Gary Lewis, Gary McCormack, Liam Neeson, Cara Seymour, Dominique Vandenberg e Andrew Gallagher.

* Desculpem pela falta de posts, mas meu tempo está cada vez mais escasso. Um dos motivos também é ter me viciado em Sons of Anarchy e não ter visto muito mais filmes como via há algum tempo atrás. Mas isso vai mudar. Em que eu desperdiço R$ 5,00? Em um filme-catástrofe com efeitos visuais impressionantes e uma história previsível ou a continuação de Crepúsculo, Lua Nova, sendo que eu acho a história uma piada, o livro é mal-escrito, os atores são péssimos e os efeitos visuais são uma grande porcaria? Grande dúvida! Penso em assistir a Os Fantasmas de Scrooge mesmo... Fim do mundo, vampiros-purpurina ou Jim Carey animado?

8 comentários:

Tiago Ramos disse...

Não conheço quase nada do realizador, mas tenho aproveitado este mês para isso. Novembro é mês de Martin Scorsese no blogue Split Screen, Cineroad, Cinema is my Life e Flavio's World.
Gangs of New York ainda hei-de ver...

Roberto Simões disse...

Em si e por si, «Gangs de Nova Iorque» constitui um autêntico colosso, com uma abertura e um desfecho verdadeiramente memoráveis e geniais e onde a personalidade colectiva de uma identidade por definir tende a assumir, ao longo de todo o filme, o protagonismo; ainda muito mais do que a poderosa e brilhante interpretação de Daniel Day-Lewis.

5*

Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema

Bruno Soares disse...

acho q eu já tinha passado por aqui (pq meu blog tá no seu blogroll) mas agora vou começar a frequentá-lo mais constantemente.

Sobre o filme, achei curioso vc dizer: "O resultado foi insatisfatório. Mas eu tinha apenas 12 anos, eu não sabia nem quem era Martin Scorsese".

comigo foi o contrário: gostei na época pq tb não comnhecia. hoje sou um grande fã dele, mas não de O AVIADOR e GANGUES.

O Cara da Locadora disse...

É sempre uma experiência gratificante revisitar "velhos" filmes... To querendeo rever agora, rs...

Gustavo disse...

Coincidentemente, também não me impressionei com o filme quando o vi, tinha uns 16 anos. Lendo seu texto, parece que nos beneficiamos com o acumular de conhecimento e maturidade.

Vou rever também ,algum dia.

Wallace Andrioli Guedes disse...

Eu me impressionei com GANGUES desde seu lançamento, e acho-o um dos filmes mais subestimados dessa década. Por falar em década, a interpretação do Day-Lewis está entre as melhores desses últimos 10anos.

Cleber Eldridge disse...

Scorsese é um mestre, e por mais que todos digam que este é o seu mais fraco, eu gosto muito tem uma tecnica excelente!

Rafael Carvalho disse...

Bem, eu acho que preciso rever esse filme, muito embora eu tenha gostado muito dele quando o assisti na época em que foi indicado ao Oscar. Scorsese encontrou em Leonardo DiCaprio um ótimo ator que melhorou bastante nas mãos do mestre. Mas Daniel Day-Lewys é um colosso.