terça-feira, 29 de julho de 2008

Filmes

Dirty Dancing – Ritmo Quente

O filme tem dois grandes trunfos: o primeiro é Patrick Swayze, e o segundo é a canção-tema. Se não fossem esses dois, o filme provavelmente teria se perdido e se transformado em apenas mais um filmezinho água-com-açúcar e para atrair casais apaixonados ao cinema. O fato da escalação de Swayze como o protagonista é que ele é Johnny Castle. Ele nunca se entregou tanto a um personagem quanto a esse filme – e em nenhum outro filme sua atuação foi tão digna de elogios, sim estou contando com Ghost que ele também está ótimo. A cena final fecha o filme de maneira fabulosa, com uma coreografia que nenhum outro filme conseguiu superar, e faz até esquecer que toda aquela tramazinha que serve como fio pra trama, dos dois viverem um amor proibido. E no resultado final, não importa, o que importa é que Dirty Dancing é um ótimo filme. O que eu fico me perguntando quando ele termina é por que Patrick Swayze não investiu mais a sua carreira em filmes realmente bons.


Dirty Dancing, EUA, 1987, dir.: Emile Ardolino. Com: Patrick Swayze e Jennifer Gray.

Reine Sobre Mim

Aparentemente, uma parceria um pouco improvável para um drama. De um lado, o sempre ótimo Don Cheadle, que já havia mostrado bastante versátil e Adam Sandler, o que sempre acaba colocando piadinhas bobas em seus roteiros. Porém, surpreendentemente a dupla se mostrou bastante entrosada e construiu um filme emocionante. Apesar de Cheadle estar bastante contido, Sandler não poupou lágrimas e construiu um perfil ótimo do personagem, que já tem uma história trágica. Liv Tyler pouco pode fazer, já que acaba sendo prejudicada pelo roteiro. E é no roteiro que a produção acaba pecando. Além da longa duração, algo que realmente não precisava, o longa mostra dois personagens que aos poucos, com a convivência, vão se ajudando. O roteiro desenvolve muito pouco a história de Cheadle, fazendo parecer que ela não evolui, fora que ás vezes parece dar prioridade mais para um do que para o outro. Porém, as cenas finais não deixam de ser emocionantes, e para quem não consegue se conter nas lágrimas, é um prato cheio.



Reign Over Me, EUA, 2007, dir.: Mike Binder. Com: Don Cheadle, Adam Sandler, Jada Pinkett Smith, Liv Tyler, Saffron Burrows e Donald Sutherland.

Um Homem de Família

Um Homem de Família é um daqueles filmes que é ótimo sendo simples. A história, inspirada um pouco em A Felicidade Não se Compra, narra a história de Jack Cambell (Nicolas Cage), que leva uma vida de ricão solteiro. Pega todas as mulheres, não dando valor a nenhuma, vive uma vida bastante solitária. Um certo dia, ele encontra um anjo (Don Cheadle), que mostra como a sua vida seria se ele tivesse se casado com a sua namorada da adolescência, Kate (Tea Leoni). E essa vida, ao início não parece nada agradável, ao desenrolar, vai fazê-lo ver o outro lado de seu próprio coração.

Claramente é um filme-família, com aquele final prevísivel e tudo o mais. Mas ele é tão honesto com si próprio, com um Nicolas Cage bem na fita e uma Tea Leoni ótima, como sempre, rola uma química tão boa entre o casal e o roteiro é tão simplista e amarradinho que acaba nos levando pruma pequena fábula, que culmina em uma só frase: "Eu escolho nós dois". Tão sincera quanto o próprio filme.



Family Man, EUA, 2000, dir.: Brett Ratner. Com: Nicolas Cage, Tea Leoni e Don Cheadle.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Viagem ao Centro da Terra - O Filme

Ao adaptar um livro, os produtores têm que ter em mente duas coisas: a primeira, é adaptá-lo a ponto de deixar o fiel o bastante; a segunda, é cuidar para não ficar tão, mas tão fiel que acabe prejudicando a narrativa na versão cinematográfica. O maior mérito de O Senhor dos Anéis foi adaptar o livro e ser fiel do jeito de Peter Jackson. Em muitos dos momentos, ele não seguiu o livro de Tolkien, e cortou muitos personagens e situações que podia prejudicar ou atrasar a história. Ao saber duma produção estrelada por Fraser e dois garotos e saber que a aventura é adaptada de um dos livros mais famosos de Verne, eu achei que não podia vir muita coisa boa.

Mas eu estava errado. É uma experiência positiva assistir a este filme. Ele não é uma adaptação do livro de Verne, aqui ele surge apenas como inspiração. A história é de Trevor (Brendan Fraser), um cientista que anda monitorando atividades de magma, seguindo assim com as pesquisas de seu irmão, desaparecido há dez anos. Chega a sua casa seu sobrinho, Sean (Josh Huthcerson), para passar dez dias com ele. Ao pegar as coisas antigas do irmão, ele percebe anotações nas páginas do livro de Verne, Viagem ao Centro da Terra. Aí, os dois acabam indo atrás de todas as anotações do irmão, indo parar na Islândia, onde conhecem Hannah (Anita Briem), uma guia que promete levá-los até as montanhas. Lá, eles acabam indo parar em uma aventura, onde mais tarde descobrem que acabam de parar no centro da Terra.

Toda a aventura e os efeitos visuais 3D dão uma nova empolgação ao longa. Infelizmente, não deu pra assistir com os óculos especiais, o que acaba perdendo um pouco o impacto dos próprios efeitos – e alguns devem achá-los bem ruins. Há em determinadas cenas que coisas voam para frente da câmera, com o objetivo de criar um impacto visual para quem usa os óculos. No cinema que eu fui, claro que eles não disponibilizam os óculos para nós, e nem eu tenho um, portanto tive que assistir normalmente. Entretanto, dá pra perceber uma diferença dos efeitos que costumam ver – confesso que os dinossauros do Jurassic Park são mais bem feitos.

O diretor Eric Brevig comanda a aventura tradicionalmente. Porém, percebemos a sua empolgação ao filmar as aventuras no mar, a chegada do dinossauro ou as diversas caídas dos personagens em buracos. Porém, o roteiro acaba prejudicando um pouco. Há o garoto abandonado pelo pai, e, portanto meio rebelde com o tio. O tio acaba vivenciando um romancezinho que podia ter sido mais desenvolvido com a guia Hannah e algumas tentativas de piadinhas quando os três estão no clímax da sua aventura.

Entretanto, o trio dos atores é uma boa sacada. Para começar, Anita Briem faz bem o tipo de garota independente. E não dá pra duvidar de sua seriedade. Josh Hutcherson, que estava muito bem no ótimo Ponte Para Terabítia, acaba convencendo aqui no papel. E o que deveria ser antipático no início, acaba soando verdadeiro quando ele entra em cena. Enquanto Brendan Fraser, um cara que eu acho legal, é o que mais se entrega a produção. Seu Trevor chega atrapalhado, meio bobão, mas aos poucos ele vai reunindo coragem para salvar seu sobrinho e resgatar todas as pesquisas de seu irmão.

Terminando o filme com uma cena muito bem bolada, Viagem ao Centro da Terra não é mais uma bobagem para crianças. É diversão garantida para todos. E para Vernianos, ou fãs de Julio Verne, não tem o que falar mal. A produção foi fiel do início ao fim -de uma maneira diferente, mas foi.


Journey to the Center of the Earth, EUA, 2008, dir.: Eric Breving. Com: Brendan Fraser, Josh Hutcherson e Anita Briem.

P.S: É só em Porto Alegre ou nos cinemas do Brasil inteiro eles não estão nem aí se o filme é em 3D ou não? Deve ser no Brasil, já que obviamente os cinema snão iriam emprestar óculos em 3D pra galera - nem iria cair dos céus como em alguns cinemas dos Estados Unidos. Enfim, é uma pena!

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Batman - O Cavaleiro das Trevas

Em Batman Begins, Christopher Nolan nos mostrou que fazer um filme de super-herói vai muito além de vilões e uniformes coloridos. Ele provou que, para fazer um filme de super-herói, basta apenas construir um dos personagens mais famosos dos quadrinhos e dos cinemas em um personagem que, ao mesmo tempo é trágico, consegue ser complexo e heróico.

A figura de Batman é essa. Em Batman Begins, vimos como, após a morte de seus pais, Bruce Wayne lutou para encontrar seu caminho e, após diversas outras tentativas frustradas, ele se revigorou e voltou para Gothan a fim de protegê-la. Aí, ele se transformou em Batman, o herói daquela cidade. O único que ela teve. Afinal, ela estava dominada pelos criminosos da cidade, tais como os dias de hoje. Por isso, talvez, após ver tanto bandido e a luta de advogados e promotores honestos para tentar liberta-los for tudo em vão, vê-los sair impune e todo fingirem que não sabem de nada, talvez seja por todos esses motivos que facilitou uma identificação com essa nova franquia do Batman.

Mas talvez seja também o impressionante desenrolar da história e o que ela quer nos dizer. Se antes a frase dita pelo pai de Bruce martelava a nossa cabeça (“Para que caímos, Bruce? Para se levantar.”), desta vez temos uma frase que revela todo o embate que Bruce Wayne tem com o Batman, todo o duelo de si mesmo. “Ou você morre como herói, ou vive tempo o bastante para se tornar um vilão”, dita por Harvey Dent.

Em termos de complexidade, este novo Batman está perfeito. Temos personagens muito melhores construídos do que aqueles vistos no Begins. Para começar, o Duas-Cara. Aaron Eckhart, sempre um bom ator, acerta mais uma vez, já que o papel surge perfeito por ele. Em primeiro lugar, a história de Harvey Dent é trágica e Eckhart consegue, melancolicamente, transformar a sua transformação triste, ameaçadora e, acima de tudo, perfeita. Ponto também para o roteiro, que conseguiu formar esta história trágica corajosamente – no rumo que as coisas tomaram, há um ponto em que alguns roteiristas poderiam se acovardar e não seguirem em frente, bem onde tudo é decisivo para Dent se transformar em Duas Caras.

Surgindo como um homem que só quer espalhar o caos, Heath Ledger compõe o Coringa nos mínimos detalhes, e dessa composição perfeita, surge o maior vilão de super-heróis já feito. O papel nasceu para ele. Só a cena do interrogatório já é o suficiente para compreender que um ator pode ser ameaçador, somente entrando em cena. Muito diferente daquele coringa engraçado que caiu do abismo em Batman, este aqui não brinca. Apesar de estar sempre fazendo piadas, suas ameaças não são só chantagens, são sérias e ele não se importa em matar para que isso se concretize. Além de ter uma inteligência que qualquer Dr. Octopus ou qualquer outro vilão invejaria. Mérito exclusivamente de Heath Ledger. E é uma pena que ele teve de partir, pois este é o papel de sua vida.

Enquanto isso, Chrsitian Bale interpreta seu Bruce Wayne do mesmo jeito que interpretou em Batman Begins. E para um ator, que estava crescendo em termos de atuação, desta vez ele tem que competir com ele mesmo. Uma das melhores caracterizações de Batman é mudar a voz quando veste o uniforme e aqui ele mantém essa caracterização. Mas também há a sua paixão por Rachel Dawes. Neste filme, os dois não estão mais juntos, e provavelmente o maior motivo foi o Batman. E, graças a um plano diabólico de Coringa, Batman é visto como o vilão de todos. Como provar às pessoas que ele só quer fazer o bem? Será que, por mais heróico que somos sempre terá uma conseqüência e algo que acabe nos tornando vilões? Vale a pena deixar tudo que tanto lutamos para trás? Quem é o verdadeiro herói? São esses os conflitos de Bruce e Batman. E Christian Bale, que não tem muito a fazer aqui como Bruce – suas cenas são bem reduzidas –, além de aparecer como um milionário mimado, são em suas converss com Alfred que ele faz a pergunta e pede por ajuda.

E nisso, Michael Caine, como sempre, está cada vez melhor como Alfred. Ele tem um desafio muito maior do que interpretar um simpes mordomo, tem que zelar pelo Bruce e tentar faze-lo entender que o Batman não é apenas uma figura heróica, é mais do que isso. É a fonte de esperanças de toda Gothan. Para isso, há aliados. James Gordon, interpretado fielmente e eficientemente por Gary Oldman, ganha mais destaques na trama. E Oldman é suficientemente ótimo para entrar no seu personagem. Basta vermos nas cenas finais, em que acaba se conflitando com Duas-Caras. Todo o diálogo que ele diz é emocionante. Enquanto Maggie Gyllenhall, que substitui Katie Holmes, está eficiente como sempre. Como o único papel feminino, o central, ela em apenas uma cena, consegue dizer quem Rachel Dawes é. A importância que ela tem na trama e no coração de Harvey e Bruce.

O rumo que as coisas tomam é parecido com Batman Begins. Tudo gerou o caos e a cidade novamente se move. Ajudando com tons mais escuros, como sempre, a fotografia de Wally Pfiester é sombria e sórdida. Consegue captar o pior de Gothan, mas também nos brinda com alguns planos maravilhosos. A cena em que Duas-Caras, já transformado, surge nas sombras, mostrando apenas um dos rostos, mostra exatamente toda a dualidade do homem, e principalmente a dele. Ele ainda não foi consumido pela sua outra cara, pelo seu outro “eu”, ainda há um pouco de Harvey Dent nele. Outro plano maravilhoso fica por conta do Coringa. No final, ele é guarnecido por três cães negros. O personagem não faz questão de ter nenhum amigo ou comparsa fiel, ele não precisa de nenhum outro homem para ajudá-lo a proteger. Ele evita o contato humano, o diálogo com alguém. Mas basta ver também o quão solitário o personagem é.

A trilha sonora de James Newton Howard e Hans Zimmer é suficientemente ótima para compor os momentos de Gothan City. Junto a ela, temos o design de som. Observe, por exemplo, a cena da perseguição de carros ou a cena da invasão ao prédio no final do filme. O som é cristalino. E se não bastasse uma excelente fotografia, um ótimo design de som, ainda resta a direção séria e digna de Christopher Nolan. Ele compõe Gothan mais uma vez como uma cidade desesperada, ávida por qualquer solução que parece cair do céu, sem tentar encontrar uma saída. Uma palavra e a cidade já sai desesperada. E, para isso, a sua direção minimalista, ainda mais com os atores, não só se encaixa perfeitamente, como também tem papel importantíssimo na história. Sem contar do roteiro, escrito juntamente com seu irmão, Jonathan Nolan, que consegue ser ainda superior ao de Batman Begins.

Porém, o filme é mesmo do Coringa e de Harvey Dent. Os dois personagens foram compostos como jamais vistos, e nem mesmo Batman consegue destruir a força destes dois. Quando um ou outro em cena, o filme fica mais ameaçador e honesto, respectivamente, já que o Coringa não é um homem de falar. É de agir, e sem dúvidas, é o vilão que deu mais trabalho para o Homem-Morcego. Tem que ser muito bom para fazer uma outra continuação, mas vilão melhor do que Ledger conseguiu fazer, é um desafio e tanto. Será que alguém compra essa?

Se alguém compra essa, eu não sei dizer. Só sei que tanto a vida, quanto todos os atos dos personagens desse filme, condizem com a moeda de Harvey Dent. É um jogo ao acaso, uma sorte. Cara ou coroa. 50%-50%. Sim ou não.

The Dark Knight, EUA, 2008, dir.: Christopher Nolan. Com: Christian Bale, Michael Caine, Heath Ledger, Gary Oldman, Aaron Eckhart, Maggie Gyllenhaall, Morgan Freeman e Cilian Murph.

Batman – O Cavaleiro das Trevas

Em Batman Begins, Christopher Nolan nos mostrou que fazer um filme de super-herói vai muito além de vilões e uniformes coloridos. Ele provou que, para fazer um filme de super-herói, basta apenas construir um dos personagens mais famosos dos quadrinhos e dos cinemas em um personagem que, ao mesmo tempo é trágico, consegue ser complexo e heróico.

A figura de Batman é essa. Em Batman Begins, vimos como, após a morte de seus pais, Bruce Wayne lutou para encontrar seu caminho e, após diversas outras tentativas frustradas, ele se revigorou e voltou para Gothan a fim de protegê-la. Aí, ele se transformou em Batman, o herói daquela cidade. O único que ela teve. Afinal, ela estava dominada pelos criminosos da cidade, tais como os dias de hoje. Por isso, talvez, após ver tanto bandido e a luta de advogados e promotores honestos para tentar liberta-los for tudo em vão, vê-los sair impune e todo fingirem que não sabem de nada, talvez seja por todos esses motivos que facilitou uma identificação com essa nova franquia do Batman.

Mas talvez seja também o impressionante desenrolar da história e o que ela quer nos dizer. Se antes a frase dita pelo pai de Bruce martelava a nossa cabeça (“Para que caímos, Bruce? Para se levantar.”), desta vez temos uma frase que revela todo o embate que Bruce Wayne tem com o Batman, todo o duelo de si mesmo. “Ou você morre como herói, ou vive tempo o bastante para se tornar um vilão”, dita por Harvey Dent.

Em termos de complexidade, este novo Batman está perfeito. Temos personagens muito melhores construídos do que aqueles vistos no Begins. Para começar, o Duas-Cara. Aaron Eckhart, sempre um bom ator, acerta mais uma vez, já que o papel surge perfeito por ele. Em primeiro lugar, a história de Harvey Dent é trágica e Eckhart consegue, melancolicamente, transformar a sua transformação triste, ameaçadora e, acima de tudo, perfeita. Ponto também para o roteiro, que conseguiu formar esta história trágica corajosamente – no rumo que as coisas tomaram, há um ponto em que alguns roteiristas poderiam se acovardar e não seguirem em frente, bem onde tudo é decisivo para Dent se transformar em Duas Caras.

Surgindo como um homem que só quer espalhar o caos, Heath Ledger compõe o Coringa nos mínimos detalhes, e dessa composição perfeita, surge o maior vilão de super-heróis já feito. O papel nasceu para ele. Só a cena do interrogatório já é o suficiente para compreender que um ator pode ser ameaçador, somente entrando em cena. Muito diferente daquele coringa engraçado que caiu do abismo em Batman, este aqui não brinca. Apesar de estar sempre fazendo piadas, suas ameaças não são só chantagens, são sérias e ele não se importa em matar para que isso se concretize. Além de ter uma inteligência que qualquer Dr. Octopus ou qualquer outro vilão invejaria. Mérito exclusivamente de Heath Ledger. E é uma pena que ele teve de partir, pois este é o papel de sua vida.

Enquanto isso, Chrsitian Bale interpreta seu Bruce Wayne do mesmo jeito que interpretou em Batman Begins. E para um ator, que estava crescendo em termos de atuação, desta vez ele tem que competir com ele mesmo. Uma das melhores caracterizações de Batman é mudar a voz quando veste o uniforme e aqui ele mantém essa caracterização. Mas também há a sua paixão por Rachel Dawes. Neste filme, os dois não estão mais juntos, e provavelmente o maior motivo foi o Batman. E, graças a um plano diabólico de Coringa, Batman é visto como o vilão de todos. Como provar às pessoas que ele só quer fazer o bem? Será que, por mais heróico que somos sempre terá uma conseqüência e algo que acabe nos tornando vilões? Vale a pena deixar tudo que tanto lutamos para trás? Quem é o verdadeiro herói? São esses os conflitos de Bruce e Batman. E Christian Bale, que não tem muito a fazer aqui como Bruce – suas cenas são bem reduzidas –, além de aparecer como um milionário mimado, são em suas converss com Alfred que ele faz a pergunta e pede por ajuda.

E nisso, Michael Caine, como sempre, está cada vez melhor como Alfred. Ele tem um desafio muito maior do que interpretar um simpes mordomo, tem que zelar pelo Bruce e tentar faze-lo entender que o Batman não é apenas uma figura heróica, é mais do que isso. É a fonte de esperanças de toda Gothan. Para isso, há aliados. James Gordon, interpretado fielmente e eficientemente por Gary Oldman, ganha mais destaques na trama. E Oldman é suficientemente ótimo para entrar no seu personagem. Basta vermos nas cenas finais, em que acaba se conflitando com Duas-Caras. Todo o diálogo que ele diz é emocionante. Enquanto Maggie Gyllenhall, que substitui Katie Holmes, está eficiente como sempre. Como o único papel feminino, o central, ela em apenas uma cena, consegue dizer quem Rachel Dawes é. A importância que ela tem na trama e no coração de Harvey e Bruce.

O rumo que as coisas tomam é parecido com Batman Begins. Tudo gerou o caos e a cidade novamente se move. Ajudando com tons mais escuros, como sempre, a fotografia de Wally Pfiester é sombria e sórdida. Consegue captar o pior de Gothan, mas também nos brinda com alguns planos maravilhosos. A cena em que Duas-Caras, já transformado, surge nas sombras, mostrando apenas um dos rostos, mostra exatamente toda a dualidade do homem, e principalmente a dele. Ele ainda não foi consumido pela sua outra cara, pelo seu outro “eu”, ainda há um pouco de Harvey Dent nele. Outro plano maravilhoso fica por conta do Coringa. No final, ele é guarnecido por três cães negros. O personagem não faz questão de ter nenhum amigo ou comparsa fiel, ele não precisa de nenhum outro homem para ajudá-lo a proteger. Ele evita o contato humano, o diálogo com alguém. Mas basta ver também o quão solitário o personagem é.

A trilha sonora de Jaes Newton Howard e Hans Zimmer é suficientemente ótima para compor os momentos de Gothan City. Junto a ela, temos o design de som. Observe, por exemplo, a cena da perseguição de carros ou a cena da invasão ao prédio no final do filme. O som é cristalino. E se não bastasse uma excelente fotografia, um ótimo design de som, ainda resta a direção séria e digna de Christopher Nolan. Ele compõe Gothan mais uma vez como uma cidade desesperada, ávida por qualquer solução que parece cair do céu, sem tentar encontrar uma saída. Uma palavra e a cidade já sai desesperada. E, para isso, a sua direção minimalista, ainda mais com os atores, não só se encaixa perfeitamente, como também tem papel importantíssimo na história. Sem contar do roteiro, escrito juntamente com seu irmão, Jonathan Nolan, que consegue ser ainda superior ao de Batman Begins.

Porém, o filme é mesmo do Coringa e de Garvey Dent. Os dois personagens foram compostos como jamais vistos, e nem mesmo Batman consegue destruir a força destes dois. Quando um ou outro em cena, o filme fica mais ameaçador e honesto, respectivamente, já que o Coringa não é um homem de falar. É de agir, e sem dúvidas, é o vilão que deu mais trabalho para o Homem-Morcego. Tem que ser muito bom para fazer uma outra continuação, mas vilão melhor do que Ledger conseguiu fazer, é um desafio e tanto. Será que alguém compra essa?

Se alguém compra essa eu não sei, só sei que tanto o filme, quanto a própria vida, condizem com a moeda de Dent. A vida é um acaso, um jogo de sorte. Cara ou coroa. 50%, 50%. E aí, cara ou coroa?

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Jogo de Amor em Las Vegas

Ashton Kutcher está longe de ser um galã. Cameron Diaz, quando faz uma mocinha, é quase sempre extravagante. Como dar um certo um casal desse jeito? A resposta para essa pergunta é simples: roteiro e direção. Como em todos os filmes. Neste filme bem ruim, por sinal, os dois até tentam mas eles nunca parecem ser um casal. A química nunca rola entre ambos e isso começa a atrapalhar logo de cara.

A história, para começo de converso, é bem ruimzinha. Após um término de namoro inesperado, Joy (Diaz) e sua amiga Tipper (Lake Bell) decidem passar um tempo em Las Vegas para tentar se divertir. Simultaneamente, Jack (Kutcher) é demitido pelo seu próprio pai, e juntamente com o amigo, Hater (Rob Corddry) decidem ir para o mesmo lugar. Com um toque de destino ou uma falha inescrupulosa do roteiro, os quatro vão para no mesmo quarto do hotel! E então, eles se divertem juntos e na primeira saída em Las Vegas, Jack e Joy acabam se casando bêbados. No dia seguinte, ele ganha três milhões de dólares em uma máquina no cassino. Porém, ela também quer a bolada – e agora os dois estão casados. Para ela ganhar a bolada, os dois terão que ficar seis meses casados e mostrar que estão felizes um com o outro, se um desistir, o outro fica com o dinheiro, devido a uma decisão do juiz.

Claro que o final é bem previsível e todo mundo já sabe o que vai acontecer. Convivendo um com o outro, os dois gênios bem diferentes vão acabando por descobrindo virtudes um do outro e aos poucos, o amor acaba acontecendo. No meio, algumas brigas, afinal nenhuma comédia romântica é comédia romântica senão houver uma briga ao final do filme, certo? Certo! O roteiro é preguiçoso demais, apresentando situações desinteressantes, como os diversos planos que um acaba criando para derrubar o outro.

Igualmente desinteressante é a terapia que o casal é submetido a fazer. As cenas, por mais que os atores tentem rende-las, são sem graças. Além do mais, Queen Latifah tem uma atuação pálida neste longa, sendo prejudicada pelo roteiro, que não tenta ao menos encaixar uma piada divertida para ela.

Ainda assim, os coadjuvante do longa é que dão a graça. Rob Corddry, apesar de mostrar-se vulnerável em algumas cenas, consegue roubar algumas risadas com o amigo de Jack, Hater. Enquanto Lake Bell é a atração do longa, fazendo de Tipper a personagem mais interessante do filme. E o sub-casal Hater-Tipper, apesar de estarem ali só para cumprirem a função de “amigos dos protagonistas” roubam muito mais a cena do que os próprios protagonistas.

Como eu disse no início, Ahton Kutcher não é um galã. E é frustrante ver o diretor Tom Vaughan tentar faze-lo como um. Para começar, mostrar os músculos de Kutcher não significa que ele seja um galã, muito pelo contrário. É um fiasco atrás do outro. Ele parece não mostrar interesse em nenhuma cena, a impressão que dá é que ele está fazendo um filme só por fazer – a cena final mostra o quanto sem graça está a sua interpretação. Fora que a química com Cameron Diaz está pálida. Ela é uma boa atriz, não tem como negar. Ela já aprendeu muito bem a fazer o tipo de comédias românticas, por isso ela se dá bem aqui. A atuação dela é esperta. Só que é cansativo.

Cansativo também é a experiência de assistir Jogo de Amor em Las Vegas. ainda um flashback que não funciona e um flashfoward divertido nos créditos finais. Mas a impressão do “já vi este filme” não nos abandona do início ao fim. Aliás, nos primeiros vinte minutos, só queremos que chegue ao fim.


What Happens in Vegas, EUA, 2008, dir.: Tom Vaughan. Com: Cameron Diaz, Ashton Kutcher e Queen Latifah.

domingo, 13 de julho de 2008

sangue negro: quando a ambição se torna um padrão de vida


"Mas a ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela”. A frase é de Nicolau Maquiavel, e a razão para que eu resolvesse iniciar este texto com ela é que ela consegue captar toda a essência do mais recente e premiado longa de Paul Thomas Anderson, Sangue Negro.

De cara, o título original já nos diz sobre o que estaremos prestes a assistir, There Will Be Blood, ou no português, algo como vai haver sangue. Haverá sangue. Mas afinal, de quem? Ou, quanto sangue é preciso para uma pessoa atinja o objetivo? E, aliás, seria este é o sangue inocente ou sangue culpado? São muitas perguntas, mas não há nenhuma resposta. E Paul Thomas Anderson também não se preocupa em respondê-las, já que o objetivo com que ele conduz seus filmes é conseguir mostrar um estudo diferenciado sobre o ser humano. Seus defeitos e suas qualidades, suas escolhas e as negações, suas causas e as conseqüências. Nesta produção, a ambição se torna o carro-chefe de tudo que acontece em suas mais de duas horas de projeção.

O filme começa com Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis), em silenciosos quinze minutos, tentando achar alguma fonte de petróleo. Quando surge a figura de seu filho, logo vem aquela paternidade e vemos que é um homem que se preocupa com a criança – que, aos poucos, vai se tornando uma caricatura sua. Paralelamente a isso, ele recebe uma visita de um homem que diz saber onde há bastante petróleo. Daniel acha a fonte que precisava, e aos poucos vai mudando os moradores a sua volta, a começar com o pastor Eli (Paul Dano), que pede dinheiro para construir a sua Igreja, da Terceira Revelação. Aos poucos, vamos acompanhando as histórias destes dois homens, que movidos a ambição, acabam se tornando de pessoas normais a criaturas insuportáveis.

Se os dois acabam se transformando, não é só por causa do roteiro e da direção, mas mérito dos próprios atores. Daniel Day-Lewis, que nunca falhou em ser um ator eficiente, traz em Sangue Negro a sua atuação de maior destaque. Basta ver os trejeitos, e as expressões com que interpreta Daniel, nunca deixa também cair em uma caricatura, e interpreta ao mesmo tempo o vilão da história e apenas mais um homem amargurado com a vida que leva, já que a sua ambição de querer sempre mais acaba o afastando das pessoas que realmente importam a ele.

Enquanto Paul Dano, o garoto do sensível Pequena Miss Sunshine, pode até não ser corpulento nem ter uma voz mais grave, mas rende uma maravilhosa caracterização para seu personagem. Entregando-se de corpo e alma ao pastor Eli, Dano nunca falha ao compor o personagem com distinção e saber quando usar o exagero em cada cena, até porque ele interpreta cenas em que tem que tirar demônios das pessoas, e, no entanto consegue atingir o ápice de sua carreira em apenas uma cena: a do batismo. Os dois conseguem marcar cada momento em que entram em cena - a última cena é, sem dúvidas, uma das mais bem acabadas dos últimos anos.

Contando com a maravilhosa trilha de Jonny Greenwood, que consegue uma transição perfeita entre a melancolia e a simplicidade do longa de Paul Thomas Anderson, o filme é embalado com perfeição durante todo o tempo. É o filme mais caprichado do diretor. Onde ele conduz com mais perfeição as partes técnicas e artísticas, ultrapassa todos os limites e nos consegue guiar além de uma história comum. Porque, os personagens querendo ou não, vai haver sangue.

Sangue Negro
There Will Be Blood, 2007
Direção e Roteiro Adaptado: Paul Thomas Anderson. Elenco: Daniel Day-Lewis, Paul Dano, Kevin J. O'Connor e Barry Del Sherman.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Agente 86

Transpor uma série de TV para o cinema não é uma tarefa muito fácil. Digo mais, é uma tarefa dificílima. Pois os responsáveis têm que ter em mente duas coisas: a primeira é não perder a essência da série, o objetivo; e a segunda é conseguir agradar até os que não viam as séries, sem com que eles se percam com os personagens e tudo o que já aconteceu nos episódios.

O maior mérito deste Agente 86 é que, ao contar a primeira aventura de Max, de como ele se tornou o famoso agente que dá nome ao filme, não precisa conhecer a história para apreciar e isso já é meio caminho andado para o sucesso. O restante fica por conta de como essa reinvenção – cheio de cenas de ação – vai agradar o espectador. E pela primeira vez, o diretor Peter Segal faz um filme digno de aplausos ao final – dos quatro dos seis anteriores de sua carreira que assisti, apenas o Como se Fosse a Primeira Vez me agradou.

Não é um filme excelente, uma obra-prima que vai reinar em listas de melhores dos últimos tempos. É simplesmente um filme de comédia honesto, divertido e muito bem dirigido – poderia até mencionar algumas gags bobas, como a apresentação do Agente 23 (interpretado por Dwayne Johnson, vulgo “The Rock”), mas isso não tem importância. Basta acompanharmos as cenas de ação, muito bem conduzidas por Segal, claro que boa parte deve-se ao comprometimento dos atores em cena, pois é deles que vem um esforço muito maior.

Steve Carell, como já esperado, é o destaque absoluto da produção. Seu timing cômico nunca entrou ao mérito de discutir, já que o ator mostra uma concentração impressionante em todas as cenas. Se Carell já é ótimo sozinho, acompanhado de Anne Hathaway – que já fez comédias-família como o legalzinho Diário de Princesa – aqui parece ter mais liberdade em fazer uma comédia mais adulta, sem muitas gags. Enquanto isso, Dwayne Jonhson faz o seu trabalho direitinho, fazendo um Agente 23 habilidoso e aparentemente o melhor agente da CONTROLE. Interpretando o chefe da agência, Alan Arkin – que já havia experimentado toques de humor no adorável Pequena Miss Sunshine – mostra um timing cômico irreverente e perfeito para o papel.

Eu geralmente não gosto muito de coadjuvantes que tentam ser engraçados, mas não posso reclamar da equipe deste filme. Direto da série Heroes, Masi Oka e Nate Torrence interpretam dois nerds da agência que são alvo de chicota da dupla de agentes interpretados por David Koechner e Terry Crews prometem muitas risadas, ainda mais com a conclusão desse quarteto. No time de vilões, Terrence Stamp em uma grata participação, interpreta Siegfrield, cunhado de seu capacho, Ken Davitian - o parceiro de Borat – que também consegue arrancar bastante risadas. E tem as boas participações de Bill Murray e James Caan.

Agente 86 é um filme divertido e uma comédia inteligente, rara na safra de filmes hoje em dia. Não é uma daquelas comédias bobas direcionada aos adolescentes que apelam para qualquer coisa, menos para um bom roteiro, uma boa direção ou bons atores. Aqui temos um filme que fica na cabeça. A música-tema então, é impossível não cantarolar depois da sessão.

Get Smart, Eua, 2008, dir.: Peter Segal. Com: Steve Carell, Anne Hatheway, Dwayne Johnson, Alan Arkin e Terence Stamp.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

P.S.: Eu te Amo

Não é o melhor romance dos últimos tempos, nem o pior. P.S: Eu Te Amo é um filme sensível, um pouco água-com-açúcar, mas que poderia ter caído muito mais no melodrama se não fosse o diretor e roteirista do filme Richard LaGravanese com a ajuda de Steven Rogers decidirem não mostrar a Gerry no hospital ou em sua fase terminal da doença.

Quando a produção tem início, somos apresentados a um casal que tem uma discussão de rotina, mas que deu para perceber que os dois se amam. Porém, após os créditos iniciais, descobrimos que o marido veio a falecer em uma cena um pouco confusa. O velório de Gerry (vivido pelo “300” Gerard Butler) é animado, descontraído e as pessoas parecem não respeitar o sentimento que a esposa, Holly (a mulher-macho de Hollywood, Hilary Swank). Obviamente, nas próximas semanas, Holly está arrasada e, portanto não consegue mais sair de casa, nem tem mais vontade de fazer absolutamente nada. Até que no dia de seu aniversário, recebe uma carta de seu falecido marido. A partir daquele momento, ela vai recebendo cartas enviadas por Gerry, todas assinadas com um p.s: eu te amo. As cartas vão ajudando Holly a conseguir seguir sua vida e tomar um curso para ela.

A narrativa é bastante fragilizada, e os flashbacks vão se alternando de uma maneira óbvia e previsível. Entretanto, usando a mesma esperteza de Charle Kaufman em Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, os flashbacks vão revelando desde os últimos dias até o dia em que se conheceram. Nisso, formam várias sub-tramas que não conseguem convencer. As amigas de Holly, interpretadas por Lisa Kudrow (a eterna Phoebe) e Gina Gershon são prejudicadas pelo roteiro, embora se esforcem em seus papéis. Mas a atuação-bomba fica para Henry Connick Jr., que não consegue nos convencer de jeito algum do seu rude Daniel – e a química com Swank é horrível, mas o roteiro parece sacar e consegue consertar o erro de uma maneira esperta.

Entretanto, o par principal consegue arrancar algumas lágrimas. Hilary Swank, apesar de cometer alguns exageros em algumas cenas, consegue conter-se e emociona o espectador – destaque para a cena em que ela conversa com a mãe, interpretada pela competente Kathy Bates - nos últimos momentos do filme. Gerard Butler surge como a revelação deste longa, já que o seu jeito de galã consegue convencer e fornece todo o seu carisma para Gerry.

Porém, a mensagem do filme é mesmo a superação. Um amor pode ir, mas as boas lembranças estarão sempre com você, é como se nunca tivesse ido embora. Há uma cena muito tocante que simboliza tudo o que o filme quer nos dizer, quando Holly soe no karaokê e canta uma música, é comovente.

Apesar do final ser decepcionante, a narrativa segue com uma boa idéia e uma direção fora dos melodramas. E isso é um pouco raro, já que ele tinha tudo para ser um daqueles filmes piegas. É um filme que não está em cima nem abaixo da média, está em cima.



P.S: I Love You, EUA, 2007, dir.: Richard LaGravanese. Com: Hilary Swank, Gerard Butler, Lisa Kudrown, Gina Gershon e Kathy Bates.

domingo, 6 de julho de 2008

Wall•E

Falar que a Pixar acertou novamente, que é o estúdio que é mais apaixonado pelo que faz atualmente e que em todos os anos mostra que o que importa é a qualidade e não a quantidade, não é mais novidade para ninguém. Portanto, vou começar falando que esta animação é certamente um dos melhores filmes desta primeira década de 2000 e sem dúvidas é uma das animações mais criativas de todos os tempos.

Andrew Stanton, responsável pelo roteiro e pela direção, brinda o espectador apresentando um robozinho muito simpático, o Wall-E. Mas ele não é um robô falante como o simpático C3-PO da série Star Wars, é um robô que através dos seus gestos e de seus olhares mostra seus sentimentos. Vemos a sua solidão em varrer todo o lixo da Terra, dia após dia, pois é assim que o programaram. Aliás, a Terra está completamente destruída e os únicos sobreviventes estão em uma espécie de nave executiva. Essa nave envia um robô, a Eva, ao planeta Terra e lá cria um forte elo com Wall-E. A segunda metade do longa se passa na nave, quando Wall-E parte atrás de Eva. É aí que a odisséia começa.

Utilizando-se da história para fazer uma crítica muito bem elaborada ao consumismo e ao excesso de tecnologia, Stanton ainda tem tempo para criar referências a clássicos como 2001 e até mesmo Alien. E são homenagens de quem ama cinema para quem ama cinema. Outra grande homenagem está justamente a Chaplin, podemos interpretar pelas cenas iniciais, principalmente, em que Wall-E, com simpatia se mete em cenas divertidíssimas sobre o descobrimento do planeta Terra.

Stanton ainda usa de maneira esperta os diálogos, já que os homens conseguem falar, enquanto os robôs geralmente falam só o que são programados para falar ou se comunicam com gestos, só colocando-os quando são necessários para a história. Por isso, mais um acerto do roteirista. Outro aspecto que me chamou atenção foi quem em todos os filmes em que escreveu para a Pixar, Stanton sempre utiliza uma turma. Como por exemplo, em Toy Story, que colaborou, havia a turma dos brinquedos comandado pelo Sr. Cabeça de Batata; em Vida de Inseto, a turma do Circo; e em Procurando Nemo, a turma do aquário dava o ar da graça. No filme, também temos a presença de amigos que ajudarão o nosso robozinho a se salvar. E as cenas em que eles aparecem são divertidíssimas.

Criticando de maneira direta o consumismo e o excesso de tecnologia, na nave executiva todos os homens e mulheres são gordos, mas não gordos de quilinhos a mais, mas obesos. Resultado da falta de exercício e da falta de movimentos diários. Eles passam o dia todo em uma cadeira andando para lá e para cá, sendo atendidos por robôs, até para trocar de roupas eles apertam um botão. E sem mencionar nos letreiros, enriquecidos com a palavra Eat – ou coma, em português.

Animação imperdível. Wall-E é um dos melhores filmes da sua época, e um dos melhores da Pixar, ao lado de Toy Story, Ratatouille e Os Incríveis – se bem que todos são muito bons. É impossível não mencionar todos os méritos que a Pixar tem conosco. Como é impossível não se emocionar com Wall-E.



Wall- E, EUA, 2008, dir.: Andrew Stanton. Com as vozes de: Ben Burt, Elissa Knight, Jeff Garlin, Fred Willard e Sigourney Weaver.