quarta-feira, 23 de julho de 2008

Batman – O Cavaleiro das Trevas

Em Batman Begins, Christopher Nolan nos mostrou que fazer um filme de super-herói vai muito além de vilões e uniformes coloridos. Ele provou que, para fazer um filme de super-herói, basta apenas construir um dos personagens mais famosos dos quadrinhos e dos cinemas em um personagem que, ao mesmo tempo é trágico, consegue ser complexo e heróico.

A figura de Batman é essa. Em Batman Begins, vimos como, após a morte de seus pais, Bruce Wayne lutou para encontrar seu caminho e, após diversas outras tentativas frustradas, ele se revigorou e voltou para Gothan a fim de protegê-la. Aí, ele se transformou em Batman, o herói daquela cidade. O único que ela teve. Afinal, ela estava dominada pelos criminosos da cidade, tais como os dias de hoje. Por isso, talvez, após ver tanto bandido e a luta de advogados e promotores honestos para tentar liberta-los for tudo em vão, vê-los sair impune e todo fingirem que não sabem de nada, talvez seja por todos esses motivos que facilitou uma identificação com essa nova franquia do Batman.

Mas talvez seja também o impressionante desenrolar da história e o que ela quer nos dizer. Se antes a frase dita pelo pai de Bruce martelava a nossa cabeça (“Para que caímos, Bruce? Para se levantar.”), desta vez temos uma frase que revela todo o embate que Bruce Wayne tem com o Batman, todo o duelo de si mesmo. “Ou você morre como herói, ou vive tempo o bastante para se tornar um vilão”, dita por Harvey Dent.

Em termos de complexidade, este novo Batman está perfeito. Temos personagens muito melhores construídos do que aqueles vistos no Begins. Para começar, o Duas-Cara. Aaron Eckhart, sempre um bom ator, acerta mais uma vez, já que o papel surge perfeito por ele. Em primeiro lugar, a história de Harvey Dent é trágica e Eckhart consegue, melancolicamente, transformar a sua transformação triste, ameaçadora e, acima de tudo, perfeita. Ponto também para o roteiro, que conseguiu formar esta história trágica corajosamente – no rumo que as coisas tomaram, há um ponto em que alguns roteiristas poderiam se acovardar e não seguirem em frente, bem onde tudo é decisivo para Dent se transformar em Duas Caras.

Surgindo como um homem que só quer espalhar o caos, Heath Ledger compõe o Coringa nos mínimos detalhes, e dessa composição perfeita, surge o maior vilão de super-heróis já feito. O papel nasceu para ele. Só a cena do interrogatório já é o suficiente para compreender que um ator pode ser ameaçador, somente entrando em cena. Muito diferente daquele coringa engraçado que caiu do abismo em Batman, este aqui não brinca. Apesar de estar sempre fazendo piadas, suas ameaças não são só chantagens, são sérias e ele não se importa em matar para que isso se concretize. Além de ter uma inteligência que qualquer Dr. Octopus ou qualquer outro vilão invejaria. Mérito exclusivamente de Heath Ledger. E é uma pena que ele teve de partir, pois este é o papel de sua vida.

Enquanto isso, Chrsitian Bale interpreta seu Bruce Wayne do mesmo jeito que interpretou em Batman Begins. E para um ator, que estava crescendo em termos de atuação, desta vez ele tem que competir com ele mesmo. Uma das melhores caracterizações de Batman é mudar a voz quando veste o uniforme e aqui ele mantém essa caracterização. Mas também há a sua paixão por Rachel Dawes. Neste filme, os dois não estão mais juntos, e provavelmente o maior motivo foi o Batman. E, graças a um plano diabólico de Coringa, Batman é visto como o vilão de todos. Como provar às pessoas que ele só quer fazer o bem? Será que, por mais heróico que somos sempre terá uma conseqüência e algo que acabe nos tornando vilões? Vale a pena deixar tudo que tanto lutamos para trás? Quem é o verdadeiro herói? São esses os conflitos de Bruce e Batman. E Christian Bale, que não tem muito a fazer aqui como Bruce – suas cenas são bem reduzidas –, além de aparecer como um milionário mimado, são em suas converss com Alfred que ele faz a pergunta e pede por ajuda.

E nisso, Michael Caine, como sempre, está cada vez melhor como Alfred. Ele tem um desafio muito maior do que interpretar um simpes mordomo, tem que zelar pelo Bruce e tentar faze-lo entender que o Batman não é apenas uma figura heróica, é mais do que isso. É a fonte de esperanças de toda Gothan. Para isso, há aliados. James Gordon, interpretado fielmente e eficientemente por Gary Oldman, ganha mais destaques na trama. E Oldman é suficientemente ótimo para entrar no seu personagem. Basta vermos nas cenas finais, em que acaba se conflitando com Duas-Caras. Todo o diálogo que ele diz é emocionante. Enquanto Maggie Gyllenhall, que substitui Katie Holmes, está eficiente como sempre. Como o único papel feminino, o central, ela em apenas uma cena, consegue dizer quem Rachel Dawes é. A importância que ela tem na trama e no coração de Harvey e Bruce.

O rumo que as coisas tomam é parecido com Batman Begins. Tudo gerou o caos e a cidade novamente se move. Ajudando com tons mais escuros, como sempre, a fotografia de Wally Pfiester é sombria e sórdida. Consegue captar o pior de Gothan, mas também nos brinda com alguns planos maravilhosos. A cena em que Duas-Caras, já transformado, surge nas sombras, mostrando apenas um dos rostos, mostra exatamente toda a dualidade do homem, e principalmente a dele. Ele ainda não foi consumido pela sua outra cara, pelo seu outro “eu”, ainda há um pouco de Harvey Dent nele. Outro plano maravilhoso fica por conta do Coringa. No final, ele é guarnecido por três cães negros. O personagem não faz questão de ter nenhum amigo ou comparsa fiel, ele não precisa de nenhum outro homem para ajudá-lo a proteger. Ele evita o contato humano, o diálogo com alguém. Mas basta ver também o quão solitário o personagem é.

A trilha sonora de Jaes Newton Howard e Hans Zimmer é suficientemente ótima para compor os momentos de Gothan City. Junto a ela, temos o design de som. Observe, por exemplo, a cena da perseguição de carros ou a cena da invasão ao prédio no final do filme. O som é cristalino. E se não bastasse uma excelente fotografia, um ótimo design de som, ainda resta a direção séria e digna de Christopher Nolan. Ele compõe Gothan mais uma vez como uma cidade desesperada, ávida por qualquer solução que parece cair do céu, sem tentar encontrar uma saída. Uma palavra e a cidade já sai desesperada. E, para isso, a sua direção minimalista, ainda mais com os atores, não só se encaixa perfeitamente, como também tem papel importantíssimo na história. Sem contar do roteiro, escrito juntamente com seu irmão, Jonathan Nolan, que consegue ser ainda superior ao de Batman Begins.

Porém, o filme é mesmo do Coringa e de Garvey Dent. Os dois personagens foram compostos como jamais vistos, e nem mesmo Batman consegue destruir a força destes dois. Quando um ou outro em cena, o filme fica mais ameaçador e honesto, respectivamente, já que o Coringa não é um homem de falar. É de agir, e sem dúvidas, é o vilão que deu mais trabalho para o Homem-Morcego. Tem que ser muito bom para fazer uma outra continuação, mas vilão melhor do que Ledger conseguiu fazer, é um desafio e tanto. Será que alguém compra essa?

Se alguém compra essa eu não sei, só sei que tanto o filme, quanto a própria vida, condizem com a moeda de Dent. A vida é um acaso, um jogo de sorte. Cara ou coroa. 50%, 50%. E aí, cara ou coroa?

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