Eu pensei muito antes de falar algo sobre este filme. Não porque ele é ruim, mas eu demorei horas para refletir sobre o que eu tinha assistido, eu esperava muito dele, um erro que eu não costumo cometer - gosto de ir ao cinema sem ter expectativas. Mesmo depois de tantas críticas eufóricas, elogios em toda a parte, quando os créditos finais chegaram eu pensei "sim, é um filme muito bom", logo em seguida, continuei "mas tem alguns elementos que o comprometeram".
São esses elementos que poderiam ter sido evitados, já que Distrito 9 tem uma das ideias mais geniais de ficção-científica dos últimos tempos, como comprova o seu ótimo início. Lá no segundo ato, o tom muda. De mockumentary (os documentários fictícios) voltamos para uma câmera mais convencional, oscilando com câmeras de segurança e de televisão para ajudar o clima de tensão. Nesse vai-e-vem de câmera, o filme perde a sua força. Por exemplo: logo no início, quando tem todo aquele clima documental, com Wikus visitando as casas dos alienígenas, a câmera flagra dentro da casa do alienígena Christopher falando com outro sobre um plano. O documentarista invadiu a casa do alienígena, agora? Claro que isso não é um erro crasso, mas vemos isso acontecer o tempo todo. O tom poderia ter mudado, mas de vez em quando aparece os depoimentos das pessoas do início, quebrando todo um ritmo que ele demora para resgatar.
Nessas oscilações, o filme vai perdendo a força, mas em compensação há uma das melhores cenas de ação já vistas nesses últimos anos, quando o Wikus-robô enfrenta os soldados da MNU, com direito a explosões, tiroteios, braços trucidados e tudo o que Michael Bay sempre coloca em seus filmes, mas a diferença é que em Distito 9 as cenas não são chatas e lentas. Já os efeitos visuais são um show a parte. Eu vou me arriscar a dizer que é um dos melhores desta última década, mas vou afirmar que são os melhores do ano, disparados. Os alienígenas e os humanos vivendo juntos é tão, mas tão real, que nem dá pra perceber que é efeito visual mesmo - também, com Peter Jackson na produção...
No elenco, destaco além dos ótimos depoimentos, Sharlto Copley, o Wikus. Ele não conseguiu ter a minha simpatia logo no início, foi só quando ele teve seu braço transformado que eu realmente comecei a gostar do cara. É um ator muito talentoso, nem parece que este é seu primeiro trabalho. Na seqüência de ação do Wikus-robô, ele alcança o seu potencial dramático de uma maneira orgânca característica que todo ator deveria ter. Fora ele, não há nenhuma outra atuação a ser destacada, todas comuns, sem exageros, apenas fazendo suas partes.
Contando com uma reviravolta muito boa - e até corajosa -, Distrito 9 tem tudo para ser a obra de ficção-científica do ano, além de ser um grande marco no gênero. É um ótimo exemplo também da crítica social que o filme nos remete, com o preconceito entre humanos e alienígenas, de como um trata o outro. Como filme, não é nenhuma obra-prima, mas como experiência cinematográfica, uma das melhores atulamente.
District 9, 2009
Direção: Neill Blomkamp. Roteiro Original: Neill Blomkamp e Terri Tachell. Elenco: Sharlito Copley, Jason Cope, Nathalie Boltt, Sylvaine Strike, Elizabeth Mkandawie, John Summer, William Allen Young, Greg Melvill-Smith, Nick Blake, Jed Brophy, Louis Minnaar, Vanessa Haywood, Marian Hooman, Vittorio Leonardi, Mandla Gaduka, Johan van Schoor, Stella Steenkamp, Tim Gordon e Hlengiwe Madlala.