quarta-feira, 21 de outubro de 2009

distrito 9



Eu pensei muito antes de falar algo sobre este filme. Não porque ele é ruim, mas eu demorei horas para refletir sobre o que eu tinha assistido, eu esperava muito dele, um erro que eu não costumo cometer - gosto de ir ao cinema sem ter expectativas. Mesmo depois de tantas críticas eufóricas, elogios em toda a parte, quando os créditos finais chegaram eu pensei "sim, é um filme muito bom", logo em seguida, continuei "mas tem alguns elementos que o comprometeram".

São esses elementos que poderiam ter sido evitados, já que Distrito 9 tem uma das ideias mais geniais de ficção-científica dos últimos tempos, como comprova o seu ótimo início. Lá no segundo ato, o tom muda. De mockumentary (os documentários fictícios) voltamos para uma câmera mais convencional, oscilando com câmeras de segurança e de televisão para ajudar o clima de tensão. Nesse vai-e-vem de câmera, o filme perde a sua força. Por exemplo: logo no início, quando tem todo aquele clima documental, com Wikus visitando as casas dos alienígenas, a câmera flagra dentro da casa do alienígena Christopher falando com outro sobre um plano. O documentarista invadiu a casa do alienígena, agora? Claro que isso não é um erro crasso, mas vemos isso acontecer o tempo todo. O tom poderia ter mudado, mas de vez em quando aparece os depoimentos das pessoas do início, quebrando todo um ritmo que ele demora para resgatar.

Nessas oscilações, o filme vai perdendo a força, mas em compensação há uma das melhores cenas de ação já vistas nesses últimos anos, quando o Wikus-robô enfrenta os soldados da MNU, com direito a explosões, tiroteios, braços trucidados e tudo o que Michael Bay sempre coloca em seus filmes, mas a diferença é que em Distito 9 as cenas não são chatas e lentas. Já os efeitos visuais são um show a parte. Eu vou me arriscar a dizer que é um dos melhores desta última década, mas vou afirmar que são os melhores do ano, disparados. Os alienígenas e os humanos vivendo juntos é tão, mas tão real, que nem dá pra perceber que é efeito visual mesmo - também, com Peter Jackson na produção...

No elenco, destaco além dos ótimos depoimentos, Sharlto Copley, o Wikus. Ele não conseguiu ter a minha simpatia logo no início, foi só quando ele teve seu braço transformado que eu realmente comecei a gostar do cara. É um ator muito talentoso, nem parece que este é seu primeiro trabalho. Na seqüência de ação do Wikus-robô, ele alcança o seu potencial dramático de uma maneira orgânca característica que todo ator deveria ter. Fora ele, não há nenhuma outra atuação a ser destacada, todas comuns, sem exageros, apenas fazendo suas partes.

Contando com uma reviravolta muito boa - e até corajosa -, Distrito 9 tem tudo para ser a obra de ficção-científica do ano, além de ser um grande marco no gênero. É um ótimo exemplo também da crítica social que o filme nos remete, com o preconceito entre humanos e alienígenas, de como um trata o outro. Como filme, não é nenhuma obra-prima, mas como experiência cinematográfica, uma das melhores atulamente.


Distrito 9
District 9, 2009
Direção: Neill Blomkamp. Roteiro Original: Neill Blomkamp e Terri Tachell. Elenco: Sharlito Copley, Jason Cope, Nathalie Boltt, Sylvaine Strike, Elizabeth Mkandawie, John Summer, William Allen Young, Greg Melvill-Smith, Nick Blake, Jed Brophy, Louis Minnaar, Vanessa Haywood, Marian Hooman, Vittorio Leonardi, Mandla Gaduka, Johan van Schoor, Stella Steenkamp, Tim Gordon e Hlengiwe Madlala.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

bastardos inglórios


Considerando a filmografia de Tarantino, pra mim apenas Jackie Brown não é lá grande coisa. De resto, o diretor sempre me surpreendeu trazendo obras marcantes e grandes homenagens ao cinema: seja por gângsters desconfiados, um lutador de boxe arriscando a vida por um relógio, uma mulher vingativa vencendo 88 caras com apenas uma espada, um dublê assassino e, agora, um bando de soldados raivosos prontos para matar nazistas. Seja qual for a mais louca história que ele possa criar, sempre são inventivas, com diálogos afiados e atuações marcantes, com cenas espetaculares e criativas. Pois bem, parando de puxar o saco do diretor, o fato é que Bastardos Inglórios é mais uma pérola de Tarantino

Para começar, eu não sei se é o projeto mais comercial dele, mesmo com o nome de Brad Pitt no elenco. Está tudo ali: violência explícita, sangue, muitos diálogos, takes longos, narrativa nãio-linear... Eu achei o trabalho como qualquer outro dele - e eu considero Kill Bill o seu projeto mais comercial, mesmo que seja um "ame ou odeie", como qualquer outro filme do Tarantino. O que fica em Bastardos Inglórios é a ousadia do diretor em tocar na espinha-dorsal do cinema, a 2ª Guerra Mundial. Tratar este tema com a ironia de seus filmes anteriores foi o toque de midas que o mundo precisava. O mundo já está cansado daquelas produções melancólicas e depressivas, em que termos que escolher os lados aos prantos, quem é o mau e quem é o bozinho... Niguém mai aguenta isso!

Em Bastardos Inglórios, Tarantino nos mostra o que sempre desejamos assistir e ninguém faz (por favor, não citem Operação Valquíria) que é matar tudo que é nazista, da maneira que eles fizeram com os judeus. À sangue e frio. É isso o que o espectador quer assistir há anos pra dar um basta nesse assunto, e é isso o que o ex-balconista de video-locadora nos mostra, sem dó nem piedade. Ele tem apenas um lado: o do espectador. E é o que assistimos durante mais de duas horas de projeção: nazistas sendo tratados como judeus, judeus sendo tratados como judeus e judeus sendo tratados como nazistas. Ou seja, todo mundo perde e ganha, mas como qualquer filme, nós escolhemos um lado.

O lado dos Bastardos. Eles são o que todos um dia já desejaram fazer ou pensaram "tinha é que matar esses nazistas tudo" ao assistir um dramalhão de 2ª Guerra Mundial. Pois bem, está feito. Comandados por Brad Pitt em uma atuação divertídissima, os Bastardos formam a sua própria guerra contra o exército de alemães. E eles não perdoam. Desde o assassinato com o bastão até as retiradas dos escalpos nazistas, eles são tão ou mais cruéis que os próprios inimigos, contando também com o talento gráfico do diretor.

Fora Brad Pitt, um que merece destaque é Christopher Waltz, excelente em cada momento. Desde as suas risadas fora de hora até a sua seriedade, o ator compões o coronel como um homem impresvísivel e instável, podendo acertar a sua cabeça com um tiro a qualquer momento da conversa. Diane Krueger foi a que mais me surpreendeu, trazendo uma atuação sólida - além da beleza, claro - mas só aqueles diáloos na taverna quando sua personagem é apresentada já é notável. Outros também merecem destaque, claro: Daniel Brühl, Eli Roth, Melànie Laurent...

A parte técnica é um atrativo à parte, desde a montagem do cienma até a belíssima fotografia - a montagem final, com o cinema e tudo o mais, é uma das melhores do ano. Tarantino recria um espetáculo visual inovador, ao som das melodias de Ennio Morricone, com referências que vão de John Wayne a Os Imperdoáveis. Bastardos Inglórios é uma obra que dificilmente vai sair da minha cabeça. Não importa qual seja o elogio que eu possa dar, é feito por quem ama cinema para quem ama cinema.

Bastardos Inglórios
Inglorious Basterds, 2009
Direção e Roteiro Original: Quentin Tarantino. Elenco: Brad Pitt, Christoph Waltz, Melánie Laurent, Diane Krueger, Eli Roth, Michael Fassbender, Daniel Brühl, Til Schweiger, Gedeon Burkhard, Jacky Ido, B.J. Novak, Omar Doom, August Diehl, Denis Menochet, Sylvester Groth, Martin Wuttke, Mike Myers, Julie Dreyfus, Richard Sammel, Rod Taylor, Léa Seydoux, Tina Rodriguez, Lena Friedrich, Maggie Cheung, Cloris Leachmsn, Samm Levine e voz de Samuel L. Jackson.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

preenchendo buraco



Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes

Sempre que eu assisto a um filme, a primeira coisa que eu noto, antes de qualquer outro quesito, é o roteiro. Os famosos "filmes inteligentes" não são aqueles em que há alguma reviravolta surpresa ou algo do tipo, mas sim aqueles em que as histórias são mais originais de tudo o que não vimos antes - isso é, sobretudo, o ideal para o bom cinema. Portanto, assistir a Aquele Querido Mês de Agosto, ver o diretor Miguel Gomes brincar com a metalinguagem da maneira com a qual ele fez, não só fez o filme ser considerado um dos melhores deste ano, mas como é o filme mais original e mais genial desta primeira década dos anos 2000. É um filme dentro do filme, uma mistura bem bolada de documentário com a ficção - na primeira parte, conhecemos os habitantes de uma cidadesinha em Portugal; na segunda, uma história com base nos relatos dos habitantes, coletados pelo diretor Miguel Gomes e sua equipe. Embalado por canções muito boas - algumas desnecessárias em determinados momentos, mas é relevante -, Aquele Querido Mês de Agosto deve ser visto e revisto várias vezes, somente para aumentar ainda mais a experiência de assisti-lo.

 
Um Louco Apaixonado, de Robert B. Weide

Pensei logo antes de assistir Um Louco Apaixonado: "deve ser um filme até divertidinho". Este comentário baseava-se na presença de Simon Pegg, um ator que me fez rir em Todo Mundo Quase Morto, Chumbo Grosso e, mais recentemente, em Star Trek. Eu estava enganado. Nem ele consegue salvar este filme de seu roteiro bobo e clichê, contando com uma linda, mas péssima, Megan Fox (se bem que isso não é nenhuma novidade...), uma perdida Kirsten Dunst e um carismático Danny Houston. Tirando isso, situações bobas, piadas sem-graça e personagens totalmente desnecessários, tornam Um Louco Apaixonado em mais uma comédia que deveria ter ficado na gaveta.


Passageiros, de Rodrigo García

O longa dirigido por Rodrigo García - responsável pela excelente série In Treatment - decepcionou em todos os quesitos possíveis. Não sei se foi sua tentativa "Shyalamaniana" de dirigir ou simplesmente por se perder já logo no início, mas quase nada se salva daqui. A tal reviravolta final, que era para nos causar aquele choque e tudo o mais, causa uma leve indiferença, nossas bocas não se mexem, nem nossos olhos, mas nossos pensamentos são praticamente os mesmos: "ainda bem que acabou!".

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

deixa ela entrar


Deixa Ela Entrar é mais um drama sobre vampiros, no momento em que o assunto está cada vez mais crescente em filmes, televisão e livrarias. Apesar de ser mais um entre vários, a produção sueca se destaca dentre as outras por apresentar uma história simplesmente arrebatadora, apresentando um romance que Crepúsculo quis ser e não conseguiu - carismático e corajoso.

A história, à primeira vista, é típica: Oskar é um garoto de 12 anos é perseguido na escola, sendo alvo de piadinhas e risadas, conhece a sua vizinha, Eli, que lhe dá atenção e se apaixona. Tudo muito comum, se Eli não fosse uma vampira e matasse pessoas para se alimentar de sangue, sendo constantemente perseguida pelas pessoas - motivo que a faz mudar de casa quase sempre. Ambos se apaixonam, e ao decorrer do filme, vemos os dois com a isegurança, a emoção e as dúvidas de duas crianças comuns - ou quase comuns.

Os dois garotos, interpretados com força pelos jovens Kåre Hedebrant e Lina Leandersson - respectivamente, Oskar e Eli - por mais deslocados que estejam na sociedade, acabam nos conquistando em cada cena. Sem maquineísmo, o diretor Tomas Alfredson não poupa as crianças, nem pretende conquistar o espectador. Eli é uma pequena assassina, que mata sem pudor as pessoas para se alimentar; enquanto Oskar não hesita em atacar um de seus perseguidores com um bastão, deixando-o surdo de um lado.

Em boa parte do filme vemos Eli com a boca ensanguentada, podemos vê-la se alimentando e a câmera quase sempre estática só ajuda ainda mais a experiência. Tomas Alfredson não quer deixar o longa com um ritmo mais acelerado, a câmera é sempre movimentada com leveza, dando até um certo tom poético a Deixa Ela Entrar. Destaque para o maravilhoso plano-sequencia da pisicina, uma das cenas mais bem realizadas neste ano.

Deixa Ela Entrar é uma grata surpresa, misturando com delicadeza um dos temas mais discutidos hoje em dia. Uma pequena pérola, com seu próprio ritmo, um filme que dá espaço para construir uma relação cuidadosamente, sem pressa. Porque afinal de contas, Deixa Ela Entrar não é apenas um belo exemplar do gênero fantástico, mas uma bela história de amor. São apenas duas crianças descobrindo como é amar pela primeira vez. Puro, ingênuo e feliz.


Deixa Ela Entrar
Låt den rätte komma in, 2008
Direção: Tomas Alfredson. Roteiro Adaptado:
John Ajvide Lindqvist. Elenco: Kåre Hedebrant, Lina Leandersson, Per Hagnar, Henrik Dahl, Karin Bergquist, Peter Carlberg, Ika Nord, Mikael Rahm, Karl-Robert Lindgren, Anders T. Peedu, Pale Olofsson, Cayetano Ruiz, Patrik Rydmark, Johan Sömnes e Mikael Erhardsson.