quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

o leitor: humanizar para chocar

O Leitor é um filme que tem dois lados. E se Stephen Daldry não tivesse escolhido um, talvez nada funcionasse por aqui. O Holocausto é um tema difícil de lidar, há dois lados: o vilão nazista e o nazista falho; mas Daldry acaba optando pelo segundo de uma maneira diferente, ele não tenta humanizar as coisas que Hannah fez. Muito pelo contrário. Hannah fez e não há mais nada que possa perdoar tal ato.

Não interessa para ele se ela é má ou não; o que interessa são os motivos pelos quais a guiou em um mundo podre, governado por homens maus e de vergonha. Ela é o centro de toda a história. A mera paixão pelo garoto é boba e secundária. Nem precisava disso - poderia ter sido melhor desenvolvido. Se fosse um filme de julgamento, e aos poucos fosse mostrando em flashbacks sua vida, talvez tivesse sido mais convincente. Essa idéia de tornar o que seria um ótimo drama em um romance foi banal, principalmente pelo jovem ator David Kross, muito fraco por sinal.

Ralph Fiennes pouco tem a fazer com o seu personagem, já que é prejudicado pelo roteiro. Em contrapartida, se tivesse sido interpretada por uma atriz diferente, talvez Hannah não preocupasse tanto o espectador como faz Kate Winslet. Não é o melhor trabalho da atriz, que conseguiu o Oscar mais pelo ótimo conjunto da obra do que por essa atuação, mas é o suficiente para transformar a melhor personagem do longa em uma mulher ingênua e solitária, marcada pelas atrocidades que cometeu em seu passado. Winslet é uma atriz que tem talento e é ousada. Ela não se importa em fazer cenas de nudez ou de sexo, necessários para construir sua personagem ainda mais - afinal, ela só consegue se comunicar com o garoto através do sexo.

O Leitor não é um filme ótimo; é apenas bom, na média. O seu terceiro ato deixa a desejar, e muito. Mas não deixa o longa um pouco menos interessante, afinal, é bom variar um pouco.

O Leitor
The Reader, 2008
Direção: Stephen Daldry. Roteiro Adaptado: David Hare. Elenco: Ralph Fiennes, David Kross e Kate Winslet.


Regras:

- Exibir a imagem do selo e escrever as regras..
- Colocar quem te deu o selo nos seus blogs indicados(amigos)..
- Escrever 5 coisas que são ROXIE (1- sobre música, 2- televisão e cinema, 3- três países que sonha em conhecer, 4- três cores favoritas, 5- três hobbies)..
- Indicar 10 blogs..
- Avise a pessoa que você indicou..

Música: Rolling Stones, Bob Dylan, "Sweet Child O'Mine", Trilhas instrumentais de filmes e músicas dos anos 80.
Televisão: Lost, Dexter, Friends, Os Simpsons e How I Met Your Mother.
Cinema: Impossível responder. Mas em ua das 5 entraria Alfred Hithcock. E acho que o Cinema mudo também. Todo ele.
Trê países que eu sonho em conhecer: EUA (dãã!), Grécia e Inglaterra (Monty Python!)
Três cores favoritas: Não sei!
Três Hobbies: Ver filme no cinema, comprar DVD e falar sobre qualquer coisa relacionada a filme.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

o lutador: carneiro indomável

"Queria dizer a todos aqui essa noite que estou muito agradecido por estar aqui. Muitas pessoas disseram que eu nunca lutaria de novo, e é tudo o que faço. Sabem, quando se vive uma vida dura e um jogo duro e queima sua vela dos dois lados paga-se o preço por isso. Nessa vida pode se perder tudo o que ama, e todos que te amam. Eu não ouço tão bem quanto antes e esqueço coisas. E não sou mais bonito quanto era, mas maldição, continuo aqui, sou Ram! O tempo passa e falam: Ele devia parar, está acabado, é um perdedor, um desacreditado. Sabem, os únicos que me dirão quando encerrar minha ação, são vocês aqui."

O monólogo acima é dito pelo personagem de Mickey Rourke, Ram, em determinado momento do filme. Não é apenas a descrição perfeita para Ram, mas também para o seu intérprete. A carreira de Rourke deslanchou na década de 80, mas ele decidiu se dedicar por algum tempo ao boxe, virou vítima constante de tablóides e passou por dezenas de cirurgias - além de seu envolvimento com drogas. A sua carreira afundou. Começou a viver pelas glórias passadas - afinal de contas, era descrito como um galã em ascenção, no seu tempo. Talvez por esse triste fato que O Lutador funcione tão bem.

Não é um filme comum. Não é Rocky, Um Lutador. Muito pelo contrário. Ram se aproxima muito mais do Jake La Motta de Robert De Niro em Touro Indomável do que o personagem vivido por Stallone. E esse é o maior acerto do filme, pois Ram é um personagem triste, agressivo quando precisa e sensível a seu próprio modo. O seu passado dita as suas ações, tomado por esse sentimento de perda. Perda de que? Da família? Da fama mundial? Essas perguntas podem não ser respondidas corretamente, mas isso não importa. Aos poucos, vamos entendendo seu personagem. E é mérito da performance arrebatadora de Rourke. Nunca sabemos quem o ator está interpretendo: se é Ram ou ele mesmo. A assustadora realidade é tão próxima que nunca nos demos conta de quem é mesmo a história que vemos na tela.

O estudo do personagem de Rourke não pode ser feito se não tivesse a sua própria Adrien. - infinitamente mais interessante e construída. No caso, interpretada por Marisa Tomei. Tal como o lutador, a stripper Pam também começa a perceber o peso da idade, principalmente ao ser comparada com a mãe de um dos clientes. A química entre ambos é fundamental para o filme, tanto para o desenvolvimento dos dois personagens quanto para a complexidade que ele evoca. Ora, se vemos em uma determinada cena Ram observando os seus velhos companheiros de autógrafos se apoiando em seu passado, sem mais nenhum futuro na vida, na seguinte Pam percebe que seu trabalho não é mais para ela em uma simples volta ao clube. E a excelente atuação de Marisa Tomei contribui ainda mais para isso: basta perceber os seus olhares para as outras strippers ou apenas a sua última dança no palco.

Entretando, algo muito importante para este estudo é a própria filha de Ram: Stephanie. Apesar de não participar efetivamente no longa, ela aparece somente nas cenas próprias. E Evan Rachel Wood faz o seu melhor nessas poucas cenas, fugindo de qualquer clichê de relação complicada entre pai e filho, graças ao seu talento. Ao invés de se comportar apenas como uma garota rebelde e que escapa de todas as tentativas de ser conquistada por seu pai, Evan Rachel Wood mostra Stephanie como uma garota magoada, triste, e se antes a sua raiva pelo seu pai vai diminuindo cada vez mais, ela é capaz de estourar com o medo do lutador a abandonar novamente. Já que mencionei a relação com o pai, vale lembrar que mais uma vez a química que Rourke tem com mais essa personagem feminina é essencial.

E por fim, o diretor Darren Aronofsky completa o estudo com a sua impecável direção. Se em seus outros trabalhos ele já havia mostrado a sua coragem e facilidade para desafios (Pi, Requiém Para um Sonho e Fonte da Vida), aqui ele mostra todo o talento que tem ao realizar não só mais um filme sobre lutadores, mas uma pequena obra-prima. Uma obra complexa. Mistura de superação, amor, redenção e vitória. E cada um dos páragrafos acima enfatizam cada um desses temas, respectivamente. Vitória do diretor Aronofsky por ter o mérito de fazer um brilhante filme com tão pouco orçamento.

A cena final, em que Ram entra no ringue ao som de "Sweet Child O'Mine", de Guns's Roses, é antológica. Toda a cena final, impactante. E Mickey Rourke tem todos os créditos disso. Se era o que ele precisava para redimir a sua carreira, ele conseguiu. Ele é o verdadeiro lutador, afinal.

O Lutador
The Wrestler, 2008
Direção: Darren Aronofsky. Roteiro Original: Robert D. Siegel. Elenco: Mickey Rourke, Marisa Tomei e Evan Rachel Wood.


P.S.: O filme não tem um final cheio de respostas, portanto não espere assistir a um longa bonitinho, encantador e com um final todo certinho. Ele é um filme denso, profundo e bastante complexo. É um daqueles que tem que entrar no psicológico dele pra entender bem.

P.S.²: Não posso deixar de comentar a injustiça de não ter sido indicado ao Oscar de Filme. Bom, ainda vou ver todos os candidatos e falarei aqui. Mas já adianto: é melhor que Benjamin Button - e eu gostei bastante do filme de Fincher.



terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

filmes favoritos #2

Explicando: a animação não recebeu 5 estrelas, por eu não achar ela excelente ou uma obra-prima. Acho o filme ótimo, muito bom mesmo, portanto 4 estrelas. Mas não significa que ele não seja um dos meus favoritos.

Procurando Nemo

À primeira vista, contar uma história no fundo do mar parece coisa de A Pequena Sereia. Porém, a Pixar tinha outra planos. O oceano não precisava ser real, mas o mais próximo disso possível; os peixes também não precisavam ser iguais aos reais, mas tinham que ser convincentes; e, por último, a história tinha que ser original. Talvez um road movie, com os personagens viajando através dos cenários mais profundos do oceano e, para completar, tornar os personagens inesquecíveis para o público, como aqueles vistos em Toy Story, Vida de Inseto e Monstros S.A. Somando todos os elementos, o roteiro estava pronto: Procurando Nemo saía do papel e invadia os cinemas, conquistando o espaço de um dos filmes mais assistidos de 2003 e arrancando mais risadas do que qualquer outra comédia no ano.

Em um ano que tinha Demolidor, X-Men 2, a última parte da trilogia O Senhor dos Anéis, o terceiro American Pie, Procurando Nemo venceu todasas barreiras de uma animação e iniciou uma era de ouro para a Pixar. São tantos os personagens que contribuíram para isso: Marlin, Dori, Bruce, Crush, Nigel, a turma do aquário, que chega a ser injusto destacar um em especial. Porém, Dori rouba praticamente todas as cenas em que aparece, e com razão. A peixinha desmemoriada além de ser o verdadeiro contra-ponto do protagonista, é uma das personagens mais divertidas dos últimos tempos no cinema. Como não se lembrar da fala: "Não tem mais espaço no oceano para nadar? Quer cair dentro, quer?" ou "Nemo? (surpresa) Que nome legal" - já no último instante do longa. E quando ela encontra os tubarões vegetarianos: "Eu acho que eu nunca comi um peixe".

São tantas as frases marcantes. E por falar em tubarões vegetarianos, como esquecer de Bruce e companhia? E o seu amigo tentando explicar a razão pela qual Bruce estava perseguindo os peixes: "Dê um desconto para ele, ele nunca conheceu o pai". São personagens brilhantes e originais que Marlin e Dori conhecem em sua aventura, como o Crush: "Irmãããão". Porém, o principal protagonista do filme é mesmo o fundo do mar.

Cada sombra, as cores, cada capricho que a Pixar teve ao realizar este ótimo filme é mais uma prova da maestria com que o estúdio realiza seus longas. Diferente de projetos como o primeiro Madagascar - que é apenas bom -, Selvagem, O Galinho Chicken Little ou até mesmo o bom Deu a Louca na Chapeuzinho - sem mencionar aqueles outros longas de animação computadorizado mal-acabados como Putz! A Coisa tá Feia - a Pixar já tem a mão para fazer animação. Em vez de fazer dois, três, quatro filmes por ano, eles se concentram em entregar em mãos apenas 1 a cada ano que passa. Não tem muitos filmes, mas vamos contabilizar: Toy Story em 1995, Vida de Inseto em 1998, Toy Story 2 em 1999, Monstros S.A. em 2001, Nemo em 2003, Os Incríveis em 2004, Carros em 2006, Ratatouille em 2007 e Wall-E em 2008. Responda em 10 segundos: algum deles é ruim?

Procurando Nemo não só é mais uma prova da competência e a paixão que o estúdio tem pelo Cinema, como também é a prova de que é possível fazer uma animação tanto para adultos, quanto para as crianças. E é o ponto de partida para os verdadeiros anos dourados da Pixar Animation Studios.

- Venceu o Oscar de Melhor Filme de Animação, além de ter sido indicado em outras três: Roteiro Original, Trilha Sonora e Edição de Som.

- Abaixo, o vídeo de Dori falando Baleiês - uma das cenas mais engraçadas do longa:



Procurando Nemo
Finding Nemo, 2003
Direção: Andrew Stanton. Roteiro: Andrew Stanton. Vozes: Eric Bana, Albert Brooks, Willem Dafoe, Ellen DeGeneres, Geoffrey Rush e Andrew Stanton.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

meus filmes favoritos #1

Estou de volta depois de um bom período sem postagens. Tem visual novo e uma série nova aqui no Cinemania. Falarei dos meus filmes favoritos - ao contrário do filmes importantes, que tem a ver com a minha vida, mesclando filmes bons, ruins ou péssimos. O primeiro a ser falado é um que, curiosamente, também está na minha lista de filmes importantes - em outra postagem falarei mais sobre o seu significado em minha vida.

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças

"Feliz é o destino da inocente vestal. Esquecendo o mundo e por ele sendo esquecido. Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Toda a prece é ouvida, toda a graça é alcançada."

A trama se desenrola de uma maneira confusa, ás vezes parece não levar a lugar algum, mas aos poucos Charlie Kaufman vai nos mostrando a sua ambição de nos contar uma história completamente diferente de todas as outras do gênero. É como se a sua obra fosse a definitiva deste estilo. Ele mastiga os clichês do gênero, misturando tudo e acaba nos entregando um verdadeiro novo clássico deste Cinema moderno.

Apoiado pela criativa direção de Michel Gondry, Brilho Eterno conta com ótimos efeitos visuais - destaque para os efeitos de Jim Carrey pequeno, que se apoiou no ilusionismo para dar tal forma e não nos computadores. Todos os efeitos acrescentam algo novo para a trama, não sendo colocados ali em vão. Inclusive, Gondry conduz de uma forma fantástica ao incorporar as lembranças de Joel de uma forma natural, com uma estrutura ousada, porém corajosa.

Aliás, a estrutura do longa é arrebatadora. Desde a sua cena inicial até o seus créditos iniciais - o intervalo de tempo é de 20 minutos - o domínio que a dupla Gondry-Kaufman tem com a linguagem cinematográfica é exemplar. A montagem, o elemento necessário para fundir as lembranças com a vida real, para parecer confuso e ao mesmo tempo não parecer, é exemplar. Uma montagem tão brilhante que dá inveja a muito filme vencedor de Oscar por aí - alguém falou Crash - No Limite?

Se a parte técnica está maravilhosa, o mesmom pode-se dizer da parte artística do longa. Jim Carrey é Joel e Joel é Jim Carrey. Não haveria outro ator que encarnasse o pacato Joel de uma maneira tão natural sem ser superficial. Contamos ainda mais com a bela química com Kate Winslet. Ela, por sinal, rouba todas as cenas em que aparece, dando um verdadeiro show de interpretação. Mostrando que é uma das melhores atrizes dessa geração, ela se entrega a Clementine de corpo e alma, coisa que nenhuma outra atriz seria capaz de fazer tão bem - um papel novo para Kate, que antes de Brilho Eterno tinha sua fama pelos seus pepéis em filmes de época.
A dupla ainda conta com um elenco coadjuvante de peso: Tom Wilkinson, sempre um ótimo ator; Mark Ruffalo, ainda na sua fase de crescimento profissional; Elijah Wood, em um papel não muito importante, mas essencial para a história; e, claro, Kirsten Dunt. A melhor dos coadjuvantes. Arrisco a dizer que é o melhor papel da vida dela. A expressão dela, seja de tristeza ou de felicidade, em cada momento é bem calculado. Além do mais, consegue criar uma boa química com cada um dos outros personagens.

O maior problema de falar de meus filmes favoritos é justamente este: eu puxo muito o saco deles. Mas este aqui merece. Apesar de não ser considerado um dos melhores desta primeira década por muitos, é um dos meus filmes favoritos, tanto desta época quanto de todos os tempos. Kaufman vai demorar muito para superar o roteiro deste aqui e Gondry, a sua criatividade.

Vencedor do Oscar de Roteiro Original. Indicado em Melhor Atriz (Kate Winslet).

- Em um ano em que tinha Ray e Em Busca da Terra do Nunca - gosto muito do filme, mas prefiro Brilho Eterno - em várias categorias, o esquecimento de Brilho Eterno foi imperdoável.

- Abaixo, uma das minhas cenas preferidas do filme.



Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças
Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004
Direção: Michel Gondry. Roteiro Original: Charlie Kaufman. Elenco: Jim Carrey, Kate Winslet, Elijah Wood, Mark Ruffalo, Kirsten Dunt e Tom Wilkinson.